Caixa por aproximação: a aposta da Renner para retorno dos clientes às lojas físicas

Com mais de 100 anos, varejista foi eleita uma das vinte empresas mais inovadoras do país pelo MIT Technology Review

Wesley Santana

Novo modelo de caixa automático da Renner permite checkout sem código de barras. Foto: Fabiano Panizzi

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O cliente chega à loja, escolhe os produtos e se dirige ao caixa para pagamento. Neste momento, percebe que a parte mais fácil de sua jornada é a que vai levar mais tempo, já que a fila está grande e a outra alternativa, o autoatendimento, é burocrático. O resultado é a desistência.

Foi tentando combater esse problema, que contribuia para afastar os clientes das lojas físicas, que as Lojas Renner (LREN3) investiu em soluções inovadoras para pagamento. Além da possibilidade de cobrança junto a um funcionário no meio da loja, a empresa desenvolveu um modelo de caixa automático que dispensa a leitura do código de barras. 

Portanto, basta que o cliente deposite as peças no compartimento, que, automaticamente, elas aparecem na tela para pagamento, agilizando o checkout e dispensando o auxílio de um atendente. O sistema também desativa as etiquetas de segurança, assim que a nota fiscal é emitida.

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A inovação é viabilizada pela tecnologia RFID, em teste desde 2019, que detecta o produto através de um microchip que emite ondas de radiofrequência. 

Essa e outras novidades abriram caminho para que a varejista fosse eleita, na semana passada, como uma das empresas mais inovadoras do país, em premiação do MIT Technology Review. Criada em 1922, a Renner tem apostado na tecnologia para continuar lucrando e expandindo no mesmo ambiente de sites internacionais que conseguem oferecer roupas e calçados a preços bem mais baixos.

No primeiro trimestre deste ano, a varejista registrou lucro líquido de R$ 46 milhões, o que representa baixa superior a 75% no acumulado de doze meses, segundo relatório divulgado em maio. A empresa declarou que o resultado se deu em razão de um cenário macroeconômico desafiador, somado a um movimento do mercado que deixou os clientes afastados das lojas físicas.

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“Percebemos que a tecnologia contribui para elevar a eficiência em loja, acompanhando as mudanças no comportamento do consumidor. Prova disso é que 35% dos nossos clientes já realizam pagamentos auto assistidos por meio das nossas modalidades de self checkout, o que incluir a solução de autoatendimento”, diz Fabiana Taccola, diretora de operações do varejo, em entrevista exclusiva ao InfoMoney

Segundo dados da empresa, já são realizadas 4 milhões de leituras neste formato todos os dias, nas 181 lojas que contam com o serviço -hoje, existem 431 unidades em funcionamento. Internamente, a tecnologia também permite a atualização e o controle em tempo real do estoque disponível nas lojas. 

“O projeto do RFID permitiu reduzir de vários dias para poucas horas o prazo para realização dos inventários em loja. Diminuímos também em 87% a ruptura de estoques”, destaca Taccola, que atua na companhia há onze anos, depois de uma longa passagem na concorrente C&A (CEAB3).

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Inovar para expandir

O Grupo Renner se divide entre cinco marcas que se desdobram para atender diversos públicos, do infantil ao plus size. No entanto, no primeiro semestre, o conglomerado anunciou o fechamento de 20 lojas físicas -a maioria da rede de casa e decoração Camicado-, como forma de se adequar ao movimento dessas unidades que não voltou aos níveis pré-pandemia.

Apesar destes encerramentos, a empresa tem a pretensão de abrir outras dezenas de unidades pelo país e, para atender a futura demanda, construiu um novo centro de distribuição, na cidade de Cabreúva, no interior de São Paulo. Com um investimento na base de R$ 800 milhões, esse CD está previsto para ter seu pleno funcionamento já neste trimestre, com uma infraestrutura altamente tecnológica, que deve permitir um aumento de performance logística.

“Com o nosso novo centro de distribuição, a perspectiva é que o tempo de espera para abastecimento de lojas -atualmente entre 8 e 9 dias- chegue a até 3 dias em 2024. No que se refere aos pedidos de e-commerce, hoje 48% das entregas já são feitas em até dois dias úteis, e isso deve aumentar para entre 70% e 80% até 2025. Além disso, haverá cada vez mais redução do custo de transporte e manuseio, beneficiando o consumidor”, pontua a executiva.

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No primeiro trimestre do ano, as vendas online foram responsáveis por movimentar R$ 448 milhões em todo o grupo, registrando uma penetração de 15% no mercado. Os pagamentos com cartões Renner, geridos pela subsidiária de crédito Realize, representam um terço dos valores que circulam tanto pelas lojas físicas quanto pelos sites do grupo.

“A inovação é uma ferramenta que está a serviço do nosso propósito de encantar a todos, por isso ela é trabalhada de maneira transversal na companhia. Entendemos que inovação impacta positivamente toda a jornada do cliente”, finaliza Fabiana.

O ticker da Renner está sob recomendação de compra nas principais corretoras do país. Os analistas da XP Investimentos destacam a varejista como “um player de alta qualidade, com sólidas perspectivas de crescimento por meio da expansão de lojas, do segmento de serviços financeiros e de iniciativas digitais”.

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Veja as outras empresas inovadoras

A lista Innovative Workplaces 2023, divulgada pelo MIT Technology Review, elenca as vinte marcas mais inovadoras do país, sob diferentes aspectos: gestão, marketing, processos e produtos.

Em ordem alfabética, as empresas consideradas mais inovadoras foram: Algar Tech, Boston Scientific, Bradesco Seguros, Brasilprev, Braskem, Carrefour, Claro, Generali, Hilab, Hospital Albert Einstein, iFood, Lojas Renner, Mercado Bitcoin, Nestlé, Octadesk, Petrobras, Siemens, Vibra Energy, VIVO e Wemobi.

Na divisão de setores, Finanças & Seguros e Indústria & Petróleo foram as campeãs, com quatro vencedores cada. Na sequência, aparece o setor de Saúde com três, seguido por um empate dos setores de Alimentação, Telecom, TI e Varejo, com duas companhias cada.

“Tivemos mais de mil empresas empresas inscritas. Nós medimos a capacidade delas executarem a inovação e o quanto entregaram nos últimos doze meses”. “De maneira geral, de 2022 para 2023, vimos um aumento importante na capacidade de inovação porque mesmo as empresas que não ganharam cresceram. A tendência é que o prêmio fique cada vez mais difícil de ser obtido”, destaca André Miceli, CEO da MIT Technology Review e coordenador da pesquisa.

“A Renner, como toda empresa do varejo tem seus desafios, mas usado a inovação para enfrentá-los. A companhia fez um forte investimento no e-commerce, com uma solução bem estruturada de fulfillment [logística de lojas virtuais], para tentar ligar as lojas físicas ao ambiente digital. Ainda existe muito espaço para crescimento, é claro, mas, dentro do segmento, acelerou mais que os concorrentes”, avalia Miceli.