Petrobras renova máximas enquanto Bolsa sofre: o que explica otimismo com as ações?

Petróleo em alta e sinalizações positivas da companhia em evento guiam ânimo com papéis

Lara Rizério Camille Bocanegra

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Em um janeiro bastante negativo para o Ibovespa, as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) foram as maiores altas do índice no período, com ganhos superiores a 8% e renovando continuamente as máximas de valor de mercado, fechando janeiro valendo um total de R$ 540 bilhões. O movimento ocorreu muito por conta do avanço do petróleo (com o brent e o WTI com avanço de 6%), mas também por uma visão positiva para o case da companhia, ainda que alguns riscos tenham passado pela estatal no mês. Na primeira sessão de fevereiro, as ações seguem sendo destaque de ganhos, com avanço que chegou a ser de cerca de 3%.

Nos dois últimos dias do mês passado, a Petrobras realizou o “Deep Dive”, evento em que a companhia discutiu com investidores estrangeiros os planos para a transição energética, ESG e estratégias financeiras, bem como o processo de decisão dos dividendos extraordinários (tema importante para os investidores).

O Bradesco BBI destacou três principais conclusões do evento, que foram positivas para os analistas.

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Em primeiro lugar, o acionista controlador sinalizou a intenção de que a empresa pague o máximo possível de dividendos sem prejudicar o balanço patrimonial da empresa. O cenário base do banco para a Petrobras para o quarto trimestre de 2023 (4T23) é de que a empresa anunciará cerca de US$ 4 bilhões em dividendos mínimos + US$ 5 bilhões em dividendos complementares para 2023, a serem pagos em 2024.

Neste sentido, o Itaú BBA apontou que o destaque do evento ficou para a fala da gestão de que a empresa tem visto um alinhamento entre o acionista majoritário (o governo) e os minoritários no seu desejo de que a empresa pague os maiores dividendos possíveis sem comprometer a implementação do plano estratégico. Em relação às recompras, a empresa renovará o programa com foco apenas nas ações preferenciais.

O segundo ponto citado pelo BBI é a perspectiva de produção de petróleo para 2024, de 2,2 milhões de barris por dia (bpd) em média, que é muito conservadora, sendo considerados vários potenciais fatores de risco que não se materializarão necessariamente. A previsão também incorpora o risco de atraso de algumas plataformas. “Acreditamos que a produção de petróleo para 2024 variará entre 2,3 e 2,4 milhões de bpd”, afirma o BBI.

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O terceiro e último ponto do BBI é sobre as fusões e aquisições no âmbito da transição energética, que poderão atingir os US$ 5 bilhões, com participações em empresas bem estabelecidas que já vendem eletricidade no mercado brasileiro. A administração normalmente não se engaja em projetos que não sejam contratados.

“No geral, vemos estas conclusões como positivas e que apoiam uma remuneração robusta aos acionistas. Continuamos tendo uma visão positiva sobre a tese de investimento da Petrobras e mantemos nossa recomendação outperform [desempenho acima da média do mercado, equivalente à compra”, avaliam os analistas do BBI.

O BTG Pactual apontou que, no geral, acha justo resumir o evento “Deep Dive” com uma mensagem transmitida pelo CEO Jean Paul Prates, na qual reiterou que a Petrobras tem como objetivo a transição energética, mas sem abandonar seu negócio principal ou a responsabilidade financeira. Embora não tenham ocorrido grandes novos desenvolvimentos em relação à estratégia da empresa, o evento reforçou a tese do banco de que muito do guidance recentemente fornecido pela empresa parece conservador.

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“Mais importante, ficamos satisfeitos em ouvir que os interesses do acionista controlador da empresa estão bem alinhados com os dos acionistas minoritários. Nossa impressão é que isso demonstra pragmatismo e sugere que os dividendos extraordinários provavelmente continuarão sendo pagos”, avalia o banco, que reiterou nesta semana recomendação de compra para os ativos. O Goldman Sachs também reiterou visão positiva para os ativos logo após o evento, vendo espaço para um dividendo extraordinário em 7 de março, junto com o resultado do 4T23.

Desta forma, as discussões que poderiam ter um papel um tanto negativo para a companhia foram ofuscadas pela visão de que os acionistas ainda podem ter oportunidade de ganhos com os ativos.

Nem mesmo as notícias de que a Petrobras poderia ser acionada para ajudar no socorro às aéreas com redução dos preços de querosene de aviação ou sobre os investimentos em refinarias, particularmente a Rnest (Abreu e Lima), durante o último mês levaram a mudanças significativas sobre a tese nas ações, ainda que sejam pontos de atenção dos analistas.

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Sobre o primeiro ponto, Prates afirmou que a estatal pode participar do plano do governo para ajudar as companhias aéreas em dificuldades e será responsável apenas por instruir o governo sobre como o preço do combustível de aviação funciona. Assim, o executivo deixou claro que a Petrobras não irá baixar artificialmente o preço dos combustíveis para subsidiar um setor. Nesta quinta, a companhia anunciou uma queda do preço do querosene de aviação nas principais praças, mas com um valor marginal de 0,6%.

A retomada de investimentos em Abreu e Lima, com anúncio que ocorreu em meados de janeiro, também não teve tanto efeito nas ações da estatal. O retorno dos investimentos bilionários em uma refinaria que esteve no alvo da Operação Lava Jato (e em um segmento não tão rentável) seria um movimento equivocado que a companhia “pode” fazer, de acordo com Vitor Sousa, analista do setor na Genial Investimentos. E não representaria necessariamente um movimento de retorno às decisões que afugentaram investidores e depreciaram a estatal anos atrás. Mesmo com decisões consideradas controversas, a companhia segue sendo muito rentável, aponta.

A “âncora” hoje para o momento da companhia seria a presença de Jean Paul Prates na presidência da estatal. Considerado “razoável” por analistas, o executivo detém de histórico como político e experiência na área de petróleo, combinação que tem garantido uma boa gestão até então, na visão de Sousa.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.