6 ações baratas que pagam dividendos acima da Selic de 13,75% ao ano; elas valem a pena?

Setor elétrico e agronegócio se destacam entre os preferidos do mercado

Katherine Rivas

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Pelo quarto encontro consecutivo, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou por não mexer na taxa básica de juros. A Selic estacionou em 13,75% ao ano e deve permanecer nesse patamar ainda por algum tempo.

Diante desse cenário, apenas dez ações negociadas na B3 apresentam um retorno em dividendos (dividend yield) superior à taxa básica de juros, segundo dados da plataforma TradeMap. Mas quando se trata de preços convidativos, apenas seis delas podem ser consideradas baratas, revela levantamento de Sergio Biz, analista e sócio do GuiaInvest, para o InfoMoney.

Considerando que as empresas que pagam dividendos acima da Selic são lucrativas e apresentam rentabilidade elevada, Biz optou por usar os múltiplos EV/Ebitda e P/L para identificar as que ainda estão descontadas.

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O EV/Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) compara o valor de cada companhia com a sua geração de caixa operacional. “É uma forma de avaliar o negócio principal de cada uma delas, deixando de lado o resultado financeiro e impostos”, explica Biz. Segundo ele, quanto menor é o múltiplo, mais barata a empresa é considerada, pois isso sinaliza que seus resultados crescem mais do que as cotações.

No estudo, foi considerado o EV/Ebitda projetado pelo analista para 2023 versus a média histórica do mesmo múltiplo nos últimos cinco anos. Quando o projetado é inferior à média histórica significa que a companhia está barata.

Biz também avaliou o múltiplo P/L (preço sobre lucro), que compara as cotações das ações com o lucro líquido gerado pela empresa, tanto projetado para 2023 quanto o médio dos últimos cinco anos. O levantamento apresenta ainda o dividend yield das ações nos últimos 12 meses e o projetado para os próximos 12, utilizando dados da plataforma TradeMap. Foram consideradas as ações que integram o Ibovespa e algumas small caps com volume médio diário de negociação na B3 superior a R$ 1 milhão nos últimos 12 meses.

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Confira as ações com dividend yield acima do patamar atual da Selic, de 13,75% ao ano:

Ação Dividend yield nos últimos 12 meses Dividend yield projetado para os próximos 12 meses  EV/Ebitda médio dos últimos 5 anos
EV/Ebitda projetado para 2023 P/L médio dos últimos 5 anos
P/L projetado para 2023 Situação
Petrobras (PETR4) 50,72% 65,11% 4,15 2,10 15,70 2,70 Barato
Petrobras  (PETR3) 46,10% 57,96% 4,15 2,10 15,70 2,70 Barato
Brasilagro  (AGRO3) 18,06% 17,92% 4,49 5,00 6,27 8,70 Caro
Taesa (TAEE11) 16,46% 17,10% 9,44 10,02 7,10 11,07 Caro
Taesa (TAEE4) 16,39% 17,05%  9,44 10,02 7,10  11,07 Caro
Taesa (TAEE3) 16,30% 17,11%  9,44 10,02 7,10  11,07 Caro
Gerdau (GGBR3) 15,77% 13,62% 5,52 2,40 12,75 5,60 Barato
Unipar (UNIP6) 15,21% 16,31% 3,80 2,80 9,33 5,00 Barato
Kepler Weber (KEPL3) 14,91% 8,67% 6,40 4,20 19,04 6,50 Barato
Unipar (UNIP3) 14,31% 15,97% 3,80 2,80 9,33 5,00 Barato

Fonte: GuiaInvest e TradeMap. Obs: O levantamento considera o preço dos ativos no fechamento de 01/02/23. O dividend yield projetado é válido desde que a empresa tenha lucro igual ou maior ao dos últimos 12 meses e mantenha a mesma política de distribuição de dividendos e JCP dos últimos 12 meses. 

Biz faz a ressalva de que a análise de múltiplos é quantitativa e para escolher comprar ou não uma ação é preciso também considerar aspectos como o cenário macroeconômico, os fundamentos da empresa, a governança, o segmento de negócios, entre outros.

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Olhar setorial

Na lista das ações que pagam dividendos acima da Selic, é possível encontrar empresas de commodities (petróleo, agronegócio e produtos químicos), equipamento industrial, siderúrgicas e energia elétrica.

Biz avalia que as empresas de energia elétrica devem manter os proventos atrativos em 2023, por conta da sua previsibilidade na geração de receita. Já para as empresas de commodities, a visão é menos positiva. A Petrobras, por exemplo, pode reduzir as distribuições, a depender de como evolua sua política de preços para os combustíveis, destaca Biz.

“Ainda não sabemos se a política de dividendos da estatal será ou não alterada”, reforça.  O preço do petróleo no mercado internacional também não deve ajudar, afetando a geração de caixa da empresa e o pagamento de proventos.

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No agronegócio, a expectativa ainda é de bons resultados em 2023. Biz se mostra otimista com as próximas safras de grãos, que devem se traduzir em dividendos interessantes para as empresas do setor.

