CEOs de Amazon, Apple e Alphabet se defendem de acusações sobre práticas anticompetitivas

Depoimentos ocorrem às vésperas da divulgação dos balanços do segundo trimestre das gigantes de tecnologia

Pablo Santana

(Shutterstock)

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SÃO PAULO – Os CEOs de quatro das maiores empresas de tecnologia do mundo (Amazon, Apple, Facebook e Google) testemunharam nesta quarta-feira (29) perante o Congresso dos Estados Unidos, em audiência que investiga práticas antitrustes no setor e se as empresas usam de suas posições no mercado para prejudicar concorrentes.

O CEO da Amazon, Jeff Bezos, da Apple, Tim Cook, do Facebook, Mark Zuckerberg, e Sundar Pichai, da Alphabet, dona do Google e do YouTube, responderam aos questionamentos do subcomitê antitruste da Câmara de Representantes dos EUA por videoconferência. 

Além de perguntas sobre possíveis práticas anticompetitivas, os congressistas também questionaram os executivos sobre as atuações de suas empresas durante a pandemia, uso de dados, disseminação de fake news em suas plataformas e eleições.

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Vale ressaltar que os depoimentos ocorrem às vésperas da divulgação dos balanços do segundo trimestre da Amazon, Apple e Alphabet, que devem informar seus resultados nesta quinta-feira (30) após o fechamento do mercado.

Em suas considerações iniciais, os quatro executivos reconheceram a grandeza e a influência que suas empresas exercem no setor, mas destacaram que as companhias cresceram enfrentando uma forte concorrência e negaram existir uma concorrência injusta dos seus produtos e serviços no ambiente digital.

Os executivos da Amazon, Apple e Google afirmaram que criaram novos modelos de negócios para as pequenas empresas nos seus mercados de atuação, enquanto o criador do Facebook justificou a aquisição de novas plataformas pontuando que startups menores não existiriam sem ele.

O congressista democrata David Cicilline, presidente do subcomitê antitruste, iniciou a audiência reforçando o caráter bipartidário das investigações feitas. Ciciline disse que as big-techs são “os imperadores da economia online” e reforçou que os consumidores, diferente de outros setores, não conseguem evitar as quatro empresas enquanto usam a internet.

“Eles têm muito poder. Esse poder impede novas competições, criatividade e inovação. Quando os americanos comuns aprendem quanto de seus dados estão sendo extraídos, eles não conseguem fugir rápido o suficiente, mas em muitos casos eles não têm outras opções”, disse Cicline.

Já o deputado Jim Sensenbrenner, representante republicano no subcomitê, destacou em sua fala inicial as preocupações dos republicanos de que as grandes empresas de tecnologia podem ter um viés anti-conservador.

“Compartilho a preocupação de que o domínio do mercado no espaço digital esteja propenso a abusos, especialmente quando se trata de liberdade de expressão “, pontuou Sensenbrenner.

Antes do início da sessão, o presidente americano, Donald Trump, tuitou que pretende assinar ordens executivas dirigidas a empresas de tecnologia “se o Congresso não trouxer justiça”. Trump há meses vem acusando as empresas de serem tendenciosas contra ele e outros políticos conservadores.

Ele e seus aliados tiveram páginas e conteúdos excluídos no Facebook e Twitter por violar as regras de uso das plataformas. Na rede social de Mark Zuckerberg, o político teve anúncios de sua campanha eleitoral excluídos por violação às regras contra o ódio organizado.

A empresa disse que os posts faziam ataques ao movimento antifascista e a grupos de extrema-esquerda e faziam referência ao nazismo, pois uma das publicações excluídas continha um triângulo vermelho invertido.

Se o Congresso não trouxer justiça às big techs, o que eles deveriam ter feito anos atrás, eu mesmo farei isso com ordens executivas. Em Washington, tudo tem sido falado e nada feito por anos, e o povo do nosso país está doente e cansado disso!

Bezos fala sobre uso de dados

A Amazon foi uma das poucas multinacionais que cresceu mesmo com a pandemia impondo diversas restrições. Na última semana, Bezos aumentou seu patrimônio líquido em US$ 13 bilhões – o maior ganho em um único dia para um indivíduo, segundo a Bloomberg.

O crescimento, porém, foi acompanhado de polêmicas e reclamações de funcionários da Amazon sobre as medidas de proteção e combate ao novo coronavírus adotadas pela empresa.

Vários colaboradores dos seus armazéns informaram que não se sentiam seguros para retornar ao trabalho e que a empresa não estava agindo de maneira correta durante o retorno. Alguns, inclusive, foram demitidos após tornar as queixas públicas.

