De volta às raízes: BBSE3 é favorita para dividendos em 2023, além de bancos e elétricas; veja as 5 mais citadas

Diante de incertezas, analistas recomendam ações de setores perenes - com dividend yield de entre 8% e 11%

Katherine Rivas

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O ano é novo, mas para quem investe com foco em dividendos os fundamentos são os mesmos. Os setores perenes, conhecidos como os “portos seguros” da Bolsa, são os mais recomendados para 2023, segundo analistas consultados pelo InfoMoney.

Seguradoras, bancos e empresas de energia elétrica, com destaque para transmissoras ou híbridas, são as empresas que devem oferecer os melhores dividendos, segurança e valorização para o investidor.

Daniel Nigri, fundador e analista da Dica de Hoje Research, explica que a Bolsa apresenta um cenário positivo para 2023, embora ainda marcado pela volatilidade. Por um lado, destaca que a pressão inflacionária deve diminuir, por conta da queda nos preços de alimentos e petróleo, somado a queda nos reajustes tarifários das contas de energia, que deve ser abaixo da inflação.

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Nigri cita ainda a normalização na cadeia de suprimentos e a redução do crescimento global. No entanto, a perspectiva de déficit orçamentário do novo governo provoca incertezas.  Para o analista, a questão é que nível de juros reais o mercado aceitará nos próximos quatro anos.

A expectativa para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) em 2023 subiu (de 5,23% para 5,31%), segundo a última edição do Boletim Focus. O mercado também espera que a Selic termine o ano em 12,25%. Para Nigri, o juro nominal justo no momento econômico atual é de 11,25% no fim de 2023. De qualquer forma, tendência para Selic e inflação é de queda, diz.

Diante de todo este panorama, Nigri alerta que o investidor precisa ter cuidado com empresas endividadas. Para estratégias de dividendos, ele prefere os setores tradicionais e perenes, com boa geração de caixa em cenários desafiadores. No entanto, ele não descarta uma “pitada” de risco no setor interno ou industrial.

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Guilherme Tiglia, sócio e analista da Nord Research, partilha a mesma filosofia. Para ele, empresas que distribuem bons dividendos podem ser uma ótima escolha para o momento atual, por conta da segurança e previsibilidade diante de juros e inflação elevados. “É hora de investir em empresas mais sólidas, com lucratividade constante, boa geração de caixa e baixo endividamento”, diz.

Já para o setor de commmodities, que liderou as distribuições no ano passado, as previsões não são tão boas – embora alguns analistas ainda gostem da Vale. Sergio Biz, sócio e analista do GuiaInvest, destaca que diante uma recessão global, petroleiras e mineradoras devem apresentar dividendos mais magros.

As favoritas dos analistas

O InfoMoney consultou sete analistas focados em estratégias de dividendos sobre quais seriam as melhores ações para quem busca renda passiva em 2023. Foram mencionadas 15 ações, dentre as quais cinco reuniram o maior número de recomendações.

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A BB Seguridade (BBSE3) foi a mais citada pelos analistas, que projetam um dividend yield (taxa de retorno com dividendos) de 8,5% a 9,5% neste ano. Ser a favorita do mercado não é novidade para a companhia. Desde que apresentou os resultados do terceiro trimestre, considerados robustos, ela vinha chamando a atenção do mercado.

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Confira as ações mais recomendadas pelos especialistas para estratégias de dividendos em 2023:

Ação Dividend yield projetado para 2023 Preço-teto para compra Quem recomenda Retorno em 2022
BB Seguridade (BBSE3) 8,5% a 9,5% R$ 27,50 a R$ 40 Nord Research, GuiaInvest e Ouro Preto Investimentos 74,88%
Taesa (TAEE11)  9,5% a 10,5% R$ 42 VG Research e Dica de Hoje Research 6,87%
Banco ABC (ABCB4) 8% R$ 18,50 a R$ 24 Dica de Hoje Research e GuiaInvest 33,36%
CPFL Energia (CPFE3) 10,5% a 11% R$ 33 Guide Investimentos e VG Research 35,93%
Alupar (ALUP11) 7% a 10% R$ 30 a R$ 35 Monett e Ouro Preto Investimentos 22,80%

Fontes: Dica de Hoje Research, VG Research, Ouro Preto Investimentos, GuiaInvest, Guide Investimentos, Monett, Nord Research e TradeMap.

As recomendações para o ano apresentam semelhanças com as das carteiras recomendadas para janeiro por dez corretoras. Com exceção da Vale, a maioria são ativos de setores perenes, como bancos, seguros e elétricas. O InfoMoney divulga uma compilação das recomendações para a estratégia focada em dividendos todo início de mês, selecionando os nomes mais citados.

