10 ações baratas que custam a partir de R$ 3 e pagam bons dividendos

Levantamento da VG Research apresenta alternativas que podem entregar um retorno com dividendos entre 5% e 10,2% em 2023

Katherine Rivas

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Nesta Black Friday, contrair dívidas para consumir não é a única opção. Os investidores também podem aproveitar para investir em novas ações vistas hoje como “pechinchas” na Bolsa. Um levantamento exclusivo da casa de análise VG Research para o InfoMoney apresenta dez papéis com potencial de pagar bons dividendos em 2023 e que podem ser consideradas “baratas”.

Todas as companhias da lista têm capacidade de entregar entre 5% e 10,2% de dividend yield (taxa de retorno com dividendos) em 2023, segundo projeções da VG Research.

Grandes investidores consideram que para poder ser chamada de “boa pagadora” de dividendos e integrar uma carteira previdenciária uma ação deveria garantir no mínimo um dividend yield de 6% ao ano. Outros agentes de mercado avaliam que o retorno mínimo deveria estar acima de 4% para um papel fazer parte de uma estratégia de renda passiva.

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Confira abaixo dez ações cotadas a partir de R$ 3 com potencial de distribuição de dividendos elevados em 2023:

Ação Preço/Valor Patrimonial em 2022 (P/VP) Dividend yield realizado nos últimos 12 meses Dividend yield projetado para 2023  Preço/Lucro em 2022 (P/L) Cotação
Banrisul (BRSR6) 0,4 9,9% 9,9% 4,5 R$ 10,24
Porto Seguro (PSSA3) 1,5 5,2% 7,4% 9,4 R$ 23,52
Sanepar (SAPR4) 0,7 6,2% 7,0% 5,1 R$ 3,83
Bradesco (BBDC3) 0,9 4,5% 7,6% 6,2 R$ 13,35
Caixa Seguridade (CXSE3) 2,02 8,2% 8,7% 7,5 R$ 8,23
Banco do Brasil (BBAS3) 0,6 11,7% 10,2% 4,1 R$ 35,02
Santos Brasil (STBP3) 2,7 12,0% 8,0% 11,3 R$ 7,77
BR Partners (BRBI11) 1,7 6,7% 10,0% 7,8 R$ 12,75
Wiz (WIZS3) 1,3 7,4% 7,7% 6,1 R$ 7,79
Tegma (TGMA3) 1,8 5,6% 5,6% 8,9 R$ 21,49

Fonte: VG Research. Os dados consideram as cotações de fechamento em 23/11/22 e 24/11/22.

Entenda a metodologia usada na escolha das ações

Entre os critérios do levantamento, a VG Research escolheu ações presentes em setores de baixo risco, como bancos, saneamento, seguradoras e infraestrutura. São empresas que se caracterizam por ter negócios resilientes e perenes. As companhias que integram a lista pagaram dividendos elevados nos últimos 12 meses e, segundo a casa, devem continuar remunerando bem os acionistas no próximo ano.

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Para determinar se uma ação estava “cara” ou “barata”, foram considerados dois múltiplos: o de preço sobre valor patrimonial (P/VP) em 2022, que é a divisão do preço de uma ação pelo seu valor patrimonial; e o preço sobre lucro (P/L), que representa o preço atual de uma ação dividido pelo lucro por ação da empresa. Ambos os múltiplos foram comparados com o histórico das companhias nos últimos dez anos.

Como preço também importa para garantir um dividend yield elevado, foram consideradas apenas ações cotadas entre R$ 3 e R$ 36 no fechamento desta quinta-feira (24).

Confira a opinião dos analistas sobre as “top picks” listadas na tabela:

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Banco do Brasil (BBAS3)
Sanepar (SAPR4)
CXSE3, WIZS3, STBP3 e TGMA3

Porque estas ações são consideradas ‘baratas’?

Existe uma diferença entre preço e valor. Preço é o custo que o investidor paga para adquirir uma ação. Já valor é o que uma ação realmente vale – se observado o que a empresa pode entregar em crescimento, dividendos, valorização e retorno ao acionista.

Luan Alves, head de equity da VG Research, explica os motivos pelos quais a casa de análise considerou “baratas” as empresas selecionadas no levantamento. Companhias como Banrisul, Sanepar, Bradesco e Tegma negociam a múltiplos historicamente baixos – em alguns casos, próximos dos verificados na crise do governo Dilma Rousseff (PT) ou no início da pandemia de coronavírus.

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Nos últimos dez anos, o preço sobre valor patrimonial (P/VP) do Banrisul (BRSR6), por exemplo, só esteve em um patamar menor durante o governo Dilma, quando chegou a 0,39. Neste ano, é de 0,4.

Já no caso da Porto Seguro (PSSA3), enquanto outras seguradoras já se recuperaram dos efeitos da pandemia, a empresa tem uma dinâmica diferente por conta do foco no seguro automobilístico. “Nos últimos trimestres, o grande detrator dos resultados da seguradora tem sido a sinistralidade do segmento auto. Porém, a gestão está conseguindo endereçar corretamente o problema mediante ajustes na precificação”, afirma Alves.

O analista acredita que o mercado já espera uma melhora nos resultados da Porto Seguro no próximo trimestre e que as ações da companhia têm um bom potencial de valorização e pagamento de dividendos.

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Ainda entre as empresas baratas, ele cita a companhia de saneamento Sanepar (SAPR4). Alves destaca os múltiplos atuais da companhia: P/L de 5,1 e P/VP de 0,7, números que só foram menores também durante o governo Dilma (3,64 e 0,38, respectivamente).

No caso da Caixa Seguridade (CXSE3), Alves explica que não foram apenas os múltiplos que indicaram que a empresa estava barata, mas também as perspectivas da companhia no próximo governo e a dinâmica de um pagamento robusto de dividendos.

Segundo o analista, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já sinalizou que pretende aumentar o crédito público através da Caixa Econômica. “Caso realmente haja esse movimento por parte dos bancos públicos, é possível que a venda de seguros da Caixa Seguridade seja impulsionada, na margem, já que a seguradora opera no balcão da Caixa Econômica Federal”, avalia. A seguradora poderia se fortalecer, elevar suas cotações e aumentar o volume de dividendos.

No segmento financeiro, Alves cita também as ações ordinárias do Bradesco (BBDC3), que acumulam queda de 7,13% em 2022.  “A desvalorização das ações foi tão forte que o Bradesco hoje negocia a 0,9 vezes preço sobre valor patrimonial. Patamares tão baixos aconteceram apenas entre 2015 e 2016, quando o banco tinha um P/VP de 1,16, e na pandemia do coronavírus, em 2020, quando era de 1,49”, afirma.

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As “top picks” dos analistas

Banco do Brasil (BBAS3): um gigante na incerteza

Questionados sobre as suas principais escolhas da lista para uma estratégia de dividendos de longo prazo, a ação mais citada pelos analistas foi o Banco do Brasil (BBAS3). Segundo Alves, da VG, a carteira do banco no segmento de agronegócio é muito relevante e difícil de ser replicada, o que o transforma em uma opção de investimento para o longo prazo.

Outras vantagens citadas pelo analista para 2023 é a possível manutenção da eficiência do banco, com boa gestão de custos e níveis de inadimplência baixos. Já em relação aos riscos, pesa a possibilidade de interferência na gestão do banco público, que pode afetar o lucro líquido, os custos ou a rentabilidade da carteira de crédito – e, em consequência, os dividendos.

“Existe um temor de que o governo eleito aumente o crédito subsidiado e direcione a carteira do banco para produtores com menores spreads [ganhos com juros], o que poderia deteriorar o retorno sobre patrimônio (ROE) da empresa”, avalia Alves.

Contudo, o analista reforça que a governança o Banco do Brasil é blindada de intervenções políticas, por possuir um planejamento estratégico de longo prazo a ser seguido independentemente da presidência do banco. “Além disso, 50% do conselho de administração do banco é formado por conselheiros independentes que também participam dos comitês de assessoramento”, reforça.

A expectativa da VG para retorno em dividendos do Banco do Brasil em 2023 é de 10,2%, se ficar claro que a intervenção do governo será limitada.

Fábio Sobreira, analista CNPI-P da Ivest Consultoria de Investimentos, também partilha dessa visão e acredita que o Banco do Brasil é uma das ações baratas da lista com melhores fundamentos para uma estratégia de dividendos – mas cujo futuro é uma incógnita por conta do risco político.

Na visão de Sobreira, considerando os fundamentos, o preço justo do Banco do Brasil deveria ser superior a R$ 50, mas seu preço de tela é de cerca de R$ 35 atualmente.

Ele acredita que o banco vem se mantendo lucrativo, superando o resultado de pares privados como Bradesco e Santander no terceiro trimestre. Nos últimos 12 meses, o retorno com dividendos do banco estatal foi de 11,7%. “O poder de pagar dividendos do banco é de 25%, caso distribuísse 100% do lucro”, destaca Sobreira.

Felipe Paletta, sócio-fundador e analista da Monett, estima que o Banco do Brasil entregue um dividend yield de 10% em 2023, mas o risco de interferência política o desagrada. Embora seja menor do que na Petrobras, Paletta prefere ficar de fora do papel. “O desconto é grande, mas em linha do que o banco já foi no passado”, diz.