A congressista Lucy McBath, do Partido Democratas, mostrou um áudio de um vendedor terceirizado da Amazon que descreveu que a empresa não está trabalhando para impedir que os produtos de pequenos e médios vendedores sejam suprimidos em seu marketplace diante dos produtos de players maiores.

A democrata também informou que preocupações semelhantes foram relatadas por vários outros vendedores durante as investigações do subcomitê.

Bezos respondeu que a “experiência desse vendedor não é comum”. O executivo também foi questionado se a empresa rastreia dados de seus vendedores parceiros para lançar produtos semelhantes com a marca da Amazon.

Ele, que já havia negado a prática antes, respondeu que a Amazon tem uma política contra isso, mas reconheceu casos de falha na segurança, em que alguns funcionários da companhia foram flagrados distribuindo dados internos.

“Temos uma política contra o uso de dados específicos de vendedores para ajudar nossos negócios de marcas próprias, mas não posso garantir que essa política nunca tenha sido violada”, afirmou Bezos.

Zuckerberg alfineta TikTok e a China

O CEO do Facebook apontou o sucesso de rivais como Apple, Google e TikTok, como justificativa para afirmar que a concorrência na indústria de tecnologia segue viva.

“O aplicativo que mais cresce durante a pandemia é o TikTok. O aplicativo mais popular para vídeos é o YouTube. A plataforma de anúncios que mais cresce é da Amazon. A maior plataforma de anúncios é o Google. E, para cada dólar gasto em publicidade nos EUA, menos de 10 centavos são gastos conosco”, afirmou Mark Zuckerberg.

A holding é investigada por conta das aquisições de outros aplicativos sociais como WhatsApp, Instagram e Giphy.

Durante a audiência, o deputado Jerry Nadler pressionou o executivo sobre a aquisição do Instagram, em 2012, citando uma reportagem do site The Verge, em que-mails publicados indicavam que a aquisição da plataforma poderia servir para neutralizar concorrentes. 

Em sua defesa, ele negou que a compra do Instagram foi feita para impedir o crescimento da concorrência e defendeu as aquisições feitas, afirmando que o WhatsApp e o Instagram não teriam sobrevivido a menos que fossem adquiridos por ele.

Zuckerberg também disse que considera o sucesso do Facebook crucial para manter os EUA em competição à altura com a China. Para ele, a indústria de tecnologia americana é uma forma do país de compartilhar sua cultura com o resto do mundo. “O Facebook é uma empresa orgulhosamente americana”, afirmou.

Tim Cook destaca concorrência na venda de smartphones

O CEO da Apple, Tim Cook, disse em seu relato que a Apple não possui uma participação dominante no mercado em que atua, não apenas no iPhone, mas em todos os produtos.

Questionado sobre as queixas dos desenvolvedores de aplicativos de que a Apple impõe comissões de 15% a 30% da receita obtida pelos aplicativos listados na App Store, Cook defendeu o modelo de negócio respondendo que isso levaria os desenvolvedores de aplicativos iOS a migrar para outras lojas de aplicativos e reforçou que “a concorrência é uma grande virtude, que promove a inovação, abre espaço para a próxima grande ideia e oferece aos consumidores diversas opções”.

Sundar Pichai responde sobre intervenções nas eleições

Em sua fala, o deputado Jim Jordan afirmou que “executivos multiculturais” do Google queriam ajudar a eleger Hillary Clinton em 2016. Jordan mostrou um e-mail vazado de um dos executivos da companhia que dizia querer aumentar a participação de eleitores latinos antes das eleições de 2016 e s estar surpreso com a quantidade de eleitores latinos apoiando Trump.

Pichai respondeu que o trabalho do Google em relação às eleições de 2020  e as passadas é “totalmente apartidário”.

O executivo ainda respondeu sobre as acusações recentes de que o Gmail envia os emails de campanha para as pastas de spam. Pichai disse que a plataforma foi reconfigurada com um layout de “guias” que separa os e-mails pessoais dos e-mails promocionais, e que os e-mails das campanhas se qualificam como os últimos.

O presidente do subcomitê antitruste, David Cicilline, questionou Pichai sobre acusações de que o Google estaria roubando conteúdo de pequenos sites para manter as pessoas por mais tempo nas aplicações, além das ameaças do Google de retirar o site Yelp, plataforma de avaliação de estabelecimentos comerciais, dos resultados de pesquisa e relatórios recentes de que a maioria das pesquisas do Google retorna sites da própria Alphabet como principais resultados.

Pichai respondeu que os algoritmos de busca do Google não priorizam “explicitamente a empresa, mas que pretendem mostrar aos usuários os resultados mais relevantes”.

Pablo Santana

Repórter do InfoMoney. Cobre tecnologia, finanças pessoais, carreiras e negócios