Anvisa diz que não foi acionada para avaliar dose de reforço contra a Covid e que medida precisa da ciência para funcionar

Para agência reguladora, a forma do anúncio da dose extra feita pelo ministro Marcelo Queiroga caminha no sentido inverso ao de outras nações

Dhiego Maia

Fachada do edifício sede da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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GONÇALVES (MG) – A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) disse, nesta terça-feira (16), que não foi consultada pelo Ministério da Saúde sobre a terceira dose de vacina contra a Covid-19 em adultos no país.

A dose extra foi propagandeada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, em coletiva à imprensa sobre o lançamento de um programa para acelerar a cobertura vacinal da população, sobretudo, dos que ainda necessitam concluir o esquema vacinal típico —o de duas doses.

Queiroga também anunciou no mesmo evento a antecipação da aplicação da terceira dose na população acima de 18 anos, de seis para cinco meses, após a conclusão da imunização com duas doses. Pelos números da pasta, já em novembro, 12,4 milhões de brasileiros teriam direito ao reforço.

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Para a Anvisa, a gestão do ministro Queiroga vai contra as decisões tomadas pelas autoridades de saúde de Estados Unidos, Canadá, Indonésia, Grã-Bretanha e Israel; além de membros da Comunidade Europeia e outros organismos que “submeteram a estratégia [dose de reforço] à avaliação prévia das suas autoridades sanitárias reguladoras”, o que não aconteceu nesta terça.

“De forma geral, a decisão sobre dose de reforço deve considerar o cenário epidemiológico, os estudos de efetividade, a circulação das cepas variantes e a segurança das vacinas, bem como uma efetiva estratégia de monitoramento das reações adversas e captação de sinais de interesse para a farmacovigilância”, explica a Anvisa.

Para a agência reguladora, os dados sugerem diminuição da imunidade em algumas populações, ainda que totalmente vacinadas. “A disponibilidade de doses de reforço é um mecanismo importante para assegurar a proteção contínua contra a doença”.

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Mas, para isso, a Anvisa diz que monitora junto às fabricantes das vacinas para confirmar, a partir de estudos científicos, a eficácia e a segurança da dose de reforço das vacinas em uso no país.

Ao enfatizar que este é o seu trabalho, a Anvisa aponta que apenas a Pfizer solicitou, até o momento, a alteração de seu esquema vacinal previsto em bula. Hoje, a aplicação da substância da Pfizer é feita em duas etapas, e o pedido de alteração sob análise da agência busca autorização para uma terceira dose.

“Esse pedido está em análise na Anvisa e pendente de complementação de dados pelo laboratório para que a análise tenha prosseguimento”, diz a Anvisa.

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Procurado, o Ministério da Saúde não se manifestou sobre as posições defendidas pela Anvisa até esta publicação.

Janssen em duas doses

Entre os anúncios de Queiroga, outra novidade foi a alteração de aplicação da Janssen, imunizante que, até então, necessitava de apenas uma única dose. Agora, segundo o ministro, será administrado em duas doses, como a maioria das substâncias aprovadas pela Anvisa para inocular o coronavírus.

Ao citar o parecer do FDA (órgão americano que regula medicamentos), a Anvisa diz que a autoridade sanitária do país da América do Norte considerou a segunda dose da Janssen como de reforço. “O uso de uma dose única de reforço da vacina Janssen contra Covid-19 pode ser realizado pelo menos dois meses após a conclusão do regime primário de dose única em indivíduos com 18 anos de idade ou mais.”

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A Anvisa aguarda que, até a próxima semana, a fabricante da Janssen entregue os estudos sobre eficácia e segurança da dose de reforço para análise da medida.

Entenda

A Anvisa também aproveitou os anúncios feitos pelo Ministério da Saúde para explicar a diferença entre o esquema vacinal previsto em bula e a estratégia de vacinação e reforço, mecanismos desconhecidos pela maioria da população no enfrentamento à pandemia.

O esquema previsto em bula e aprovado pela agência (quantidade de doses e intervalos) indica a forma de uso da vacina que, segundo os estudos científicos, produz os melhores resultados de imunização.

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Já a estratégia de vacinação e reforço é uma decisão da autoridade de saúde, no caso, do Ministério da Saúde, sobre como um determinado imunizante será aplicado na população de forma a se obter a melhor cobertura vacinal, e as estratégias de monitoramento das reações adversas.

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Dhiego Maia

Subeditor de Finanças do InfoMoney. Escreve e edita matérias sobre carreira, economia, empreendedorismo, inovação, investimentos, negócios, startups e tecnologia.