Passagens aéreas, roupas e remédios puxam alta da inflação em maio

Como já era amplamente esperado pelo mercado, preço da energia elétrica teve forte recuo no mês passado e ajudou a frear a inflação

Lucas Sampaio

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A forte redução no preço da conta de luz desacelerou o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para 0,47% em maio, abaixo do esperado pelo mercado, mas o indicador ainda acumula alta de 11,73% nos últimos 12 meses.

Passagens aéreas, vestuário e produtos farmacêuticos foram os principais “vilões” da inflação no mês passado, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados nesta quinta-feira (9).

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Oito dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo instituto tiveram alta em maio. A maior variação veio de vestuário, com alta de 2,11% e impacto de 0,09 ponto percentual (p.p.) no IPCA, e o maior impacto (0,30 p.p.) veio novamente dos transportes, que subiu 1,34% no mês passado (mas desacelerou em relação à alta de 1,91% de abril).

A inflação dos transportes foi puxada pelas passagens aéreas (18,33%), que já haviam subido 9,48% em abril (9,48%) e representou o maior impacto individual altista no IPCA do mês (0,08 p.p.). Pedro Kislanov, gerente do IPCA, diz que “vale fazer uma ressalva” sobre a alta: “A coleta [do preço] das passagens aéreas é feita dois meses antes. Neste caso, os preços das passagens aéreas foram coletados em março para viagens que seriam realizadas em maio”.

O resultado do grupo vestuário (+2,11%) foi disseminado: houve alta nos preços das roupas masculinas (+2,65%), das roupas femininas (+2,18%) e das roupas infantis (+2,14%). O item calçados e acessórios também registrou variação superior a 2% em maio (+2,06%), e a exceção no grupo foram as joias e bijuterias (cujos preços recuaram 0,34%).

Outro item que teve impacto de 0,08 p.p. na inflação de maio foi produtos farmacêuticos, que subiu 2,51% após o governo autorizar um reajuste de até 10,89% no preço dos medicamentos. O IBGE diz que esse reajuste pode ter sido aplicado pelos varejistas de forma gradual, tendo reflexo no índice tanto de abril quanto de maio (embora a variação tenha sido menor no mês passado).

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Com isso, o grupo saúde e cuidados pessoais (do qual produtos farmacêuticos faz parte), subiu 1,01%. Já alimentos e bebidas desacelerou, de uma forte alta de 2,06% em abril para 0,48% em maio, e os demais grupos ficaram entre alta de 0,04% em educação e de 0,72% de comunicação.

Conta de luz freou a inflação

Considerado o índice oficial de inflação do país, o IPCA ficou abaixo das expectativas do mercado (o consenso Refinitiv projetava uma alta mensal de 0,60% e anual de 11,84%). Ele desacelerou pelo segundo mês seguido, após altas expressivas de 1,62% em março e 1,06% em abril, e agora acumula alta de 11,73% nos últimos 12 meses (menos que os 12,13% observados em abril).

O grande motivo para a desaceleração foi o grupo habitação, que recuou 1,70% devido à queda de 7,95% no preço da energia elétrica causada pelo fim da bandeira tarifária escassez hídrica (o que já era amplamente esperado pelo mercado). Sozinho, o grupo reduziu a inflação do mês passado em 0,26 ponto percentual.

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A conta de luz ficou mais barata pelo segundo mês seguido porque em 16 de abril entrou em vigor a bandeira tarifária verde, que não tem cobrança adicional (a de escassez hídrica adicionava R$ 14,20 a cada 100 kWh consumidos).

Segundo o IBGE, as variações nos preços de energia elétrica nas áreas pesquisadas foram desde -13,49% em Brasília (onde também houve redução de PIS/Cofins) até +6,97% em Fortaleza (onde foi autorizado um reajuste de 24,23% nas tarifas residenciais a partir de 22 de abril). Também se destacou no grupo habitação o recuo nos preços do gás de botijão (-1,02%), após alta de 3,32% em abril.

Alimentos também ajudaram

A desaceleração do grupo alimentação e bebidas (de uma forte alta de 2,06% em abril para 0,48% em maio) ocorreu devido à alimentação no domicílio, que passou de 2,59% para 0,43% entre um mês e outro, devido à queda nos preços de alguns itens que estavam pressionando o IPCA, como tomate (-23,72%) e batata-inglesa (-3,94%).

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Pedro Kislanov, gerente do IPCA, diz que existe um componente sazonal no preços desses alimentos, pois o início do ano é normalmente marcado por preços mais altos devido a questões climáticas. “Agora começamos o período de outono-inverno, que é mais seco e permite aumentar a oferta de alimentos e reduzir os preços. Outro fator é que os preços de alguns alimentos, como a cenoura, subiram muito — o que faz com que a base de comparação seja muito alta”.

O preço da cenoura despencou 24,07% em maio, mas ainda sobe 116,37% nos últimos 12 meses. O maior impacto altista do mês no grupo alimentação e bebidas veio do leite longa vida (0,04 p.p.), que subiu 4,65% no mês e já acumula alta de 28,03% no ano. Além disso, a alta do preço da cebola (+21,36%) foi a maior variação positiva do IPCA no mês passado.

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Lucas Sampaio

Jornalista com 12 anos de experiência nos principais grupos de comunicação do Brasil (TV Globo, Folha, Estadão e Grupo Abril), em diversas funções (editor, repórter, produtor e redator) e editorias (economia, internacional, tecnologia, política e cidades). Graduado pela UFSC com intercâmbio na Universidade Nova de Lisboa.