Siderúrgicas veem cenário externo com cautela e segundo semestre desafiador

Empresas observaram preços de aço e matérias-primas com alta volatilidade, além de cadeia logística com problemas pela guerra Rússia-Ucrânia

Augusto Diniz

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As siderúrgicas listadas na bolsa brasileira vêm enfrentando um cenário de custos maiores de suas operações, fretes mais elevados e uma atividade econômica incerta na China, o que têm levado as companhias do setor a adotarem uma cautela adicional, diante de um segundo semestre que promete ser desafiador.

No segundo trimestre, de forma geral, as empresas de matérias-primas e commodities publicaram resultados mistos. Algumas siderúrgicas tiveram dados acima das expectativas, como a Gerdau (GGBR4) superando em preços realizados, Usiminas (USIM5) fortes nos embarques, embora CSN (CSNA3) tenha decepcionado em parte, apontou o BofA.

Gustavo Werneck, CEO da Gerdau (GGBR4), observou que os preços internacionais do aço e das matérias-primas registram alta volatilidade, enquanto o presidente do Conselho de Administração da CSN (CSNA3), Benjamin Steinbruch, considerou o 2T22 “desorganizado” em termos de cadeia de preço e logística.

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Por sua vez, Alberto Ono, CEO da Usiminas (USIM5), destacou o cenário volátil tanto doméstico quanto internacional, “principalmente por conta do conflito Rússia-Ucrânia”, o que afetou os preços do aço e da logística. Os executivos fizeram essas declarações durante teleconferências de resultados.

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Estoques baixos

Na avaliação dos executivos do setor, porém, os estoques de minérios, aço, carvão e cimento estão baixos na China, sobretudo por conta de um primeiro semestre marcado por lockdowns em várias cidades chinesas, em razão da política de Covid-19 zero do governo chinês.

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Isso poderá gerar, portanto, assim que ocorrer um virada do mercado chinês, uma forte retomada das vendas para este país.

Conforme Werneck, as recentes medidas de estímulos implementadas na China são positivas e podem fazer reaquecer o mercado. Mas alertou que o 3T22 pode não ter um resultado tão forte como no mesmo período do ano passado por causa da inflação global.

Segundo o CEO da Gerdau, “os custos mais altos de matéria-prima que compramos nos últimos meses – como o carvão – vão impactar nos nossos custos do 3T22, mas não de tal forma que a gente não possa ter um trimestre forte”.

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A Gerdau apontou, por outro lado, que, apesar do aumento dos juros e da inflação nos Estados Unidos, o país segue resiliente no consumo de aço.

Thiago Rodrigues, vice-presidente de Finanças da Usiminas, acrescentou ver continuidade da pressão de custos no segundo semestre. “A estrutura de custo no 3T22 deve ficar igual à do primeiro semestre, com preço alto na placa de aço e do coque”, comentou.

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Mercado interno

A Gerdau, nos resultados do 2T22, relatou que a demanda de aço para a construção civil no Brasil foi 4% maior em relação ao mesmo período do ano passado.

Gustavo Werneck crê na manutenção do cenário positivo no Brasil por conta das vendas de imóveis registradas no trimestre passado. “Setor da construção civil permanece robusto, com recordes de vendas, de canteiros de obras ativos, de lançamentos imobiliários e de geração de empregos, reforçando a perspectiva ainda positiva para os próximos meses”, ressaltou.

Mas o CEO não vê crescimento das vendas de aço no varejo, como ocorreu durante a pandemia. A redução do poder de compra e a inflação são os motivos apontados para o desaquecimento no segmento.

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“Mas equipamentos, veículos pesados e infraestrutura, vão repor de certa forma o varejo”, avalia Werneck. Além disso, executivos da Gerdau explicaram que a redução de IPI do vergalhão, promovida pelo governo, não afetou a rentabilidade da companhia nesse segmento. A empresa alegou que o serviço de distribuição oferecido com o vergalhão não favorece o importador.

Alberto Ono, da Usiminas, também destacou o aumento de vendas de aço no mercado interno, apesar do cenário volátil no 2T22. A empresa disse que a indústria automobilística brasileira ainda sofre com a falta de componentes, mas a indústria em geral puxou os resultados do 2T22 principalmente por conta do agronegócio e também do setor eletroeletrônico.

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Guidances, alocação de capital, recompra de ações e alavancagem

A Usiminas destacou no 2T22 o reescalonamento de dívida com vencimento em 2023, para pagamento em 2027 e 2029, o que, segundo a companhia, dá fôlego para empresa cumprir o capex em 2022 e no ano que vem. Aliás, a companhia manteve a guidance de capex de R$ 2 bilhões para o ano.

Em meio à volatilidade do mercado, a Gerdau reafirmou também que as guidances de 2022 relacionadas ao capex estão mantidas, mas descartou projetos greenfield e M&A no futuro. A companhia fez recompra de ações no 2T22, prática descartada pela CSN.

Benjamin Steinbruch comentou, em meio à onda de recompra de ações feitas por várias companhias listadas na B3, que a CSN não a fez por uma questão de disciplina e alocação de capital. “Nossa prioridade é o respeito à alavancagem. Trabalhar com alavancagem baixa é muito mais seguro e previsível. Objetivamos isso”, destacou.

A CSN fez atualização de projeções para 2022, e informou ao mercado a substituição do custo caixa na mineração de US$18/t para um patamar entre US$20/t a US$22/t em 2022; e projeção de produzir um volume total de minério de ferro mais compras de terceiros entre 36.000 e 38.000 milhões/t.

Pedro Oliva, CFO da CSN Mineração, comentou a atualização de guidance, que reduz a projeção sobe produção de minério de ferro. “Tivemos fortes chuvas no início do ano. No segundo trimestre, tivemos chuvas em abril. Assoreou lugares que atinha captação de água. Era um impacto que a gente não esperava”, destacou.

Além disso, ocorreu impacto também com a integração dos projetos de aumento de qualidade do minério (CMAI 3, Rebritagem e Espirais), que se conectam a planta central e representam 2/3 da capacidade instalada da planta. “As paradas para fazer essa integração acabaram gerando impacto nesse volume, mas acho que ao longo do 3T22 isso já estará sendo superado”, disse.

Mineração

A CSN conta com uma recuperação de preço internacional do minério de ferro para melhorar o desempenho no segundo semestre. A estabilização dos preços dos fretes também é fator que a empresa espera para melhorar o resultado no período.

Carlos Rezzonico, CEO de Usiminas Mineração, disse que o resultado do semestre vai depende muito do custo do combustível. “Na mineração, os custos de movimentação de material são os maiores que se têm”, disse. Mas ele ressaltou que os guidances para 2022 na produção de minério de ferro estão mantidos.

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