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As ações preferidas dos analistas: Taesa (TAEE11), Kepler Weber (KEPL3) e BrasilAgro (AGRO3)

Entre as ações da lista, Biz tem duas favoritas: Taesa (TAEE11) e Kepler Weber (KEPL3).

Embora seus preços estejam subindo, a transmissora Taesa ainda é uma das ações mais recomendadas para estratégias de dividendos em 2023. Biz projeta um dividend yield entre 9% e 10% neste ano para a empresa.

O analista afirma que o investidor pode esperar uma continuidade das operações de transmissão atuais e a procura da companhia por novas. “Vimos a Taesa atuando de forma ativa nos últimos leilões de transmissão para compensar a perda de Receita Anual Permitida (RAP), prevista a partir de 2030, quando algumas das atuais concessões devem vencer”, comenta.

Segundo Biz, a Taesa possui um excelente histórico de alocação de capital e conta com uma política clara de remuneração aos acionistas, com payout (parcela do lucro líquido destinada a proventos) elevado.  A política de dividendos da Taesa prevê a distribuição de pelo menos 50% do lucro líquido ajustado aos acionistas – mas desde 2009 esse patamar é superado, com distribuições de 71% a 95% do lucro.

Embora a ação da Taesa esteja cotada acima do preço-teto recomendado por Biz para compra, de R$ 35, ele destaca que o múltiplo EV/Ebitda projetado está muito próximo da média dos últimos cinco anos. “Aceito pagar um pouco a mais por uma empresa de qualidade. Mas o ideal seria o investidor esperar por cotações que deem uma margem de segurança”, aponta.

A Taesa também faz parte carteira de dividendos da VG Research, que espera um dividend yield de 9,5% em 2023. Luan Alves, head de equity da VG, define a companhia como uma espécie de “título público” da Bolsa, por ter um modelo de negócios resiliente e de baixo risco. “Os contratos das linhas de transmissão são de longo prazo e reajustados pela inflação anualmente”.

Daniel Nigri, fundador e analista da Dica de Hoje Research, também gosta da companhia. Ele acredita que a rentabilidade da Taesa deve ficar em torno de IPCA mais 10% nos próximos anos. “No ciclo 2022/2023, 65% da receita anual permitida é reajustada pelo IGP-M e 35% pelo IPCA”, diz. Por isso, reajustes acima da inflação estão garantidos por pelo menos sete anos.

O analista destaca investimentos da Taesa que entraram em operação entre 2021 e 2022, e outros em construção que irão adicionar ainda mais receita nos próximos anos. “Desde setembro de 2021, a Taesa tem R$ 1,1 bilhão extra por ano”, aponta. Para ele, a Taesa deve entregar dividendos de até R$ 3,80 por ação em 2023, com um dividend yield de 10,5%. O preço-teto é de R$ 42.

A Taesa paga proventos em maio, agosto, novembro e dezembro.

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Kepler Weber (KEPL3) e BrasilAgro (AGRO3)

No segmento de agronegócio e equipamentos industriais, Biz destaca a Kepler Weber, uma empresa que se beneficia do crescimento do agro no Brasil e da demanda da população por alimentos e energia. A companhia fabrica silos para armazenamento dos grãos.

“O segmento de etanol de milho tem bastante espaço para crescer junto à produção de grãos, favorecendo a demanda de silos nos próximos anos e beneficiando a atividade operacional da Kepler”, aponta Biz. Ele projeta um dividend yield de 8,5% para KEPL3 em 2023.

“O fato de a companhia não precisar de grandes investimentos e pouco capital de giro permite que pague dividendos atrativos”, reforça.

Nigri cita também a BrasilAgro (AGRO3), empresa que atua tanto na compra e venda de propriedades rurais quanto na produção de grãos. “A companhia tem como estratégia comprar terras subutilizadas e não desenvolvidas, melhorar a sua produtividade e depois vender as terras por um preço maior”, explica o analista.

Em 2021, a BrasilAgro realizou a maior venda de fazendas da sua história, superior a R$ 500 milhões. “Parte disso será contabilizado apenas em 2024, uma vez que até lá AGRO3 ainda é responsável por parte dessa operação”, afirma.

O analista destaca que os últimos anos foram mágicos para BrasilAgro e dificilmente os investidores vão ver novamente esse desempenho, contudo a companhia ainda oferece oportunidades interessantes. O analista projeta um dividend yield de no mínimo 7% para 2023.

Embora os preços das ações já tenham subido, Nigri considera que os fundamentos são sólidos para justificar a compra pelo que a companhia poderia entregar no futuro. “Esses 7% de retorno em dividendos podem aumentar se houver venda de terras. Por enquanto, não há nenhuma venda relevante no radar em 2023”, diz Nigri.

Em entrevista exclusiva ao InfoMoney em 2022, André Guillaumon, CEO da BrasilAgro, afirmou que o objetivo da empresa é ser uma pagadora de dividendos com dividend yield de no mínimo 5% ao ano no longo prazo.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.