Ibovespa tem pior mês desde março de 2020 e fecha semestre em queda de 5,99%; dólar sobe 10% em junho

Medo de recessão derruba commodities no pregão desta quinta e também marca boa parte da primeira metade do ano

Vitor Azevedo

(Gearstd/Getty Images)

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O Ibovespa fechou em queda de 1,08% nesta quinta-feira (30), último dia do primeiro semestre de 2022. Com o resultado de hoje, o principal índice da Bolsa brasileira termina os primeiros seis meses de 2022 com queda de 5,99% – saindo de 104.763 pontos no primeiro pregão deste ano para 98.541 pontos atualmente.

O benchmark da Bolsa brasileira ainda fechou junho recuando 11,50%, em seu pior mês desde março de 2020, quando foi afetado pelo alastramento da pandemia de Covid-19 pelo Brasil.

Hoje, o Ibovespa acompanhou, em grande parte, o que foi visto nos Estados Unidos, onde o dia também foi de baixas. Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq recuaram, respectivamente, 0,82%, 0,88% e 1,33%.

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Os principais índices americanos também saíram cambaleantes da primeira metade de 2022. O S&P 500, por exemplo, recuou 20,5%, em sua maior queda desde 1970. O Nasdaq teve seu pior desempenho desde 2008, com baixa de 22,4%.

Nem mesmo a notícia de que a inflação nos Estados Unidos, o PCE, veio aquém do consenso (com alta de 0,6% frente 0,2% esperado) em maio trouxe alívio para as bolsas nesta quinta. Em parte, segundo comentários, mesmo que menor do que o esperado o número preocupou pois trouxe uma aceleração da alta dos preços frente os 0,2% registrados em abril.

“Além da inflação, estamos tendo um evento de banqueiros centrais em Lisboa, que está repercutindo entre operadores”, adiciona Julio Hegedus Netto, economista-chefe da Mirae. “O tom geral é de espera por juro e inflação elevados por mais tempo, o que desagradou o mercado”.

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Luiz Adriano Martinez, gestor da Kilima Asset, aponta ainda que a desaceleração dos dados macroeconômicos, junto da aceleração dos ciclos de altas de juros, aumenta o temor do mercado de que o mundo está entrando em recessão – algo que perdurou em boa parte do ano até então.

“O primeiro semestre começou com materiais básicos e setor financeiro fortes, o que levou o Ibovespa a outperformar os índices americanos”, diz o gestor. “Essa questão, porém, se reverteu para os materiais básicos, com as companhias já tendo perdido as suas altas”.

Nesta quinta, pesou no índice brasileiro, justamente, a performance das exportadoras de commodities, que fecharam em forte queda, com as perspectivas de menor crescimento econômico mundial. Além disso, dúvidas quanto à economia chinesa ainda estão presentes nas cabeças dos investidores.

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“A China está em um momento diferente, saindo dos lockdowns, e com preocupações quanto ao seu crescimento. É esperado que esse país agregue, nos próximos meses, algo ao crescimento mundial, mas como isso ainda não está acontecendo, com dados correntes ainda incertos, também há insegurança”, diz Martinez.

O minério de ferro na China recuou 2,5% no mercado à vista, para US$ 120,10 a tonelada. No mês, o preço dessa commodity caiu mais de 12%. O petróleo, do outro lado, recuou 1,19%, a US$ 114,88 o barril.

As ações ordinárias da Vale (VALE3) e da CSN (CSNA3) caíram, respectivamente 2,75% e 6,61%. Os papéis ON e PN da Petrobras (PETR3;PETR4) recuaram, por sua vez, 1,04% e 0,57%.

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Em parte, a queda das commodities ajudou a curva de juros brasileira a fechar em queda – os DIs para 2025 e 2027 fecharam com suas taxas recuando, respectivamente, cinco e 16 pontos-base, para 13,75% e 12,74%. Os DIs para 2027 e 2029, por sua vez, tiveram seus yields caindo 12 e nove pontos, para 12,65% e 12,79%.

Hegedus Netto pontua que os DIs ainda acompanharam a performance dos treasuries americanos – com o título para dez anos com sua taxa recuando 7,6 pontos, para 3,017%.

No Brasil, a taxa de desemprego veio em 9,8%, melhor do que os 10,2% do consenso.

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“O panorama por aqui não é tão negativo, já que o desemprego recuou, em um demonstrativo de que a economia, mesmo que de forma errática, vem se recuperando”, diz o economista-chefe da Mirae. “Por outro lado, preocupam os ruídos gerados pelo grande número de medidas populistas em anúncio, o que pode representar um risco fiscal no médio prazo”.

O risco fiscal, junto da queda das commodities, que impacta a balança comercial, foi responsável em parte pelo recuo do real frente a moeda americana: o dólar comercial fechou em alta de 0,81%, a R$ 5,234 e R$ 5,235, mesmo com o DXY tendo caído 0,39%. Em junho, o dólar acumulou alta de 10,13%, em meio aos sinais de aperto monetário pelos bancos centrais, riscos de recessão e com os investidores atentos aos riscos fiscais domésticos – nesta quinta, o Congresso brasileiro, inclusive, debate a questão da PEC dos precatórios, que deve pesar nesta última frente.

No ano, contudo, o dólar ainda tem queda de 6,14% frente a divisa brasileira.

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Na sessão, entre as maiores altas do Ibovespa, figuraram as ações ordinárias da Fleury (FLRY3), que subiram 15,39%, após a companhia anunciar uma fusão com a Hermes Pardini (PARD3), criando o maior negócio de laboratórios de exames do país. Hapvida (HAPV3) e Vivo (VIVT3) vêm na sequência, ganhando, respectivamente, 3,99% e 3,59%.

No semestre, companhias de utilidades foram as grandes altas da Bolsa. As ações PN B e ON da Eletrobras (ELET6;ELET3) fecharam o semestre em alta de 47,04% e 40,88%. As ON da CPFL (CPFE3) avançaram 26,43%. Essas companhias são beneficiadas pela inflação mais alta, pois repassam o avanço dos preços em seus contratos.

O setor de consumo foi o mais impactado do Ibovespa, bem como ações de empresas de crescimento – as ON da Magazine Luiza (MGLU3), da Méliuz (CASH3) e da Via (VIIA3) caíram 67,59%, 66,67% e 63,43%, na sequência.

“Essas companhias são negativamente impactadas pelas altas de juros, que estão sendo impostas para conter a inflação mais forte do que a esperada. É um setor que depende de crescimento de lucros para justificar o valuations”, explica Martinez.

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