Vale (VALE3): resultados sólidos e dividendos bilionários? Esses não são os catalisadores para as ações da mineradora

Analistas estão cada vez mais divididos sobre a ação e reforçam visões diferentes após resultado em linha da mineradora

Lara Rizério

(Shutterstock)
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Resultados sólidos e anúncio de pagamento de dividendos bilionários, mas sem representar um grande catalisador para as ações, que devem seguir principalmente as visões para o minério de ferro.

Esta é a avaliação geral dos analistas sobre o resultado do quarto trimestre de 2022 (4T22) da Vale (VALE3), que teve um lucro líquido (atribuído aos acionistas) de US$ 3,724 bilhões, ante um número de US$ 4,455 bilhões no terceiro trimestre de 2022 e de US$ 5,427 bilhões no quarto trimestre de 2021, baixa anual de 30,4% e trimestral de 16,4%. A projeção Refinitiv era de um lucro de cerca de US$ 2,5 bilhões para a mineradora.

Conforme destaca o Bradesco BBI, a mineradora reportou um 4T22 sólido (e em linha com o estimado), sustentado por volumes de minério de ferro sazonalmente mais fortes e sólida realização de preços, enquanto os resultados de metais básicos registraram uma forte recuperação no trimestre. O desempenho de custo na divisão de minério de ferro, que tem sido uma variável observada de perto pelos investidores, ficou em linha com as estimativas da casa. “Outro destaque positivo foi a recuperação operacional na divisão de Metais Básicos, embora reconheçamos os níveis deprimidos do 3T22”, aponta o banco.

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O lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de US$ 5 bilhões no 4T22 ficou em linha com os US$ 5 bilhões do consenso de mercado e do Bradesco BBI, crescendo 25% no trimestre e recuando 28% no comparativo anual. Ajustando o Ebitda para US$ 375 milhões em despesas relacionadas a Brumadinho, atingiu US$ 4,6 bilhões.

Além dos maiores preços realizados de minério de ferro, níquel e cobre, os custos da mina ao porto estáveis para o minério de ferro foram os destaques na frente operacional, aponta a XP.

O Morgan Stanley avalia que o caixa das operações foi significativamente maior do que a estimativa devido aos resultados operacionais mais altos e aos requisitos de capital de giro mais baixos (principalmente por conta de estoques mais baixos).

A leitura é neutra também para o Credit, que aponta um Ebitda 3% acima do esperado pela casa com o maior preço realizado de minério de ferro e menores “custos caixa C1” (custo de produção dos finos de minério de ferro da mina ao porto). Por outro lado, vê que a geração de caixa no trimestre foi fraca, impactada pela dinâmica sazonal de capital de giro.

O que esperar para a Vale? Depende do que espera para o minério

A mineradora ainda anunciou  distribuição de dividendos de R$ 8,13 bilhões, ou R$ 1,827 por ação; os papéis serão negociadas ex-dividendo na B3 e na NYSE a partir de 14 de março de 2023.

Para o Morgan Stanley, o valor ficou abaixo do consenso de mercado de US$ 2,2 bilhões e dos US$ 3,0 bilhões que tinham  no modelo.

Cabe ressaltar que a empresa mencionou que já completou aproximadamente 43% de seu último programa de recompra de 500 milhões de ações (US$ 3,4 bilhões gastos para recomprar 213 milhões de ações até hoje).

Nesse cenário, a XP ressalta que a Vale continua comprometida com a disciplina de capital, com a maior parte de sua geração de caixa retornando aos acionistas.

Assim, os principais temas a serem observados a partir daqui são (i) os riscos do aumento das taxas de royalties no Brasil; (ii) até onde (e por quanto tempo) durará a alta do preço de minério de Ferro; (iii) monetização nas operações de metais básicos; (iv) influência da Cosan na próxima AGO sobre a nova Diretoria a ser eleita, e; (iv) demanda chinesa de aço após o fim dos bloqueios.

“Ainda gostamos da tese de investimento de longo prazo da Vale e é por isso que mantemos nossa recomendação de compra, mas no curto prazo estamos receosos com a discrepância da alta do preço de minério de ferro em relação a outras commodities (principalmente petróleo)”, aponta a XP.

O Bradesco BBI também permanece construtivo quanto ao momentum de ganhos da Vale à frente, pois espera que a empresa se beneficie fortemente de um ambiente de preços de minério de ferro mais benigno em 2023 e de um desempenho operacional mais saudável na divisão de metais básicos.

“Além disso, notamos que a empresa continua focada na remuneração dos acionistas, enquanto sua ‘dívida líquida expandida’ permanece sob controle em US$ 14 bilhões”, aponta. Assim, mantém recomendação de compra para VALE3, com preço-alvo de US$ 23 por ADR (papéis da companhia brasileira negociados na Bolsa de Nova York), potencial de valorização de 35% frente o fechamento da véspera.

Por outro lado, os mais céticos com a tese em Vale também mantêm as suas recomendações. O JPMorgan, que recentemente rebaixou a recomendação para os ativos para neutra, destacou que não são esperadas grandes revisões para os números da companhia após o resultado.

“Nossas conversas sugerem que os investidores estão atualmente com incertezas sobre a direção dos preços do minério de ferro. Embora a maioria acredite que os preços provavelmente cairão no médio prazo, as discussões são sobre se poderemos ver outro rali no curto prazo, antes que os preços comecem a se normalizar. Acreditamos que o sentimento e as perspectivas serão os principais impulsionadores das estimativas de lucros para 2023”, avalia a instituição.

O UBS BB também segue com sua visão negativa para a ação, com recomendação de venda e preço-alvo de US$ 12 para o ADR (ou queda de 30% em relação ao fechamento da véspera).

“Atualmente, a Vale está precificando o minério de ferro a US$ 109 a tonelada ante nossa previsão de US$ 95  a tonelada até o final de 2023. De acordo com nossas estimativas, o recente rali do minério de ferro é principalmente por especulação sobre a reabertura da China, em vez dos fundamentos”, destaca o banco, que vê possíveis pressões para baixo nos preços da commodity em meio à recente alta dos embarques de minério.

Luan Alves, analista-chefe da VG Research, ressalta que a ação da Vale perdeu parte do ímpeto, com investidores realizando lucros devido a falta de novos catalisadores positivos. “De todo modo, reforçamos um cenário ainda benigno para o resto do ano, com resultados satisfatórios principalmente no 1T23 que já está contratado. Mas considerando a atual conjuntura, não devemos ver grandes movimentos de valorização nesse momento”, apontou.

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Em relatório, o Credit Suisse ainda apontou que os investidores acompanham a teleconferência de resultados de olho nas atualizações da empresa sobre a venda minoritária da divisão de metais básicos e sobre algum acordo de pagamento final em relação ao incidente de Mariana.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.