JPMorgan rebaixa Vale (VALE3) para neutra e vê rali superando fundamentos; Gerdau (GGBR4) é cortada por JP e Goldman

Analistas veem múltiplos das companhias a valores justos e não enxergam mais tantos catalisadores para as ações

Lara Rizério

Mineração da Vale em Minas Gerais (Mario Tama/Getty Images)

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Após um forte rali com a tese de reabertura da China, as ações de mineradoras e de siderúrgicas, notoriamente da Vale (VALE3), tiveram uma “acomodação” nas últimas semanas. A Vale, após fechar a R$ 98 no dia 26 de janeiro, encerrou o pregão da véspera a R$ 88,72, ou uma queda de 9,5%, com muitos agentes de mercado já vendo como precificada a tese mais otimista de recuperação do gigante asiático.

Neste sentido, o JPMorgan reduziu a recomendação para os ativos da Vale, assim como os da siderúrgica Gerdau (GGBR4) e a holding Metalúrgica Gerdau (GOAU4), de equivalente à compra (overweight, exposição acima da média do mercado) para neutra. O preço-alvo para VALE3 é de R$ 93, para GGBR4 é R$ 32,50 e para GOAU4 é de R$ 13.

Os analistas do banco também mudaram a sua ordem de preferência no setor, sendo Ternium (cuja ação é negociada no mercado americano) agora a top pick, seguida por CSN (CSNA3), com maior potencial de valorização após aquisições no segmento de cimento e energia, Vale, Gerdau e Usiminas (USIM5).

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Além do JP, o Goldman Sachs também cortou a recomendação de Gerdau para neutra (veja mais abaixo), o que leva a uma reação fortemente negativa dos ativos GGBR4 nesta sessão. Às 10h08 (horário de Brasília), os ativos GGBR4 chegaram a cair 5,78%, a R$ 29,34, para depois entrarem em leilão. Já a Vale registrava queda mais amena, de 1,10%, a R$ 87,74, às 10h13.

“Hora da parada”

Entre os segmentos de commodities, os analistas do JP destacam continuarem preferindo petróleo e gás ao minério e siderurgia. Já papel e celulose é o menos preferido.

O JP traçou um paralelo com a Fórmula 1 para rebaixar a recomendação de Vale e Gerdau. “Na Fórmula 1, mesmo estando na liderança, você sempre precisará fazer um ‘pit stop’ para se preparar para a próxima etapa da corrida. Tanto a Vale quanto a Gerdau tiveram corridas muito fortes nos últimos meses (+40% e +35%, respectivamente, desde as mínimas), e agora é hora de ir para o box, a nosso ver”, aponta o banco.

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Os analistas acreditam que haverá melhores oportunidades de entrada nessas ações em 2023, quando a reabertura da China se tornar um fator mais relevante para as commodities.

No caso de Vale, a equipe de análise aponta que o sentimento positivo com a reabertura da China superou os fundamentos do minério de ferro, uma vez que estes fundamentos não mudaram materialmente. A demanda por aço pela China tem sido fraca e os analistas esperam queda de 1,0% na produção anual.

Enquanto isso, a oferta de minério de ferro deve se recuperar sazonalmente à medida que as chuvas diminuem no Brasil. “Acreditamos que há muito sentimento positivo já precificado na cotação do minério e esperamos que os preços sejam corrigidos no segundo trimestre de 2023 (2T23)”, apontam os analistas. As ações da Vale seguiram o rali do minério de ferro e negociam agora a 4,8 vezes o EV/Ebitda (valor da empresa sobre o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) versus níveis justos de 4,5 a 5 vezes.

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O banco projeta a commodity a US$ 95 a tonelada no ano de 2023, versus o preço spot de US$ 122 a tonelada. “No curto prazo, os resultados do 1T23 e potenciais anúncios de dividendos podem ser um catalisador para os preços das ações,
mas no médio prazo, o momentum do minério de ferro deve assumir o comando”, apontam.

No caso da Gerdau, a visão é de um ano de normalização. “A siderúrgica tem reportado bons resultados nos últimos anos e o tema para 2023 é a velocidade e o nível de normalização. Embora esperemos que os ganhos se estabilizem em patamares muito mais altos níveis do que os ciclos anteriores, o ímpeto de ganhos ainda é para baixo”, avaliam os analistas.

Os preços das ações também subiram e a Gerdau está sendo negociada atualmente a 4,0 vezes a 4,8 vezes o EV/Ebitda, versus os níveis justos de 4,5 vezes a 5 vezes. O banco vê potencial limitado de valorização aos preços atuais e, uma vez que o ímpeto de ganhos se deteriore, os preços das ações devem acompanhar. Enquanto isso, a reforma de alto-forno da Gerdau  deve pressionar ainda mais o fluxo de caixa livre da companhia.

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Já para a Metalúrgica Gerdau, pagamentos extraordinários de dividendos são o principal ponto para os preços das ações no curto prazo.

Além do JPMorgan, o Goldman Sachs também rebaixou as ações da Gerdau de compra para neutro.

“Desde que foi adicionada à nossa ‘lista de compra’ em 9 de dezembro de 2021, a GGBR4 subiu 8% (versus alta do Ibovespa de 3%), superando o desempenho médio do setor de aço da América Latina em 35% e do setor de materiais básicos da região  em 16%. No entanto, agora acreditamos que risco/recompensa é mais equilibrado, vemos catalisadores positivos limitados a partir daqui”, apontam.

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Mais especificamente, os analistas acreditam que a combinação de enfraquecimento da lucratividade em seus principais mercados (EUA e Brasil), juntamente com o aumento do investimento em capital, limitará a capacidade da empresa de retornar valor aos acionistas.

“Agora vemos a Gerdau entregando um rendimento de fluxo de caixa livre de 14-4% em 2023-2024 (ou 9% em uma base normalizada), o que vemos como garantido. Continuamos a reconhecer os interessantes catalisadores de valor de longo prazo da empresa (diversificação regional, qualidade de ativos e forte posição de balanço), mas vemos um potencial de valorização limitado”, avalia o banco.

O Goldman cortou ainda o preço-alvo de R$ 38 para R$ 31, de forma a refletir a expectativa de maior capex (investimentos em capital) e um ponto de partida mais baixo para margens na América do Norte.

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O banco ainda ressalta que os preços domésticos do aço da Gerdau têm sido historicamente negociados com um prêmio de paridade de importação para o vergalhão turco, que geralmente segue os preços do vergalhão da China. No entanto, o vergalhão turco já está sendo negociado com um prêmio de 11% em relação aos preços da China (contra 4% de desconto historicamente) e, em um contexto de desaceleração da atividade ex-China em 2023, vê espaço limitado para ganhos adicionais.

Mesmo em um cenário de preços mais fortes na China, dado o prêmio atual, não está claro se isso se traduziria necessariamente em preços mais altos da commodity turca. Por outro lado, o recente terremoto na Turquia e a possível interrupção do fornecimento são um risco potencial de alta de curto prazo, avalia.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.