IRB diz que terá seu melhor ano e comenta polêmica da Squadra; resultado é bem recebido

Companhia de resseguros está nos holofotes após polêmica carta da gestora carioca Squadra questionando balanços

Paula Zogbi

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SÃO PAULO – Após divulgar os resultados consolidados de 2019, com lucro 44,7% maior que o registrado em 2018, a resseguradora IRB Brasil (IRBR3) se diz otimista com 2020. “Não temos dúvidas de que o guidance [expectativa para o ano] será atingido e que 2020 será o melhor ano da companhia”, disse José Carlos Cardoso, CEO da empresa, em teleconferência com nesta quarta-feira (19).

As projeções do IRB para o ano incluem um crescimento entre 22% e 27% para o prêmio emitido no mercado doméstico em relação a 2019, e entre 23% e 28% para o mesmo indicador no exterior. Neste mercado, prêmio emitido refere-se aos valores pagos pelos segurados em troca da transferência de risco, deduzidos de IOF.

O IRB está sob os holofotes do mercado após cartas da gestora carioca Squadra terem questionado os balanços divulgados pela companhia e reforçado posição vendida em suas ações. A companhia havia se pronunciado, mas sem grandes detalhes, pois estava em período de silêncio antes da divulgação do balanço.

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Os papéis chegaram a cair até 16,4% em uma só sessão e acumulam perda de 15,25% em fevereiro após terem subido 15% em janeiro. Na sessão desta quarta, após divulgação do balanço, o IRB abriu com forte alta, acima de 5%. Às 16h25, a alta tinha amenizado para 2%.

Publicados na madrugada desta quarta, os resultados do trimestre vieram com informações adicionais sobre alguns dos pontos questionados pela Squadra, como mais detalhes sobre sinistros, salvados e ressarcidos e compra e venda de shopping centers. Também foram auditados por duas das Big Four (as empresas contábeis especializadas em auditoria mais prestigiosas do mundo): PwC e Ernst & Young.

A empresa destacou, no call, que os resultados dos últimos três anos (desde que abriu capital) cumpriram as expectativas divulgadas nos guidances. À imprensa, disse que vem trabalhando para melhorar, a cada trimestre, suas demonstrações contábeis e evitar situações similares.

Cardoso disse entender que “críticas e opiniões fazem parte da natureza de qualquer companhia de capital aberta e que aos colaboradores e diretores não cabe responder, mas trabalhar para que os resultados da empresa falem por si só”. Segundo ele, “o time nunca esteve tão motivado”.

Recompra de ações

Nesta manhã, o IRB anunciou um programa de recompra de até 41,9 milhões de ações com duração de um ano.

Fernando Passos, CFO da empresa, disse que o intuito desse programa de prazo longo é atuar para maximizar o valor ao acionista quando julgado que o preço dos papéis esteja abaixo do nível justo. Não respondeu, porém, se avalia que a queda decorrente da polêmica com a Squadra levou a ação a um patamar considerado abaixo do ideal.

Para Carlos Daltozo, head de renda variável da Eleven, essa atitude “reforça o compromisso [da empresa] com os acionistas minoritários”, então pode ser lida como positiva.

O que pensam os analistas

A resposta de analistas aos resultados e ao guidance foi, em geral, positiva. A companhia tem 13 recomendações de compra, quatro de manutenção e nenhuma de venda, de acordo com levantamento da Bloomberg com casas de análise. Mas ainda pairam dúvidas.

Para o Morgan Stanley, há “mais pontos positivos do que negativos”, embora parte dos resultados tenham vindo abaixo da expectativa consensual de analistas. Em relatório, o MS diz que a maior clareza nos números deve ser “bem recebida” pelo mercado.

Os analistas do Safra disseram que as projeções divulgadas são “encorajadoras” e esperam lucro líquido de R$ 2,1 bilhões em 2020, uma alta de 25%, – o que “aparentemente” está no topo do guidance.

Em contraste, Daltozo, da Eleven, escreveu em relatório que, apesar de uma primeira impressão positiva, o relatório ainda deixa “peças soltas”. Entre os itens que permanecem obscuros está a variação da expectativa de salvados e ressarcidos, líquido de retrocessão, que, de acordo com o balanço, foi de R$ 65 milhões em 2019 – bem longe dos R$ 605 milhões como apontado pela Squadra em suas cartas.

Mesmo com as dúvidas, a casa de análise mantém recomendação de compra para o papel após traçar três cenários em um exercício hipotético de sensibilidade “improvável” que considera que o resultado não esteja normalizado, como alega a Squadra. “A assimetria entre o preço de tela e o valor que julgamos justo para IRBR3 só reforça nossa recomendação de compra para a ação”, escreve.

Os analistas da XP Investimentos mantêm a empresa sob análise, ou seja, sem recomendação divulgada, igualmente por ainda esperar mais esclarecimentos após a polêmica. “No geral, os resultados operacionais vieram abaixo do consenso, mas o lucro veio acima ajudado por impostos. Não obstante, a gestão divulgou um guidance para 2020 em linha com o divulgado/realizado em 2019”, escreveu o analista Marcel Campos. “Mantemos o papel sob revisão, conforme analisamos os dados e a recorrência dos resultados”.

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Paula Zogbi

Analista de conteúdo da Rico Investimentos, ex-editora de finanças do InfoMoney