Tron (TRX): a criptomoeda que pode virar a próxima Terra (LUNA) e entrar em colapso

Criptomoeda tem chamado atenção após lançar sua própria stablecoin, mas semelhança com o projeto Terra gera preocupação

Paulo Barros CoinDesk

Fonte: Divulgação

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A Tron (TRX), blockchain fundada pelo empresário Justin Sun em 2017 para competir com o Ethereum (ETH), lançou em maio uma stablecoin chamada Decentralized USD (USDD) que chamou atenção do mercado por fazer muitas promessas, mas sobretudo por lembrar a TerraUSD (UST), que entrou em colapso junto com a Terra (LUNA) há pouco mais de duas semanas.

“Lembrar” talvez seja brando demais: segundo especialistas, o novo projeto da Tron é uma verdadeira cópia da UST.

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“É mecanicamente semelhante ao UST da Terra em termos de cunhagem e estabilidade de preços”, disse Dustin Teander, analista da plataforma de dados de ativos digitais Messari. Já Kevin Zhou, cofundador do fundo de hedge Galois Capital, chamou a USDD de “clone da LUNA”.

Stablecoins algorítmicas – criptomoedas com um preço atrelado a outro ativo, geralmente ao dólar americano por um mecanismo de incentivo pré-programado ou “algorítmico” – viraram o assunto da vez em criptomoedas depois do que aconteceu com as criptos da blockchain Terra.

Luna e UST um dia valeram cerca de US$ 60 bilhões após usuários serem atraídos por um protocolo blockchain chamado Anchor que oferecia 20% de juros mediante o depósito de UST. Da mesma forma, a Tron lançou o JustLend, protocolo que promete oferecer 30% de rendimento.

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O número, no entanto, pode ser maior em outras plataformas que aderem à solução, criando uma concorrência para ver quem traz o maior número de usuários e consegue acumular mais USDD. Na exchange estrangeira Bybit, por exemplo, investidores podem acessar um staking de USDD que oferece até 99% de rendimento anual.

“A  USDD já atingiu sete bilhões de dólares de TVL (valor total bloqueado) e a Tron deve subir no curto prazo graças a esse aumento de capital entrando na sua stablecoin“, explica Tasso Lago, gestor de fundos privados em criptomoedas e fundador da Financial Move.

O especialista, no entanto, alerta que, pela semelhança com a Terra (Luna), a USDD e, por consequência, a Tron, podem ter o mesmo fim e entrar em colapso. “No médio prazo podemos ter uma falha no algoritmo igual vimos com a UST, caso a USDD perca a paridade com o dólar. Portanto é bem importante salientar para os investidores que existe um risco muito grande”.

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Como funciona a stablecoin da Tron

Em uma carta aberta divulgada em abril, Justin Sun, fundador e ex-CEO da Tron, disse que “a Tron está iniciando uma revolução, reunindo todos os seus recursos para criar a USDD, uma stablecoin totalmente descentralizada sustentada por matemática e algoritmos, trazendo o desenvolvimento de stablecoin para o próximo nível.”

De acordo com o white paper (guia) da USDD, a indexação da criptomoeda será sustentada criando e destruindo USDD por um mecanismo de mintagem via arbitragem.

Se o preço do USDD cair abaixo de US$ 1, qualquer pessoa pode comprar 1 USDD no mercado externo e depois trocar 1 USDD por US$ 1 em TRX, garantindo lucro. Como resultado da arbitragem, 1 USDD será queimado e US$ 1 em TRX será cunhado. Teoricamente, à medida que a oferta de USDD diminui, o preço do USDD aumentará, a ponto de não haver espaço para arbitragem.

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Da mesma forma, se o preço do USDD estiver acima de US$ 1, os usuários podem trocar US$ 1 em token TRX por 1 USDD no protocolo. Dessa forma, 1 USDD será cunhado e US$ 1 em TRX será queimado, expandindo a oferta de USDD até que seu preço caia e recupere a paridade com o dólar.

O white paper descreve a criação da TronDAO Reserve, “a primeira reserva descentralizada na indústria de blockchain”, que “visa proteger a indústria geral de blockchain e o mercado de criptomoedas, evitar negociações de pânico causadas por crises financeiras e mitigar crises econômicas severas e de longo prazo”.

Para isso, a Tron planeja levantar US$ 10 bilhões para a TronDAO, uma reserva que teoricamente poderia ajudar a manter a paridade do dólar em uma potencial turbulência no mercado.

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Tudo isso soa familiar?

A arbitragem de USDD e TRX é exatamente a mesma utilizada pela Terra para manter a paridade da UST com o dólar.

Além disso, há o rendimento anual de 30%, ferramenta usada pela Tron para gerar demanda por USDD, assim como o Anchor sustentou a demanda pela stablecoin da Terra com um rendimento anual de 20% sobre depósitos em UST.

Leia também: O colapso das criptomoedas Terra (LUNA) e UST em 5 gráficos

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Já TronDAO se assemelha à Luna Foundation Guard, entidade que também anunciou a criação de uma reserva para sustentar a UST em caso de crise, algo que se mostrou falho: as reservas em Bitcoin foram vendidas sem que fosse possível resgatar a UST do fundo do poço.

O projeto é considerado, no mínimo, nebuloso por boa parte dos especialistas. “Não está claro em qual ativo as reservas de US$ 10 bilhões estarão ou como ou quando elas serão utilizadas no sistema”, disse Teander, da Messari. “Uma taxa de 30% livre de risco é muito alta para manter”, afirmou o analista. “Especialmente se não houver receita orgânica para compensar parcialmente o custo”.

O cenário parece pouco animador. “A primeira coisa que precisa ser monitorada é se o projeto para de pé do ponto de vista de receita e despesa. Todo projeto que gasta mais do que arrecada é insustentável. Terra (Luna) foi a melhor tentativa até hoje [de criar uma stablecoin puramente algorítmica]. Se o melhor cavalo tropeçou, eu não iria para outro por enquanto”, recomenda Alexandre Vasarhelyi, sócio e gestor de portfólio da BLP Crypto.

Histórico duvidoso

A Tron precisa atrair usuários rapidamente para cumprir as metas elevadas que traçou para a USDD. Mas, como o projeto se saiu desde que foi lançado?

“Historicamente, a Tron ficou atrás de outros ecossistemas na construção de aplicativos para consumidores finais”, afirmou o analista da Messari.

Informações da plataforma de dados de finanças descentralizadas (DeFi) DefiLlama coletados em maio mostram que a maior parte dos valores bloqueados na blockchain Tron não está sendo usada. Dos US$ 6,35 bilhões depositados, quase tudo está em três protocolos: JustLend, JustStables e SunSwap.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos