Por que Elon Musk retomou a oferta para comprar o Twitter – e quais os possíveis impactos para a Tesla

Para especialistas, bilionário dono da montadora pode ter fechado negócio apenas para evitar decisão da Justiça que o obrigaria a fazê-lo

Vitor Azevedo

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Investidores continuam a repercutir nesta quarta-feira (5) a notícia de que Elon Musk, bilionário dono da Tesla (TSLA34), voltou atrás e reafirmou a sua proposta de compra do Twitter (TWTR34) pelos termos acordados em abril desde ano, a um valor total de US$ 44 bilhões. Após as ações da rede social terem disparado mais de 20% ontem, hoje operam perto da estabilidade. Já os papéis da montadora de veículos elétricos do bilionário caem forte, cerca de 4% por volta das 14h50 (horário de Brasília) no mercado americano, chegando a cair mais de 6,5% mais cedo.

Parte do mercado continua cética quanto à transação. Apesar de ser positiva para as ações do Twitter, colocando os ativos em um novo patamar, a compra é vista como “de alto risco”.

Para o analista James Collins, da OHM Research, por exemplo, Musk optou por reforçar a intenção de compra por não ter conseguido achar uma brecha para voltar atrás sem maiores prejuízos.

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O bilionário, que fez a primeira oferta de compra da rede social em abril, vinha há meses tentando cancelar o seu processo de compra, sendo que, em junho, ele o rescindiu, alegando que o número de contas falsas (robôs) na plataforma era maior do que o divulgado – o que, segundo ele, impacta diretamente no valor de mercado da companhia.

O Twitter, no entanto, foi buscar na justiça o cumprimento do contrato –  o julgamento do caso estava marcado para o próximo dia 17 de outubro.

“Sem nenhuma informação privilegiada, minha análise é que Musk e seus advogados simplesmente não conseguiram encontrar uma brecha em sua oferta original (e incrivelmente equivocada) para o Twitter e não querem estar sujeitos à humilhação de serem forçados a completar a transação”, destaca Collins. “Qualquer jogador de pôquer sabe que uma mão perdedora deve ser dobrada”.

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James Collins, desde o início, foi um analista que defendeu que a compra da rede social pelo bilionário não “fazia sentido”, principalmente pelo seu lado financeiro.

Ele apontava que Musk, para fechar a aquisição, teria de fazer uma dívida grande, que, em um momento de alta de juros, deixaria altos gastos financeiros – isso tudo com o Twitter sendo, no passado recente, uma empresa deficitária.

Evitando fazer empréstimos, Musk vendeu ações da Tesla para se preparar financeiramente para a operação.

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“O bilionário, apesar de ter vendido ações da Tesla para conseguir recursos (estima-se já ter conseguido de US$ 19 bilhões a US$ 22 bilhões), não tem o suficiente no bolso para bancar os US$ 44 bilhões. Ele terá de ir atrás de outros investidores para fazer a compra, mas, até então, as informações são que ele não conseguiu”, explica Guilherme Zanin, analista da Avenue. “Dessa forma, ou ele venderá mais ações da Tesla ou as colocará como parte colateral de empréstimos, o que é arriscado”.

Ações da Tesla vem sofrendo por mercado menos aquecido

Collins, da OHM, relembra ainda que a movimentação de Musk com as ações da Tesla pode vir em um momento em que os papéis já estão pressionados.

“As entregas da Tesla no terceiro trimestre ficaram bem aquém das expectativas de Wall Street. A demanda pelos produtos da empresa, especialmente o Model 3, claramente começou a diminuir em um ambiente de taxas de juros crescentes e queda na intenção de compra do consumidor por bens de alta qualidade”, contextualiza o analista. “Se a Tesla continuar em declínio, isso prejudicará a capacidade de Elon de financiar a compra do Twitter, que já está um pouco prejudicada pela apreensão dos mercados de crédito”.

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No último registro de Musk na Securities and Exchange Commission (SEC, a CVM americana), em 9 de agosto, a participação do bilionário na Tesla era de cerca de 15% do total de ações da Tesla. Ele tem, contudo, contratos de opção de compras para chegar a uma posição de 23,5% da companhia – isso enquanto for CEO da companhia.

O problema é que ele não pode vender as ações por cinco anos, de acordo com os termos do acordo, aponta Collins, o que acaba restringindo a capacidade de atuação de Musk.

Das 16 parcelas de opções de compra, Musk já adquiriu 11, com o incentivo para continuar sendo CEO da montadora diminuindo – o que pode diminuir, também, a sua permanência no cargo, ainda mais em um cenário em que ele ficará à frente do Twitter.

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“O que valeria a Tesla sem Musk como CEO? Ele já foi substituído como presidente por Robyn Denholm para resolver litígio na SEC (a CVM americana), mas Elon Musk é a Tesla na percepção do público. Sem o culto à personalidade, acredito que o valuation da Tesla iria para baixo”, acrescenta Collins.

Uma possível saída de Musk da linha de frente da montadora, então, seria mais um peso para a negociação e para os papéis da Tesla.

“Musk precisará fazer um investimento pesado. Caso o Twitter caia ou tenha mais resultados negativos, com custos mais elevados, ele terá de vender as ações da montadora para arcar com os gastos da rede social. Dito isso, o mercado vê a movimentação como algo agressivo. É o que chamam de duplo beta, com risco nas duas partes”, explica Zanim. “Além disso, o bilionário terá de começar a se preocupar com outro produto, além da Tesla, da SpaceX e da companhia de painéis solares”.