XP destaca motivos para maior cautela com ações de grandes bancos e rebaixa Santander e Bradesco; BB segue como compra

Analistas apontam que o prêmio dos bancos está próximo de múltiplos históricos, enquanto os fundamentos do setor estão deteriorados

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Adotando uma postura mais cautelosa para os bancos diante dos preços mais elevados em um cenário de disrupção causado tanto por intervenções regulatórias quanto por concorrência, a XP fez uma atualização em suas recomendações para o setor.

Marcel Campos, Vitor Pini, Matheus Odaguil e Artur Alves, analistas da XP que assinam o relatório, apontam não acreditarem que os incumbentes devam negociar em linha com os múltiplos históricos de agora em diante.

Assim, desta forma, decidiram rebaixar a recomendação do Bradesco (BBDC4) de compra para neutra e a recomendação do Santander (SANB11) de neutra para venda. Já a recomendação para o Banco do Brasil (BBAS3) foi mantida em compra, enquanto para o Itaú (ITUB4) seguiu neutra.

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Os preços-alvos são os seguintes: de R$ 26 para BBDC4, ou potencial de valorização de 9% frente o fechamento de sexta-feira, de R$ 36 para o Santander Brasil, ou queda de cerca de 10%, de R$ 52 para o BB, ou um potencial de valorização de 64% e, por fim, de R$ 28 para ITUB4, um valor 4% abaixo do registrado na última sexta-feira (23).

Os analistas apontam que rebaixaram o Bradesco porque percebem maiores riscos das iniciativas do Open Finance para a operação de seguros do banco (além do crédito). “Embora ainda gostemos dos fundamentos do Bradesco, acreditamos que o valuation atual oferece uma vantagem limitada” avaliam.

Para o Santander, a XP aponta que os investidores agora enfrentam múltiplos mais altos em um cenário em que o banco deve registrar o menor crescimento anual dos lucros no setor. Também acreditam que o banco apresenta o balanço patrimonial mais arriscado no caso de uma inadimplência do mercado acima do esperado. “Por fim, acreditamos que os resultados do primeiro trimestre de 2021 sejam insustentáveis, o que pode desencadear uma reação acionária negativa”, afirmam.

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Com relação à ação preferida entre os bancões, sendo a única com recomendação de compra, os analistas destacam que o Banco do Brasil apresenta uma assimetria de investimento positiva, principalmente com base no valuation atrativo do banco, enquanto mantém uma operação defendida.

Eles também avaliam que a distribuição de dividendos do banco deve se tornar relevante, pois o banco deve aumentar seu dividend payout (pagamento de dividendos em proporção ao lucro líquido) em um cenário de: i) maior capitalização; ii) recuperação de lucros; iii) Previ I com superávit de R$ 22 bilhões; e iv) um atrativo múltiplo de preços em relação ao valor patrimonial.

Por fim, com relação ao Itaú, os analistas avaliam que o banco é operacionalmente mais arriscado do que o Bradesco e o Banco do Brasil. A visão é que a composição da receita do Itaú é altamente suscetível a disrupções, dado: i) mais empréstimos para o varejo passivos para serem modelados (open banking); ii) um maior percentual de tarifas de varejo; e iii) uma operação de seguro fraca. “Dito isso, acreditamos que tanto a concorrência (cartões e tarifas de varejo principalmente) e ameaças regulatórias (banco aberto e pagamento mais rápido) representam uma ameaça maior para o Itaú”, reforçam.

Razões para mais cautela com bancões

Com relação ao setor em geral, os analistas da XP apontaram alguns motivos para estarem mais cautelosos com o setor: i) a concorrência no varejo aumentou à medida que as barreiras de entrada diminuíram; ii) os órgãos reguladores tornaram-se mais agressivos em prol de mais competição; iii) os players independentes no atacado ganharam market share; e iv) as perspectivas de crédito deterioraram-se com o open banking.

Para eles, os riscos do Open finance parecem maiores do que o previsto para os bancos.

“Mais do que apenas crédito, o programa visa investimentos, seguros e até potencializa o uso do mercado de produtos financeiros. Tal mudança deve aumentar a competição e diminuir o ROE [Retorno sobre o patrimônio líquido] do setor”, avaliam.

E, mesmo que seja difícil prever os vencedores, acreditam que os incumbentes (operadores históricos) podem ser os perdedores devido à sua alta participação de mercado, estrutura e experiência do cliente abaixo da média.

O open banking está para ser implementado em quatro fases no Brasil, sendo que ainda há incertezas quando se olha para o exterior. A XP aponta que o Banco Central da Inglaterra não conseguiu implementar a medida com sucesso, com apenas 10% dos usuários compartilhando seus dados até agora, principalmente impactado por: i) um escopo limitado de compartilhamento de dados; ii) prazo de implementação longo; iii) casos de fraudes; iv) baixa divulgação; v) falta de mecanismos de incentivo à implementação pelos grandes bancos; e vi) um curto período de consentimento de compartilhamento de dados.

Porém, a visão é de que o modelo será bem sucedido no Brasil sai na frente com dados padronizados em API, grande número de participantes já os estágios iniciais e o papel ativo dos reguladores.

Com as companhias tendo acesso aos dados do cliente, pode haver poucas barreiras para a modelagem de crédito e ofertas de produtos assertivas no longo prazo. Dito isso, a concorrência deverá ser impulsionada pela qualidade do produto e pela experiência do cliente, avaliam.

Se de fato a experiência do cliente for um fato decisivo, os operadores históricos podem perder terreno para novos players construídos em uma plataforma centrada no cliente. Outros fatores que podem impactar negativamente os bancos são sua grande participação no mercado de produtos e sistemas antigos, que podem não ajudar em termos de agilidade para se adaptar e reter clientes, afirmam.

O escopo brasileiro inclui ainda outros produtos que não só o crédito, tornando a regulação local mais agressiva do que as experiências externas. Dito isso, a opinião dos analistas é que seguros, investimentos, operações de câmbio e outros serviços também podem ser pressionados, com resultados negativos para os bancos.

Além disso, outros concorrentes podem entrar na tendência de se tornarem plataformas. Os analistas avaliam que, “como a transformação para plataforma valeu a pena para esses concorrentes, acreditamos que outros também possam ingressar neste clube no futuro. Se for esse o caso, teríamos um mercado mais competitivo, com participantes dispostos a destruir valor por maior valor de mercado. Embora não nos sintamos confortáveis em escolher um vencedor, acreditamos que a indústria como um todo perderia valor”.

Apesar da visão mais cautelosa da XP, a sessão é de ganhos de cerca de 2% para os bancos nesta segunda-feira, com os investidores atentos à temporada de resultados, com Santander divulgando seus números no próximo dia 28, antes da abertura do mercado. A XP aponta que, para o segundo trimestre, os resultados do setor devem ser impulsionados por menores provisões, volumes maiores com a gradual retomada da economia, e redução de custos.

Já para o Bank of America, os bancos devem apresentar um crescimento sólido dos empréstimos, gastos operacionais controlados e tendências positivas de inadimplência, enquanto as margens devem ser pressionadas pelos custos de financiamento.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.