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A última sessão de maio é marcada por perdas nos ativos brasileiros, resgatando o conhecido bordão do mercado financeiro: “sell in may and go away” (“venda em maio e vá embora”), em alusão ao histórico de resultados piores nos mercados globais antes de começar o verão no Hemisfério Norte, em junho.
Nesta sexta-feira (30), as tensões giram em torno das incertezas comerciais entre Estados Unidos e China e, no Brasil, por nervosismo em torno das contas públicas. O Ibovespa recuava 0,76% por volta das 15h40, aos 137.476 pontos, enquanto o dólar operava acima de R$ 5,70.

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No mercado de renda fixa, os títulos atrelados à inflação voltavam a oferecer prêmios elevados. O Tesouro IPCA+ 2029 pagava 7,42% de juro real nesta sexta, com taxas também acima de 7% para vencimentos em 2040 (7,01%), 2045 (7,11%) e 2060 (7,07%). Títulos com pagamento de cupons semestrais, como o IPCA+ 2035 e 2045, pagavam 7,22% e 7,11%, respectivamente.
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Por que os preços pioraram?
- O aumento das taxas em títulos mais longos reflete a percepção de risco fiscal e as incertezas em torno da manutenção do arcabouço fiscal. Nesse caso, o principal foco é a tensão doméstica, com o impasse em torno do decreto que eleva o IOF. A semana termina com o governo pressionado pelo Congresso, que deu 10 dias para a criação de alternativas para a medida. O presidente da Câmara, Hugo Motta, defendeu taxas “bets” e retomar discussões a respeito das isenções fiscais e da reforma administrativa.
- O cenário da Bolsa, no entanto, vai além dessa questão. A correção nos ativos ocorre após meses de forte valorização do mercado brasileiro. Mesmo com o recuo do dia, o Ibovespa ainda acumula alta de 1,67% em maio, ampliando os ganhos de 3,69% em abril e 6,08% em março. O desempenho leva o índice próximo das máximas históricas e representa uma valorização superior a 15% no acumulado do ano.
- No caso do Ibovespa, assim como com o dólar, o catalisador maior é a aversão ao risco vinda do exterior, que derruba os papeis negociados em Nova York e fortalece a moeda americana, que mais uma vez se comporta como bote salva-vidas. Nesta tarde, os índices S&P 500 e Nasdaq caíam 0,38% e 0,83%, respectivamente.
Lá fora, há três fatores observados de perto pelo mercado:
1. Tarifas
O presidente Donald Trump havia sofrido um forte revés nesta semana quando um tribunal americano bloqueou as chamadas “tarifas recíprocas”, mas tudo voltou a ser como antes quando uma decisão de uma instância de apelação reverteu a medida temporariamente – e as ações americanas, que haviam reagido bem à primeira notícia, voltaram a tombar.
Para piorar, Trump acusou Pequim nesta sexta de violar um acordo firmado em abril, o que reacendeu os temores de uma nova guerra comercial. “Isso abre todo tipo de ação para os Estados Unidos garantirem conformidade futura”, afirmou Stephen Miller, da Casa Branca.
2. Pacote fiscal de Trump
Agentes de mercado mostraram, nesta sexta, preocupação com um item obscuro escondido nas mais de 1.000 páginas do projeto de lei de impostos e gastos que Trump está pressionando para o Congresso americano aprovar. A Seção 899 do projeto prevê, entre outras coisas, o aumento das alíquotas de impostos para indivíduos e empresas de países cujas políticas fiscais os EUA consideram “discriminatórias”. Isso inclui elevar as taxas sobre rendimentos passivos, como juros e dividendos, obtidos por investidores estrangeiros que potencialmente detêm trilhões em ativos americanos.
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3. Inflação nos EUA
A inflação nos EUA também entrou no radar. O índice PCE subiu 0,1% em abril, com alta anual de 2,1%, em linha com o esperado, o que reforçou a projeção do mercado de que o Federal Reserve deve começar a cortar juros em setembro. No entanto, ainda há incertezas a respeito dos próximos meses, para quando são esperados os efeitos nos preços da guerra comercial de Trump.
“Ainda não há sinais claros de efeitos das tarifas nos dados do PCE”, avalia Andressa Durão, economista do ASA. “Neste momento, o Fed segue mantendo os juros inalterados diante das incertezas e dos riscos para a inflação e atividade, enquanto mede os efeitos nos próximos dados.”
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Copo meio cheio
Combinando fatores locais e externos, a última sessão de maio encerra um mês com sinais de alerta reforçados para junho, mas positivo para o mercado brasileiro.
Apesar da realização pontual, o otimismo com o Brasil no médio e longo prazo persiste. Analistas do Morgan Stanley veem espaço para novas altas, citando quatro pilares: “momentum positivo, redução das taxas de juros, baixo posicionamento dos investidores e avaliações ainda atrativas”. O banco afirma que, mesmo após a recente valorização — de 19% em dólares no ano, considerando alta de cerca de 9% do real —, o Brasil continua atrás de seus pares latino-americanos, como Colômbia (+35%), México (+28%) e Chile (+27%).
Segundo o Morgan, a combinação de preços mais baixos, economia resiliente e maior interesse de gestores globais por diversificação ainda favorece os ativos brasileiros. Além disso, o banco destaca que o Ibovespa é mais sensível aos juros locais do que o MSCI Brasil, o que pode ser relevante num cenário de eventual ciclo de cortes.
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Além disso, apesar do PIB forte reportado nesta sexta, com avanço de 1,4%, deixando o Brasil no segundo lugar global em crescimento da economia, analistas esperam que não haja maior pressão inflacionária: a atividade deve retrair nos próximos meses, portanto possivelmente não criando dificuldades adicionais para o Banco Central – na prática, não muda a expectativa de que a Selic tenha chegado ao teto a 14,75% ao ano.