Temor com eleição do mercado é domingo não ser o final do campeonato, diz estrategista do JPMorgan

"Existe uma apreensão dos investidores se o resultado que for vencedor nas urnas será de fato implementado", afirmou Emy Shayo

Reuters

Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) são os dois principais cabos eleitorais de candidatos nas eleições municipais de 2024

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SÃO PAULO (Reuters) – Um evento que adie o desfecho da corrida presidencial no Brasil no próximo domingo é uma preocupação dos investidores, de acordo com a estrategista de ações do J.P. Morgan Emy Shayo, destacando que as pessoas querem virar a página da incerteza eleitoral e começar a discutir outros temas.

“Existe uma apreensão dos investidores se o resultado que for vencedor nas urnas será de fato implementado”, afirmou em entrevista à Reuters, acrescentando que esse tem sido um dos questionamentos mais proeminentes de investidores estrangeiros – “a repercussão do resultado das eleições após o anúncio”.

“O temor é se domingo não será o final do campeonato ou se ele se estenderá. No momento, o mercado não consegue prever”, afirmou. “O que todo mundo quer nesse momento é chegar a uma definição, independentemente de qual for. E aí você trabalha os seus cenários baseados nisso”, acrescentou.

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Na visão dela, a simples conclusão do processo eleitoral, com a definição de quem estará à frente do Palácio do Planalto a partir de 2023, seja Luiz Inácio Lula da Silva ou Jair Bolsonaro (PL), encerra uma incerteza e tende a ser um “super condicionante” de arrefecimento de volatilidade no mercado.

“As pessoas querem virar a página da incerteza eleitoral e começar a discutir outros temas. Como estão os preços que estão no mercado? Como se comparam aos do resto do mundo? Como o Brasil está posicionado geopoliticamente?”, reforçou.

O Brasil se prepara para um segundo turno tenso no domingo, com Lula distante de Bolsonaro entre 4 e 6 pontos percentuais, de acordo com as principais pesquisas de opinião, sob a sombra dos erros dos levantamentos que, às vésperas do primeiro embate, subestimaram a votação do atual presidente.

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Soma-se a isso a crescente escalada de declarações de Bolsonaro contra a autoridade eleitoral, a quem acusa de ser parcial. O presidente repete que o sistema eletrônico de votação é passível de fraude, sem apresentar provas, e já disse que só reconhecerá os resultados se as eleições forem limpas e transparentes, sem detalhar o que isso significa.

O quadro eleva o temor de adversários e de observadores internacionais de que Bolsonaro siga seu aliado Donald Trump e conteste o resultado das urnas, em caso de derrota.

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Visões diferentes

Shayo afirmou que realmente há propostas diferentes entre os candidatos, uma é vista pelo mercado como um pouco mais intervencionista, a outra um pouco mais liberal.

“A grande diferença é a questão do potencial de privatização e do tamanho do Estado como um todo. O mercado enxerga que o Bolsonaro tem uma tendência maior a privatização do que o Lula.”

Ainda assim, ela avalia que se sabe muito pouco sobre as políticas de ambos os candidatos, principalmente fiscais.

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“Não sabemos exatamente o que vem por aí (de políticas, em especial fiscal). Sabemos que há o compromisso de ambos os lados de manter uma política fiscal que seja crível e que leve a uma estabilidade da dívida/PIB… Mas a gente tem poucos detalhes.”

Preferências

Para Shayo, ficou muito claro que o mercado assumiu uma preferência após o resultado do primeiro turno, quando a votação mostrou uma distância menor entre Lula e Bolsonaro do que sinalizavam as pesquisas, embora com o petista ainda na frente, e elegeu-se um Congresso Nacional mais conservador.

Esse quadro, disse, levou à análise de que Bolsonaro pode ganhar e de que, se Lula vencer, ele vai ter o Congresso fazendo uma certa moderação. Com novas pesquisas na sequência mostrando um estreitamento na diferença entre os candidatos, os preços das ações “andaram” com os levantamentos.

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“Isso foi muito evidente na semana passada na precificação dos ativos, principalmente das estatais”, afirmou. Petrobras acumulou apenas na semana passada alta de quase 13%, enquanto Banco do Brasil contabilizou ganho de 14%. No mesmo período, o Ibovespa subiu 7%.

Nesta semana, porém, o mercado devolveu parte relevante desse movimento, principalmente após episódio envolvendo ataque do ex-deputado Roberto Jefferson, apoiador de Bolsonaro, a policiais federais. Nos últimos três pregões, o Ibovespa somou um declínio de quase 6%.

Ela não quis arriscar um palpite sobre uma primeira reação na bolsa paulista a qualquer um dos potenciais arremates da votação no dia 30, mas ponderou que Lula tem uma opcionalidade positiva caso vença que é a nomeação de um ministro da Fazenda que o mercado abrace.

“Essa decisão impactará na perspectiva para o mercado”, avaliou. “No fim, o mais importante é passar esse momento. A expectativa é termos uma definição do cenário político.”

Shayo e equipe reiteraram recentemente recomendação ‘overweight’ para ações brasileiras, citando entre outros fatores que o crescimento da economia surpreendeu positivamente, enquanto o ciclo de alta da Selic foi encerrado e há expectativa de queda na taxa em 2023.

“Obviamente que nós estamos em um momento idiossincrático muito importante… Mas, olhando para a frente, eu, que sou estrategista de ações, fico na perspectiva de quando vai cair o juro –quando, quanto e em quais circunstâncias”, acrescentou.

Segundo ela, um dos assuntos que se deve ter em mente para o próximo ano é o ciclo de alta da taxa básica de juros dos Estados Unidos. A evidência de que o Federal Reserve encerrou o aperto, avalia, será um gatilho para o investidor realmente começar a olhar para mercados emergentes.

“A partir do momento que você vê a inflação dos Estados Unidos começando a cair e o Fed estabilizando (os juros), é a partir daí que você pode ter uma tomada de risco maior para mercados emergentes.”

Para a Selic, o JPMorgan prevê uma primeira queda em junho, totalizando um corte de 2,5 pontos percentuais em 2023.