Proibido no Brasil, Forex permite ganhos (ou perdas) altíssimas; conheça

A plataforma permite a compra de pares de moedas, apostando na valorização ou desvalorização de uma sobre a outra

Diego Lazzaris Borges

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SÃO PAULO – Mercado de risco muito elevado, proibido no Brasil, que movimenta cerca de US$ 4 trilhões por dia, o Forex (abreviação de Foreign Exchange) atrai investidores no país com promessas de ganhos acentuados – mas também esconde riscos da mesma magnitude. A plataforma permite a compra de pares de moedas, apostando na valorização ou desvalorização de uma sobre a outra. Para ficar mais claro: se um investidor acredita que o euro deve se valorizar em relação ao dólar, ele pode comprar um contrato de euro/dólar americano (USD) por um preço com a expectativa de vendê-lo por uma cotação maior no futuro.

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A operação não é muito diferente das negociações de dólar futuro na BM&FBovespa, por exemplo. A diferença é que há a opção de negociar uma variedade maior de moedas. O investidor também pode montar um par de uma moeda estrangeira contra outra moeda estrangeira. O Forex permite ainda uma alta alavancagem. Com pouco dinheiro, é possível operar com margens altíssimas em algumas corretoras internacionais que oferecem o investimento. “Para comprar um lote de EUR/USD na Bolsa nos EUA, é preciso US$ 100 mil. Mas você pode ter esse mesmo contrato com US$ 1 mil, operando com uma alavancagem de cem para um,”, afirma um participante do mercado de Forex no Brasil, que pediu anonimato.

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A variação, em muitos casos, é pequena e se dá na quarta ou na quinta casa decimal – imperceptível para quem olha a cotação da moeda com objetivo de fazer câmbio para turismo, por exemplo. Para quem faz negócios com lotes de US$ 100 mil, no entanto, essa pequena oscilação tem grande relevância. Mas é preciso lembrar que, se os ganhos podem ser altíssimos, os prejuízos também. “Uma perda de 1% em US$ 100 mil pode significar uma perda de 100% da margem efetivamente depositada, se esta também for de 1%”, lembra a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), por meio de um documento de “alerta” aos investidores divulgado em sua página na internet. Trocando em miúdos: se você investir US$ 1 mil com uma alavancagem de cem vezes (comprando um contrato de US$ 100 mil) e o preço do contrato cair 1%, você perde tudo. Já se a cotação subir 1%, você vai ver seu investimento inicial dobrar.

Por isso, o profissional ouvido pelo InfoMoney ressalta que o investidor que opera com Forex deve ter disciplina e saber o que está fazendo. “Uma conta saudável é uma conta com stops [ordens automáticas de venda] ativados [de forma a limitar eventuais perdas] e estudos técnicos eficientes para entrar no momento certo”, diz.

A maior parte das transações é efetuada no curto prazo, o que faz com que a análise gráfica seja a preferida entre os investidores. “As plataformas privilegiam esse tipo de análise e oferecem ferramentas para quem opera”, afirma o educador financeiro André Massaro. Os investidores também ficam de olhos atentos às informações macroeconômicas que possam mexer com a cotação das moedas. Dados de emprego, crescimento econômico e pronunciamentos em diversos países são esperados com atenção. Um número acima ou abaixo das expectativas pode ser suficiente para provocar mudanças nos preços. “O longo prazo praticamente não existe. Como o mercado funciona 24 horas, ‘dormir’ com uma posição no Forex pode ser muito arriscado”, afirma Massaro.

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Forex no Brasil
Além do risco por conta da volatilidade do mercado, o investidor deve lembrar que as corretoras brasileiras não são autorizadas a intermediar operações de Forex. Mesmo assim, a CVM ressalta que existem instituições que atuam como uma espécie de “agente local” de corretoras instaladas em países onde o Forex é legalizado, captando clientes e recursos para viabilizar aplicações no exterior. “Isso é ilegal”, alerta a autarquia.

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A entidade lembra que operar com instituições sem registro é muito arriscado. “O investidor pode ser vítima de uma fraude. Sem que haja o registro na CVM, não há qualquer garantia de que o ‘corretor’ ou a ‘empresa’ realmente exista ou que tenha a identidade que afirma ter. Isso facilita a ação de pessoas inescrupulosas”, diz o órgão.

Além disso, se houver eventuais problemas, fica muito mais difícil para o órgão regulador localizar os autores e identificar o prejuízo causado. “Em muitos casos, os ofertantes estão no exterior ou utilizam sites hospedados em servidores localizados em outros países. Caso houvesse o registro da instituição financeira, essas instituições teriam, pelo menos, representantes no país, além de seguirem a lei brasileira”, afirma a CVM.

De acordo com a entidade, entre 2005 e 2008, foram abertos 104 processos administrativos sobre Forex. As ofertas são acompanhadas de promessas de rentabilidade impressionante, de até 60% ao mês. No entanto, as empresas que oferecem Forex no Brasil não estão formalizadas pelas leis brasileiras. Atuam como corretoras, mas na informalidade. “Em um dos casos identificados pela CVM, a ‘empresa’, cujo site dava a impressão de ser uma corretora de Nova York, era, na verdade, uma pessoa operando de um notebook a partir de uma residência em uma cidade do interior fluminense”, alerta a autarquia.

A CVM ressalta ainda que, na maioria das vezes, o investidor não faz aplicações diretamente em Forex, mas sim por meio da empresa que oferece o investimento – sempre atraído pela promessa de rentabilidade. “O retorno de sua aplicação depende totalmente do que lhe foi prometido pela ‘empresa’, podendo não ter relação com o real retorno das operações efetivamente realizadas”, alerta a CVM.

E se eu quiser investir?
O investidor que quiser participar do Forex pode operar por meio de corretoras internacionais, desde que abra uma conta “offshore” (fora do território nacional). “O brasileiro pode procurar uma corretora fora do país e fazer o investimento”, afirma o profissional ouvido pela InfoMoney. “Normalmente, essa conta é aberta em um país altamente regulado, que garante ao cliente, em caso de falência da empresa, o ressarcimento de até US$ 80 mil por conta, por meio do FCSC [Financial Services Compensation Scheme, uma espécie de fundo garantidor para investidores britânicos]”, explica. A própria CVM ressalta que não há ilegalidade em um brasileiro realizar um investimento em Forex no exterior, desde que as transações sejam efetuadas por meio de instituições reguladas e que sejam aplicadas as normas vigentes.

No entanto, as características desse mercado (especialmente a facilidade de operar alavancado) mostram que o Forex é um investimento “tarja preta”, recomendado para poucos. “É um negócio totalmente contraindicado para o investidor iniciante”, alerta Massaro.

O professor Carlos Honorato, da FIA, também diz que o mercado de Forex deve ser visto com muita cautela. “A grande dificuldade é que você precisa entrar e sair na hora certa, como qualquer outro investimento de alto risco. Mas se você gosta de especulação, esse pode ser um excelente caminho”, diz.

Essa matéria foi publicada na edição 44 da revista InfoMoney, referente ao bimestre maio/junho de 2013. Para tornar-se um assinante da revista, clique aqui.

Diego Lazzaris Borges

Coordenador de conteúdo educacional do InfoMoney, ganhou 3 vezes o prêmio de jornalismo da Abecip