Petrobras (PETR4) e BB (BBAS3) desabam 10% e perdem juntas R$ 62,8 bi de valor, com turbulência pré-eleições

Além de realização de lucros prevendo campanha acirrada, últimos desdobramentos não foram positivos para a campanha de Jair Bolsonaro

Lara Rizério

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Após uma semana de disparada de cerca de 12% para as ações da Petrobras (PETR3;PETR4) e de 14% para os ativos do Banco do Brasil (BBAS3) na esteira de pesquisas eleitorais mostrando o estreitamento da distância entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) na disputa eleitoral, a segunda-feira (24) começou com forte queda para os ativos das estatais.

Recentes acontecimentos negativos para a campanha de Bolsonaro e Lula à frente da disputa eleitoral, ainda que por uma margem estreita, levaram a uma maior aversão a risco do mercado. Pesou no mercado o ataque com tiros de fuzil e granadas contra policiais federais pelo ex-deputado Roberto Jefferson (PTB), apoiador do atual presidente.

Os ativos PETR3 caíram 9,89%, a R$ 37,45, enquanto PETR4 teve uma derrocada de 9,20%, a R$ 34,25. Já BBAS3 teve queda de 10,03%, a R$ 40,20, na mínima do dia. O Ibovespa, que avançou cerca de 7% na semana passada, caiu 3,27. O valor de mercado da Petrobras, que atingiu cerca de US$ 100 bilhões na sexta (R$ 520,6 bilhões), caiu R$ 50 bilhões, para R$ 470,6 bilhões. Já o BB teve queda de R$ 12,8 bilhões de valor de mercado, indo de R$ 128 bilhões para R$ 115,2 bilhões.

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Há uma indicação mais positiva do mercado com notícias mais favoráveis para Bolsonaro  e de queda com notícias mais negativas levando em conta o perfil econômico do governo atual, com menor presença do Estado na economia, mais favorável a privatizações, o que se reflete em certo ânimo nos pregões quando o presidente e candidato à reeleição avança contra o petista ou com notícias positivas para a campanha do atual mandatário. Ao término do primeiro turno, quando Lula venceu com uma diferença menor do que as pesquisas apontavam e a eleição no Congresso mostrou uma configuração mais centro-direita, houve certa euforia, principalmente nas ações de estatais como Petrobras e Banco do Brasil.

Ainda no radar da Petrobras, estão os dados da China, que derrubaram as cotações dos principais contratos de petróleo mais cedo. As importações de petróleo bruto do gigante asiático em setembro ficaram 2% abaixo do nível do ano anterior, mostraram dados nesta segunda-feira, uma vez que refinarias independentes reduziram a produção em meio a margens reduzidas e demanda fraca. No entanto, as refinarias estatais elevaram as exportações de combustível para o maior volume mensal desde junho de 2021 para lucrar com margens robustas de exportação.

Porém, conforme aponta Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, a baixa tem menos a ver com o petróleo do que com o cenário eleitoral, uma vez que 3R Petroleum (RRRP3) e PRIO (PRIO3) tiveram baixas bem menos significativas, de 1,44% e 1,06%.

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“Há um paralelo maior com o desempenho do Banco do Brasil, com os investidores vendo uma disputa acirrada e probabilidade um pouco maior de Lula vencendo. A semana promete ser agitada, sendo a última antes das eleições. Assim, é melhor ficar na defensiva, uma vez que o cenário está acirrado”, afirma Cruz.

Na semana passada, o Credit Suisse havia rebaixado a recomendação para os ADRs (recibo de ações, ou ativos negociados na Bolsa de Nova York) da Petrobras PBR (equivalente aos ordinários) para equivalente a neutro, destacando justamente a volatilidade eleitoral.

“Certamente, os fundamentos fornecem bases sólidas para o atual preço das ações – ou valuations ainda mais altos. No entanto, após o forte desempenho das ações, pensamos que a assimetria de curto prazo levando em conta a eleição não é mais favorável. Assim, rebaixamos o papel, pois preferimos reduzir a exposição e esperar a etapa final da volatilidade eleitoral”, avaliaram os analistas.

Caso Roberto Jefferson: negativo para Bolsonaro

Assim, esta semana, a última antes do segundo turno das eleições no domingo, tem início com investidores atentos ao clima antes do pleito. A prisão de Roberto Jefferson, aliado de Bolsonaro, no domingo, repercute negativamente para o candidato à reeleição.

Roberto Jefferson cumpria prisão domiciliar, determinada por conta do inquérito sobre uma suposta organização criminosa que atenta contra o Estado brasileiro, e descumpriu uma série de medidas da prisão nestas últimas semanas.

Jefferson recebeu visitas, concedeu entrevistas e utilizou suas redes sociais para compartilhar informações consideradas falsas. Além disso, ofendeu diretamente a ministra Cármen Lúcia, nesta sexta (21), no que foi considerada a gota d’água para a Suprema Corte. Sendo assim, o ministro Alexandre de Moraes revogou a prisão domiciliar de Jefferson, determinando sua volta à prisão.

A Polícia Federal foi à casa do ex-deputado neste domingo (23). O político recebeu os agentes com tiros de fuzil e granadas. Dois policiais foram feridos e houve troca de tiros, sem que a PF invadisse a casa de Jefferson.

Nos últimos anos, o PTB e seus caciques declararam apoio a Jair Bolsonaro (PL) e eram aliados de primeira hora do presidente, tanto nas redes sociais quanto no Congresso. “A presença do Padre Kelmon – candidato à Presidência da República justamente no lugar de Roberto Jefferson, considerado inelegível – em debates tornou clara tal percepção frente ao eleitorado brasileiro”, destaca a Levante Ideias de Investimentos.

Bolsonaro realizou dois pronunciamentos sobre o incidente deste domingo. No primeiro, repudiou tanto as falas de Jefferson e sua ação armada contra a PF quanto os inquéritos que, segundo ele, não teriam respaldo constitucional. Cinco horas depois, o presidente aprofundou o tom crítico ao ex-deputado e afirmou que quem atira em policial deve ser tratado como bandido.

“O incidente repercutiu negativamente em todo o mundo político e deixou a campanha bolsonarista frustrada. De início, o presidente e seus aliados não souberam como reagir ao ocorrido, mas a estratégia logo mudou e a ordem foi de tentar ligar Jefferson a Lula – apesar da atual aliança entre o governo e o ex-deputado”, destaca a Levante.

A casa de análise aponta que, de qualquer forma, a repercussão do caso acabou ofuscando a “super live” feita por Bolsonaro no sábado (22) e, na avaliação dos analistas, será explorada pela campanha de Lula, que busca amplificar a agenda negativa para frear o bom momento político dos bolsonaristas.

“Ainda é incerto dizer se haverá, de fato, algum desdobramento nas urnas em função do episódio deste fim de semana, mas certamente ele cai como uma bomba no colo da campanha do atual presidente – que teve de pausar todos os outros esforços
para uma grande operação de contenção de danos”, apontam os analistas.

Desta forma, o noticiário afeta as estatais. “Os fatos de ontem, do Roberto Jefferson trazem a percepção de que o segundo turno pode ser muito volátil. Há percepção de que o cenário para políticas que interfiram na política de preços e na gerência da companhia ganham força. O mercado acaba antecipando. Não dá para desvincular o acontecimento de ontem do cenário eleitoral. Não tem relação direta, mas sim traz volatilidade”, aponta Enrico Cozzolino sócio e head de análise da Levante Investimentos.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.