Sanepar (SAPR4): outra queridinha do Paraná

Não apenas a Copel (CPLE6), companhia de energia do Paraná, ganhou adeptos. Empresa de saneamento do estado, a Sanepar também foi outra das ações baratas para estratégias de dividendos citada pelos analistas.

Alves, da VG, destaca que a companhia tem um negócio resiliente por ofertar um serviço essencial (saneamento) para a população e ter um monopólio natural de concessão no Paraná. “A tarifa do seu serviço é regulada e os contratos são de longo prazo”, destaca.

Entre as vantagens, o analista cita a eficiência da companhia, bom controle de custos e uma possível revisão tarifária a partir de abril de 2023. Em 2022, o reajuste na tarifa de água e esgoto foi de 4,96%.

Já em relação aos riscos, Alves cita a interferência na regulação do setor ou perdas na eficiência de custos ou nos contratos de concessão. Mesmo sendo controlada pelo governo de Paraná, o analista se mostra confiante na tese e não vê risco político. Ele acredita que após o anúncio de privatização da Copel, existe a possibilidade de a Sanepar seguir o mesmo caminho.  A projeção para dividendos é de 7% em 2023.

Sobreira, da Ivest, cita que o dividend yield da companhia em 2022 é ligeiramente menor, de 6,2%, por conta da valorização das ações em 2022, que já chega a 4,88%. Mas nas últimas semanas, o preço da companhia vem caindo, o que pode elevar o retorno. “Apesar de ela oferecer cerca de 6% em proventos, seu poder de pagar dividendos é de 20%, o que a torna uma boa pagadora”, destaca. “Pelo seu histórico, a Sanepar cresce geralmente 10% ao ano em lucro e receita”.

Como risco, Sobreira destaca questões ligadas ao Marco de Saneamento, que prevê uma maior participação da iniciativa privada, não permitindo contratos diretos com empresas estatais.

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CXSE3, WIZS3, STBP3 e TGMA3 no radar de preferências

Fora estas empresas, a VG tem também como preferida a Caixa Seguridade (CXSE3), que deve entregar dividendos de 8,7% em 2023. Para Alves, não existem evidências de que a empresa possa diminuir a distribuição frente à troca de governo. Na visão dele, se houver aumento do crédito público, será por meio da Caixa Econômica, o que deve impulsionar a venda de seguros na Caixa Seguridade.

Ainda dentro do ramo de seguros, Sobreira destaca a corretora Wiz (WIZS3), que após o fim da parceria com a Caixa Econômica Federal, conseguiu se reinventar e diversificar os seus parceiros, tais como Banco Inter, BMG, entre outros. Ele acredita que aos preços atuais, a Wiz teria a capacidade de entregar um dividend yield de 8% ou 10% em 2023. “Apesar de ser uma small cap [empresa de baixa capitalização de mercado], ela tem bastante potencial. O lucro vem crescendo pelo menos 15% ao ano, o que dá lugar a mais dividendos”, diz.

Para Erik Sala, especialista em investimentos da DV Invest, uma das principais escolhas para dividendos no longo prazo é a Santos Brasil (STBP3). Ele estima um dividend yield de 6% para a companhia em 2023, com potencial de chegar a níveis superiores a 7% em 2024 e 2025.

Sala destaca que a Santos Brasil é uma empresa com boas concessões, que se encontra em ótimos terminais portuários em um país com dinâmica forte de importação e exportação. “Quando a gente olha o cenário para o agronegócio e o setor industrial, a Santos Brasil se beneficia”, avalia. Para ele, o Brasil deve ter um movimento portuário crescente em 2023.

Entre as vantagens, ele destaca que a companhia é líder do setor, com boas concessões além do Porto de Santos, no estado de São Paulo. Entre as desvantagens, Sala aponta para uma possível necessidade de investimento (Capex) nos próximos cinco ou seis anos, que poderia reduzir os dividendos no curto prazo. O preço-alvo da ação é R$ 11, na visão do analista. E o preço-teto de compra para capturar valorização e dividendos é de R$ 8.

Por último, Paletta, da Monett, destaca a tese da Tegma (TGMA3), com potencial de dividendos no médio e longo prazo. A projeção do analista é de um dividend yield de entre 6% e 7% em 2023, com preço-teto de compra até R$ 21.

Ele afirma que a empresa depende muito do segmento de automóveis, que ainda está se recuperando de forma lenta, mas deve ganhar tração em 2023 e 2024. O setor foi muito prejudicado na pandemia, segundo o analista. “A eleição de Lula deve favorecer esse setor e pode beneficiar a companhia”, comenta. “O maior risco é a atividade econômica, juros e inflação elevados, pois esta combinação tende a prejudicar muito a companhia no curto prazo”.

Katherine Rivas

Repórter de investimentos no InfoMoney, acompanha ETFs, BDRs, dividendos e previdência privada.