Saiba quais são os melhores e piores setores da Bolsa para se posicionar no 2º semestre

Empresas menos sensíveis à inflação e juros altos ainda tem a preferência dos gestores, mesmo com perspectivas de desaceleração econômica

Mitchel Diniz

(Shutterstock)

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Depois de um semestre difícil para o Ibovespa, que perdeu 5,99% no período, apontar perspectivas para o mercado de ações brasileiro não é uma tarefa fácil. Tanto é que algumas gestoras optaram por não participar desta reportagem, por achar que os próximos meses serão bem complicados, preferindo não arriscar previsões. Os analistas que falaram, por sua vez, foram unânimes ao dizer que a Bolsa brasileira começa o segundo semestre de 2022 barata, com pechinchas em praticamente todos os setores listados. O problema é que a inflação continua desafiadora, os juros seguem altos e, para completar, tem eleições no próximo mês de outubro.

A segunda metade do ano também começa com o medo de uma recessão global pairando sobre os mercados, diante de uma postura mais austera dos Bancos Centrais subindo juros para conter níveis recordes de inflação, seja nos Estados Unidos ou na Europa. Tem ainda uma guerra em curso na Ucrânia, impactando fortemente os preços das commodities e o risco de novos lockdowns na China, que segue apegada a sua política de Covid zero, ainda que tenha flexibilizado restrições recentemente.

Diante desse cenário, como identificar os setores mais promissores da Bolsa brasileira para o segundo semestre? Será que as empresas ligadas à economia doméstica, tão penalizadas no último ano, vão encontrar espaço para recuperação? E quais são os setores que o investidor deve evitar no período? Veja a seguir o que disseram analistas e gestores consultados pelo InfoMoney.

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Commodities vão seguir em alta?

Os especialistas têm opiniões divididas ao traçar perspectivas para as empresas de commodities da Bolsa. Apesar de ser considerado um bom setor para se proteger da escalada da inflação, alguns analistas acreditam que as companhias já podem ter precificado o cenário de alta das matérias-primas e estariam mais sensíveis a uma inversão nos preços. “O preço mais fraco pode impactar fortemente as ações, por isso eu não ficaria tão comprado em commodities“, afirma Matheus Tarzia, gestor de ações da Neo Investimentos.

Já Leonardo Rufino, sócio e gestor da Mantaro Capital, acredita que as perspectivas de commodities seguem positivas, sobretudo o petróleo. A gestora tem posições relevantes em empresas como Petrobras (PETR3;PETR4) e PetroRio (PRIO3). “A oferta de petróleo ficou problemática por causa da guerra na Ucrânia e o movimento para reduzir emissões de carbono. A demanda teve uma retomada desde o ano passado, por causa da reabertura econômica. É difícil prever o movimento das commodities, mas o petróleo tem menos chance de ter uma queda muito forte”, afirma Rufino.

Werner Roger, sócio-fundador da Trígono Capital, também acredita que o petróleo seguirá com preços fortes e demanda aquecida nos próximos meses. “As restrições com a Rússia seguem, não existe oferta adicional e são poucos exportadores”, explica. Ele também destaca que há perspectivas positivas no setor de celulose. “Especialmente, por conta da China, que vem demandando mais e, aparentemente, saindo um lockdown, contando com estímulos do governo. A Europa também está com problema de oferta, pois a Rússia é exportadora de madeira, então os preços estão se mantendo em patamares atraentes – e devem se manter assim”, diz Roger.

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Já Rafael Cota Maciel, gestor de renda variável do Inter, acredita que as ações de empresas de commodities na Bolsa brasileira começam o semestre muito descontadas e sentiriam menos uma queda no preço das matérias-primas. “A preocupação aqui é se teremos recessão mundial e uma virada de fundamento, para uma queda muito brusca”, afirma. “Mas se os preços continuarem no atual patamar, teremos boas perspectivas”, complementa.

A XP diminuiu sua exposição a commodities em suas carteiras recomendadas, refletindo as preocupações com uma possível recessão econômica global e os riscos de curto prazo de uma desaceleração, com os Bancos Centrais subindo juros. “A gente quis diminuir um pouco esse risco nas nossas carteiras, mas no médio prazo continuamos achando que a oferta de matéria-prima continua apertada. Isso deve manter os preços das commodities em patamares bastante elevados”, afirma Jennie Li, estrategista de ações da XP.

Chegou a vez das ações “domésticas”?

Para as ações ligadas a economia doméstica, que vêm sendo penalizadas na Bolsa em função da alta de juros e da inflação, sobretudo as varejistas (que foram as maiores quedas do Ibovespa no primeiro semestre), os especialistas se mostram um pouco mais otimistas, ainda que vejam um cenário difícil. Eles esperam que, nos próximos meses, o ciclo de aperto monetário no Brasil chegue ao fim e acreditam que a escalada de preços também deve desacelerar, refletindo uma Selic já bastante elevada.

