11 meses após falência, fundador da FTX vai a julgamento por fraude de US$ 9 bi

Sam Bankman-Fried é acusado de dar um calote bilionário em milhares de investidores — inclusive brasileiros

Lucas Gabriel Marins

Sam Bankman-Fried, cofundador da exchange de criptomoedas FTX, deixa tribunal em Nova York em fevereiro de 2023

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Começa nesta terça-feira (3) o julgamento de um dos maiores crimes de colarinho branco da história dos Estados Unidos. No banco dos réus está o ex-bilionário Sam Bankman-Fried, 31 anos, fundador da falida exchange FTX, que quebrou em novembro do ano passado e jogou o mercado cripto em um de seus períodos mais conturbados.

Bankman-Fried, que tinha um ótimo relacionamento com políticos norte-americanos e já foi considerado um dos empresários mais “queridinhos” da indústria cripto, é acusado de orquestrar um golpe que deixou um prejuízo de US$ 8,7 bilhões a investidores de todo o mundo, inclusive no Brasil.

Em um processo que contém mais de 1.300 provas levantadas pela Promotoria dos Estados Unidos, ele responderá por sete crimes federais, que envolvem conspiração para cometer fraude, fraude eletrônica e lavagem de dinheiro. Se condenado, pode pegar até 100 anos de prisão. O antigo empresário da indústria de criptoativos alega ser inocente das acusações.

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Os promotores federais querem chamar ex-clientes, investidores e funcionários da FTX para depor. Em uma carta divulgada na semana passada, eles disseram que “em cada um desses casos, o depoimento antecipado sobre a forma como as testemunhas entendiam a sua relação com o réu e as suas empresas, e as suas interpretações das declarações feitas pelo réu e pelos seus agentes, são diretamente relevantes para as questões em litígio em julgamento”.

Entenda o caso

A FTX começou a ruir no final de 2022, quando a exchange passou a enfrentar uma crise de liquidez envolvendo sua empresa-irmã, a Alameda Research. Em meio à corrida de saques após a notícia, o negócio entrou com pedido de recuperação judicial nos Estados Unidos, deixando o mercado ainda mais assustado. Na mesma época, Bankman-Fried renunciou ao cargo, que passou a ser ocupado pelo atual CEO, John Ray III.

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De lá para cá, o caso pareceu um filme de Hollywood. O empresário foi preso nas Bahamas, onde vivia, mas foi liberado na sequência após o pagamento de uma fiança de US$ 250 milhões garantida por seus pais, Joseph Bankman e Barbara Fried, que também são processados no caso. Em meados deste ano, ele foi preso novamente — primeiramente na casa de seus progenitores e depois em um centro de detenção no Brooklyn, em Nova York (EUA), onde está até hoje — por intimidar testemunhas e influenciar depoimentos.

Na semana passada, a defesa de Bankman-Fried entrou com pedido na Justiça para tentar liberá-lo da prisão. Eles argumentaram que o acusado estava vivendo à base de “pão, água e um pouco de manteiga de amendoim”, e que estava com dificuldade em obter a receita do remédio para tratar depressão e transtorno do déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).

O juiz distrital dos EUA, Lewis Kaplan, rejeitou o pedido. Ele disse que Bankman-Fried poderia estar planejando uma fuga.

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Ao longo desses 11 meses desde o colapso da FTX, alguns dos principais aliados do antigo queridinho da indústria cripto também se voltaram contra ele. Caroline Ellison, executiva-chefe da Alameda e ex-namorada de Bankman-Fried, confessou o crime e concordou em cooperar com a promotoria. Outros três executivo da FTX — Gary Wang, Nishad Singh e Ryan Salame — seguiram o mesmo caminho e admitiram ter trabalhado com ele para fraudar clientes.

O julgamento deve durar seis semanas. Na terça, ocorre a formação do júri, que deve ser composto por 10 ou 12 pessoas. Na quarta-feira (4), os advogados de Sam e a promotoria apresentam suas defesas e convocam as testemunhas. A previsão é que o embate jurídico termine no dia 11 de novembro.

Lucas Gabriel Marins

Jornalista colaborador do InfoMoney