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Confira as ações mais citadas nas carteiras recomendadas de dividendos para janeiro:

Empresa Ticker Nº de recomendações Retorno em dezembro Retorno em 2022
Vale VALE3 7 4,05% 24,95%
Engie EGIE3 4 -3,48% 6,09%
CPFL CPFE3 4 -4,87% 35,93%
BB Seguridade BBSE3 4 7,63% 74,88%
Itaú Unibanco ITUB4 4 -1,88% 24,18%

Fontes: Ágora, Ativa, BB Investimentos, BTG Pactual, Terra, Genial, Guide, Órama, Santander Corretora, XP Investimentos e TradeMap

BB Seguridade:  o porto “mais seguro” em 2023

Com juros ainda elevados, o cenário é considerado promissor para BB Seguridade – que, embora seja uma estatal, não carrega os mesmos riscos de interferência que o Banco do Brasil (BBAS3) ou a Petrobras (PETR4), segundo analistas.

A companhia tem alguns benefícios por ser o braço de seguros do Banco do Brasil, sua plataforma de distribuição. “Cada agência, internet ou plataforma em que o banco está presente pode vender os seguros da BB Seguridade, o que é uma ótima vantagem competitiva”, destaca Tiglia.

A fartura das empresas de seguros se justifica no chamado float financeiro: mensalmente, as empresas arrecadam os “prêmios” – os valores pagos pelos clientes que adquirem seguros – e os mantêm investidos, geralmente em papéis de renda fixa ou em ativos de alta liquidez. As seguradores só precisarão gastar esses valores se o seguro for acionado, em caso de sinistro. Até lá, o dinheiro permanece rendendo juros.

A empresa tem ganho operacional se, em um determinado período, entre prêmios arrecadados e gastos com sinistros, houver sobra – ou float excedente. Como os valores rendem por estarem investidos, há também ganho financeiro. É por este motivo que quando a Selic sobe, a lucratividade das seguradoras é maior – e os seus dividendos aumentam.

Biz destaca que a BB Seguridade distribui dividendos recorrentes e consistentes. A empresa faz pagamentos semestrais, sempre em fevereiro e agosto. Recentemente, anunciou que deve destinar 95% do lucro (payout) de 2022 para dividendos. Em agosto de 2022, chegou a remunerar os seus acionistas com dividendos de R$ 1,036 por ação, mas as expectativas do mercado estão no aumento da remuneração já agora em fevereiro de 2023, referente aos resultados do segundo semestre de 2022.

Com a companhia destinando quase todo o seu lucro para dividendos, Biz prevê bons ganhos em 2023, puxados pelo resultado operacional na área de seguros e corretagem. Ele projeta  um dividend yield de 9,5%, com preço-teto de R$ 27,50. “A única desvantagem que o investidor enfrentaria agora é pagar caro pela ação”, diz.

Recentemente, analistas do JP Morgan destacaram que a companhia tem potencial de crescimento de dois dígitos no lucro e um payout de cerca de 90% nos próximos anos.

Na Nord, o dividend yield  projetado é de 9%, com preço-teto de R$ 32. Segundo Tiglia, além de ter ótimas perspectivas operacionais, crescimento dos prêmios e redução da sinistralidade, a BB Seguridade segue beneficiada pela alta dos juros. “Com perfil defensivo, negociando a 11 vezes seu lucro, a recomendação é comprar BB Seguridade”, reforça. A Ouro Preto Investimentos espera um dividend yield de 8,5%, com preço-teto de R$ 40.

Taesa: o “título público” da Bolsa

A transmissora Taesa figurou entre as dez maiores pagadoras de dividendos da Bolsa em 2022, registrando até setembro dividend yield de 13,35%. Faz parte da carteira de dividendos da VG Research, que espera um dividend yield de 9,5% para TAEE11 em 2023.

Luan Alves, head de equity da VG, define a companhia como uma espécie de “título público” da Bolsa, por ter um modelo de negócios resiliente e ainda com baixo risco. “Os contratos das linhas de transmissão são de longo prazo, entre 20 e 30 anos, e reajustados pela inflação anualmente”.

“Consideramos que a Taesa é um negócio sem risco. Se a demanda de energia subir ou cair, ela continua recebendo por transmitir”, destaca. Para ele, a companhia deve capturar boas oportunidades de crescimento nos próximos leilões de transmissão.

O mercado considerava que as ações da Taesa estavam caras quando negociavam perto dos R$ 45 – mas atualmente elas estão cotadas perto dos R$ 35, lembra Alves.

Nigri acredita que a rentabilidade da Taesa deve ficar em torno de IPCA mais 10% nos próximos anos.  Segundo ele, as concessões de linhas de transmissão da empresa têm vencimentos entre 2030 e 2062, reajustadas pela inflação de cada ciclo. “No ciclo 2022/2023, 65% da receita anual permitida é reajustada pelo IGP-M e 35% pelo IPCA”, diz. Para ele, isso é o que garante reajustes acima da inflação por pelo menos sete anos.

O analista destaca os novos investimentos da Taesa que entraram em operação entre 2021 e 2022, e outros em construção que irão adicionar ainda mais receita nos próximos anos. “Desde setembro de 2021, a Taesa tem R$ 1,1 bilhão extra por ano”, aponta.

O custo de manutenção das linhas de transmissão é baixo, segundo Nigri, o que permitiu que em alguns trimestres a companhia apresentasse uma margem Ebitda (lucros antes de juros, impostos, depreciação e amortização) superior a 86%. Para ele, a Taesa deve entregar dividendos de até R$ 3,80 por ação em 2023, com um dividend yield de 10,5%. O preço-teto é de R$ 42.

A Taesa paga proventos em maio, agosto, novembro e dezembro. Em 2022, até dezembro, o total pago foi cerca de R$ 5,31 por ação.

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Banco ABC Brasil: inadimplência não é vista como problema

Enquanto bancões como Bradesco e Santander, mais expostos ao consumidor pessoa física, sofrem com aumento da inadimplência, o banco ABC Brasil navega em mar calmo. Isso porque o banco empresta dinheiro para empresas com faturamento anual entre R$ 30 e R$ 100 milhões, o chamado middle market, segundo Nigri.

“Este segmento já representa a maior quantidade de clientes da rede, mas apenas 12% da carteira de crédito expandida”, diz. A companhia também participa em operações de fusões e aquisições no mercado de capitais.

Outra vantagem, segundo Biz, é o suporte operacional e de crédito oferecido pelo seu controlador estrangeiro – o Arab Banking Corporation, um dos maiores conglomerados financeiros do Oriente Médio – que lhe proporciona segurança adicional em momentos de baixa liquidez no mercado.

Nigri destaca a previsibilidade do ABC Brasil em relação ao pagamento de juros sobre capital próprio (JCP). “O banco paga trimestralmente, geralmente em janeiro, abril, julho e outubro”, diz. Ele projeta dividendos de entre R$ 1,50 e R$ 1,65 por ação em 2023, com um dividend yield de 8%. O preço-teto de compra é R$ 24. Biz também espera dividendos de 8%, com preço-teto de R$ 18,50.

CPFL e Alupar

Os analistas também esperam bons dividendos de CPFL (CPFE3) e Alupar (ALUP11), de até 11% em 2023. Segundo Gabriel Gracia, analista da Guide Investimentos, empresas elétricas devem ser beneficiadas pelos elevados níveis de inflação, dado que a maior parte das suas receitas são advindas de contratos de longo prazo reajustados por índices de preços.

No caso da CPFL, a Guide explica que se trata de uma empresa híbrida que gera, distribui e comercializa energia elétrica no Brasil. A companhia atua em São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná e Minas Gerais, considerados importantes polos econômicos e industriais do País. E está atenta a oportunidades de crescimento no segmento de transmissão, com a recente integração dos ativos da transmissora CEEE-T.

Entre os riscos, Gracia cita possíveis mudanças regulatórias, volatilidade no preço de energia, assim como maior competitividade nos leilões, que podem reduzir a taxa de retorno dos investimentos. Ele projeta um dividend yield de 11% para a CPFE3 em 2023, com preço-teto de R$ 33. Já na VG Research, a projeção é de um dividend yield de 10,5%.

Sobre Alupar, Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, afirma que a empresa vive um bom momento de geração de caixa e deve se manter assim nos próximos anos. Ele destaca que a transmissora integra um setor bem regulamentado, o que traz maior previsibilidade aos investidores, embora não descarte riscos de ingerência no novo governo. Segundo ele, tudo dependerá da visão do novo ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. “No governo Dilma, o cenário foi punitivo para o setor elétrico”, lembra.

Paletta acredita que com a entrada de novos ativos em operação, Alupar pode chegar a pagar dividendos de dois dígitos. Para 2023, ele espera um dividend yield de 7% com preço-teto de R$ 30 e valorização em até 30%. Komura, da Ouro Preto, espera um dividend yield em torno de 10%, com preço-teto de R$ 35.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.