Classes D e E continuarão a ser mais da metade da população até 2024, projeta consultoria

Porcentagem dos mais pobres só voltará ao nível de 2014, o melhor da série histórica iniciada em 1999, daqui a 6 anos

Equipe InfoMoney

Vista de comunidade no Brasil (Getty Images)
Vista de comunidade no Brasil (Getty Images)

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Os brasileiros mais pobres (classes D e E) continuarão a ser mais da metade da população até 2024 e a retomada da economia tende a favorecer inicialmente as classes sociais mais altas (A), aponta estudo da Tendências Consultoria.

A projeção aponta que 50,7% dos domicílios do país terminarão o ano nas classes D e E (cuja renda mensal domiciliar é de até R$ 2,9 mil), uma leve melhora em relação aos 51,3% de 2021, e apenas 2,8% serão da classe A (acima de R$ 22 mil).

Estratificação dos domicílios em 2022:

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O levantamento aponta também que o número de domicílios das classes D e E não deve diminuir no curto e médio prazo: “A mobilidade social no Brasil deve ser bastante reduzida nos próximos anos, acompanhando um fenômeno típico de países com alta desigualdade de renda”.

Com isso, os mais pobres só deixarão de representar mais da metade dos domicílios brasileiros em 2024 (49,5%) e só voltarão ao nível de 2014 (47%), o melhor da série histórica iniciada em 1999, em 2028 (47,1%). Os dados são da pesquisa Classes de Renda e Consumo no Brasil (2022 a 2032).

Ano Classes D/E
1999 62,5%
2000 62,9%
2001 63,3%
2002 63,1%
2003 64,9%
2004 64,0%
2005 63,2%
2006 59,7%
2007 57,5%
2008 55,1%
2009 54,3%
2010 53,0%
2011 51,8%
2012 48,7%
2013 47,9%
2014 47,0%
2015 49,2%
2016 51,0%
2017 50,8%
2018 50,6%
2019 51,3%
2020 51,2%
2021* 51,3%
2022* 50,7%
2023* 50,1%
2024* 49,5%
2025* 48,9%
2026* 48,3%
2027* 47,7%
2028* 47,1%
2029* 46,5%
2030* 45,9%
2031* 45,3%
2032* 44,7%

Benefícios sociais insuficientes

Segundo o documento, a ampliação permanente dos benefícios sociais (como o Auxílio Brasil) não será suficiente para garantir o enxugamento das classes D e E no curto prazo e as condições do mercado de trabalho devem seguir deterioradas.

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No longo prazo, a migração das famílias mais pobres para classe média (C) deve ser lenta devido ao fim do bônus demográfico, o crescimento econômico médio do país abaixo dos 2,5%, a ausência de valorização real do salário mínimo (acima da inflação) e o menor gasto em políticas de transferência de renda nos próximos anos, de acordo com o estudo.

As classes D e E dependem fortemente das políticas sociais do governo federal (principalmente do Auxílio Brasil), do BPC (Benefício de Prestação Continuada), da Previdência Social e de outras fontes de renda (como o Auxílio Emergencial, pago em 2020 e 2021).

Apenas 47,1% da renda dos mais pobres vêm do trabalho (contra 90,8% da classe C e 86,1% da classe B). O restante vem da Previdência Social (39,0%) e do Auxílio Brasil e do BPC (12,3%). Na classe A, apenas 24,8% da renda vem do trabalho e 74,2% são provenientes de outras, como juros de aplicações financeiras, aluguéis e lucros de empresas.

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O Auxílio Emergencial fez, inclusive, com que a massa de renda total dos mais pobres disparasse 25,8% em 2020, ano em que o benefício era de R$ 600 por mês, mas ela despencou 15% em 2021, quando seu valor e a quantidade de pessoas que o recebiam foram reduzidas.

Para 2022, a projeção é que a renda das classes D e E cresça 2,1%. Mas, apesar de responderem por mais da metade dos domicílios brasileiros, os mais pobres concentram apenas 25,2% da massa salarial (enquanto os 2,8% da classe A detêm 31,6% do bolo).

Despesas e mercado de trabalho

Além disso, nas classes D e E os itens essenciais pesam em 78,6% do orçamento familiar e as despesas de consumo atingem 90,9% das despesas totais, sobrando apenas 5,1% para outras despesas correntes, 1,6% para aumento dos bens e 2,5% para diminuição das dívidas.

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“Quando há uma queda (ou aumento) na renda dos mais pobres, o impacto negativo (ou positivo) no consumo é direto, por alterar automaticamente sua restrição orçamentária”, diz o documento. “Não por acaso, o Auxílio Emergencial do governo federal impulsionou as vendas no varejo em regiões mais assistidas pelas medidas de proteção social, como a Norte”.

O estudo aponta que “o maior entrave ao crescimento da renda dos estratos sociais mais pobres é a educação não revertida em produtividade”, pois “o ingresso no mercado de trabalho é o principal meio de redução da pobreza, mas não é condição suficiente para superá-la”.

“O mercado de trabalho brasileiro é fortemente caracterizado por baixas remunerações, elevadas desigualdades entre grupos de população ocupada, altas taxas de informalidade e marcante heterogeneidade entre os setores produtivos”, diz o levantamento.

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Os mais ricos

O estudo aponta que a classe A sofreu uma forte queda no número de domicílios em 2021, mas a retomada da economia tende a favorecê-la inicialmente.

“Em períodos de crise, a massa de renda das famílias da classe A tende a mostrar pior desempenho em relação às outras classes, devido à maior concentração de empregadores com renda atrelada à lucratividade de suas empresas, dado que os donos de negócio são mais afetados pelo ciclo econômico”, pondera o documento.

“Já no período de reação da economia, o maior número de empregadores permite às famílias da classe A tomarem a dianteira no processo de recomposição da renda, uma vez que as empresas buscam retomar o padrão histórico de lucro, antes de reajustar salários e voltar a contratar”.

Além disso, como a renda dos mais ricos é dependente da remuneração de aplicações financeiras, ela deve ser beneficiada pelo ajuste da política monetária, com o aumento na Selic, atualmente em 11,75% ao ano (na próxima semana, a taxa de juros básica da economia brasileira deve ser elevada para 12,75%).

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