“Em algum momento, depois dos juros subirem tanto, a inflação deve dar sinal de arrefecimento. E quando isso acontecer, pode representar um alívio para as empresas do setor doméstico”, diz Rufino, da Mantaro Capital.

“Os setores domésticos começam a ter maior potencial de alta. O mercado vai, gradativamente, se sentindo mais confortável a ter posições no segmento, pois consegue ter uma melhor visão sobre médio e longo prazos”, afirma Isabel Lemos, gestora de ações da Fator.

Tarzia, da Neo Investimentos, diz que incertezas políticas também devem sair do cenário com a realização das eleições em outubro. “A medida que tivermos definições, as chances de precificar melhor os ativos são maiores. Acho que o mercado exagerou na correção desses papéis e acredito em uma correção para cima dos ativos relacionados à economia doméstica”, afirma.

A XP, por outro lado, segue pessimista com setores domésticos e reduziu de forma relevante sua exposição a empresas de varejo e voltadas ao consumo em suas carteiras. “O cenário macroeconômico continua bastante desafiador, com inflação ainda bastante em alta e sem sinais de desaceleração, correndo o poder de compra das pessoas. A gente ainda vê um cenário difícil no segundo semestre”, diz Jennie Li.

Setores para se posicionar no segundo semestre

O setor elétrico aparece como um dos favoritos dos analistas consultados pelo InfoMoney. “É um setor defensivo, possui risco mais baixo, pouca volatilidade, bons dividendos e contratos longos. A perspectiva é positiva, especialmente após atravessarmos problemas climáticos de falta de chuva”, afirma Roger, da Trígono Capital.

Rufino, da Mantaro Capital, diz que o setor está barato e conta que a gestora está posicionada em Eneva (ENEV3) e Eletrobras (ELET3;ELET6). “A Eletrobras foi privatizada, mas segue com preço de estatal. Imagino que a empresa vai ter valorização relevante nos próximos meses, com uma entrada de uma equipe nova e muito corte de custos”, afirma.

O gestor também destaca o segmento de shopping centers, em especial os de alta renda, como Iguatemi (IGTI11) e Multiplan (MULT3). “São empresas que estão entregando os melhores resultados de suas histórias e se recuperaram da pandemia de forma forte e surpreendente. O receio que se tinha no passado em relação à concorrência do comércio eletrônico acabou não indo nessa direção. As ações estão baratas, perto das mínimas em vários anos e acredito que esse seja um descolamento que vai ser corrigido nos próximos meses”, afirma Rufino.

Além de energia, a Trígono também aposta em setores ligados ao agronegócio e destaca a Kepler Weber (KEPL3), ligada ao setor de silos e armazéns. “A produção de açúcar e álcool também nos agrada, com países aumentando o percentual de etanol nos combustíveis. Uma razão é a redução de custos e outra pela emissão de CO2”, afirma Werner Roger.

Ele observa que o setor de veículos e máquinas agrícolas também vem apresentando alto crescimento, mesmo com dificuldades na cadeia de produção. E também cita o setor de logística e rodoviária como segmento para estar posicionado no segundo semestre. “Temos uma vocação grande no transporte rodoviário e boa parte da produção passa por este segmento”, afirma.

Setores para fugir no segundo semestre

Os especialistas recomendam cautela com empresas dos segmentos mais sensíveis a inflação e alta de juros. Isso inclui varejo e consumo, ainda que o segundo semestre possa abrir espaço para uma recuperação dessas companhias. “É um segmento que já conta com uma disputa muito forte, com vários competidores que fazem as margens ficarem cada vez mais comprimidas. E com um poder de compra menor, o impacto é bastante grande”, afirma Roger.

Para o gestor, o setor financeiro também deve sofrer mais na segunda metade do ano. Com juros elevados e capital de giro das empresas comprimido, a tendência é de aumento na inadimplência. “É um cenário desafiador, com a economia não ajudando, e com uma competição grande entre as empresas do setor”, diz Roger.

Matheus Tarzia, da Neo Investimentos, diz que não vale a pena ficar exposto a empresas do setor imobiliário e de construção.  A queda na renda e a inflação alta dificultam a manutenção do aquecimento do setor e o custo do acabamento subiu muito também.

Independentemente de setores, a XP está fugindo de empresas que não geram lucro e têm valuation muito alto. “Gostamos de empresas com valuation razoável, que devem continuar crescendo, protegidas de temas macroeconômicos domésticos. A gente deve ver uma desaceleração econômica no segundo semestre depois de um primeiro ainda melhor que o esperado”, conclui Jennie Li.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados