Vale já perdeu R$ 48,3 bilhões em valor de mercado neste ano com sucessão tumultuada

Governo Lula não conseguiu emplacar Mantega na mineradora, mas empresa anunciou ontem que atual CEO sairá no fim do ano

Equipe InfoMoney

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A Vale (VALE3) já perdeu R$ 48,3 bilhões em valor de mercado desde o início deste ano. A mineradora enfrenta um processo turbulento de troca de presidência, que contou com uma tentativa do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de emplacar o ex-ministro Guido Mantega (PT) no comando da companhia.

Na sexta-feira (8), o Conselho de Administração da companhia decidiu renovar o contrato de seu CEO, Eduardo Bartolomeo, por mais seis meses (até 31 de dezembro, pois seu mandato se encerraria em 31 de maio). Agora, a Vale vai contratar uma empresa de recursos humanos para elaborar uma lista tríplice, com indicações de sucessores.

Mas há um temor de que a mudança seja um jogo de “cartas marcadas”, segundo fonte próxima aos conselheiros da mineradora.

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Em meio ao processo turbulento, o valor de mercado da Vale caiu de R$ 332,1 bilhões no fim do ano passado para R$ 283,8 bilhões ontem. Os cálculos são de Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria.

A tentativa de troca de comando na Vale foi mais uma das polêmicas do atual governo, que tentou emplacar o ex-ministro da Fazenda dos governo Lula e Dilma Rousseff (PT), Guido Mantega, na presidência da empresa e no Conselho de Administração. A interferência direta provocou uma divisão entre os acionistas da companhia.

A saída de Bartolomeo do cargo era defendida pela Previ, fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (BBAS3), por meio do qual o governo exerce a sua influência na empresa.

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O CEO não poderá fazer parte da lista. Nas últimas semanas, vários nomes apareceram como cotados para ocupar a presidência da Vale, como Walter Schalka, presidente da Suzano (SUZB3); Paulo Caffarelli, ex-presidente do BB e da Cielo (CIEL3); e Murilo Ferreira, ex-presidente da própria Vale. Segundo relatos, os conselheiros não chegaram a deliberar nomes de sucessores na reunião de sexta.

Ofensiva do governo

A decisão atende ao pleito do governo Lula de remover Bartolomeu do cargo, mas adia a decisão sobre quem deverá substituí-lo. O presidente da República tem feito reiteradas críticas à mineradora nos últimos meses. No dia em que a tragédia em Brumadinho completou 5 anos, em 25 de janeiro, afirmou que a Vale “nada fez para reparar a destruição causada” pelo rompimento de barragem que deixou 270 mortos.

Na semana passada, criticou duramente a administração da empresa e cobrou mais responsabilidade da mineradora, tanto no pagamento de ações indenizatórias quanto na produção, dizendo que as empresas precisam se alinhar ao modelo de desenvolvimento do governo.

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A tentativa de interferência provocou uma divisão do conselho. A reunião extraordinária em que foi sacramentada a troca de comando começou no início da tarde e se estendeu até o fim da noite. Ela não foi unânime, com 11 votos a favor da troca do CEO e dois pela permanência de Bartolomeo.

Rebaixamento das recomendações

A tumultuada sucessão na Vale levou o BTG Pactual a rebaixar a recomendação de compra das ações da empresa para “neutra”. Os papéis já caíram 14,49% neste ano, e um relatório de terça-feira (5) do time de analistas do banco destaca que o rebaixamento se justifica, pois a mineradora vem enfrentando um intenso ruído nas últimas semanas, que se intensificou em meio às discussões sobre o próximo CEO da empresa, além das notícias em torno da Samarco/Renova.

Outro ponto mencionado foi a série de interrupções operacionais no estado do Pará (Sossego e Onça Puma) — já revertidas, mas que indicam a animosidade das autoridades locais em relação à empresa.

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A Secretaria do Meio Ambiente do estado havia suspendido as licenças das duas minas na semana passada. Na ocasião, a companhia reiterou seu compromisso de manter diálogo com as autoridades competentes.

“A Vale tem sido submetida a um alto grau de ruído e pressão política ultimamente, o que acreditamos ser injusto e claramente excessivo”, avaliam os analistas. “Há uma clara divisão entre os membros do conselho sobre a direção futura da empresa, o que acreditamos ser preocupante para uma empresa com tantos desafios pela frente.”

Mudança de lado

Representantes de acionistas estrangeiros, como a japonesa Mitsui e fundos de investimentos, como BlackRock e Capital, que antes haviam votado pela permanência do de Bartolomeo, ontem votaram pela sua substituição, com a extensão do seu mandato até o fim do ano.

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Dos 13 conselheiros da mineradora, apenas os independentes Paulo Hartung (ex-governador do Espírito Santos) e José Luciano Penido (ex-presidente da Samarco) se mantiveram contrários à saída do CEO, por serem mais refratários à influência do governo na companhia.

(Com Estadão Conteúdo)