Petrobras (PETR4): com resultado forte e dividendo ainda melhor, estatal ganha R$ 15 bi de valor (e afasta temor político)

Papéis da companhia tiveram volatilidade no início da sessão, também de olho na política, mas fecharam com ganhos superiores a 3%

Lara Rizério Mitchel Diniz

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Os números do primeiro trimestre de 2022 da Petrobras (PETR3;PETR4) foram bastante expressivos. A companhia registrou um lucro líquido de R$ 44,561 bilhões no primeiro trimestre de 2022 (1T22), uma alta de 3.718%, frente os R$ 1,167 bilhão de um ano antes – equivalente a um aumento de mais de 38 vezes. O consenso da Refinitiv previa lucro de R$ 37,16 bilhões.

Analistas ainda destacaram o forte lucro antes juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) recorrente ajustado da companhia, que ficou em R$ 78,2 bilhões, superando em 5% as estimativas do Itaú BBA, por exemplo e em 7% as projeções do Bradesco BBI.

“O destaque positivo foi, mais uma vez, a parte de exploração e produção (E&P), aponta o BBI. A XP também ressaltou que a superação das estimativas (em 14% frente as projeções da casa) se deu em função da margem Ebitda (Ebitda sobre receita líquida) do Refino, transporte e comercialização (RTC) acima do esperado, devido ao maior efeito positivo do giro de estoque entre os trimestres.

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O FCL (caixa líquido gerado pelas atividades operacionais – capex) foi de US$ 7,9 bilhões (9% yield, 36% anualizado), e a Petrobras também contou com US$ 1,7 bilhão em desinvestimentos. A dívida bruta foi de US$ 58,5 bilhões (basicamente estável no trimestre), enquanto o caixa e equivalentes encerraram o trimestre em US$ 18,5 bilhões.

O Credit Suisse também destacou a redução de dívida líquida e a forte posição de caixa da empresa, em US$ 18,5 bilhões, ao final do período.  “A Petrobras anunciou um aumento substancial nos seus preços, mas esse ajuste aconteceu apenas em meados de março, o que significa que a contribuição da alta não se refletiu totalmente nos resultados do primeiro trimestre. Esperamos um segundo trimestre ainda mais forte”, escreveram os analistas.

Já o Morgan Stanley apontou que o Ebitda da companhia veio em linha com o projetado, o segmento de refino superou levemente as expectativas, mas os resultados operacionais na parte de gás e energia foram negativos, ainda que a companhia tenha importando menos gás natural liquefeito do que no trimestre anterior. Os custos de extração aumentaram com a valorização do real e atividades de manutenção. O Morgan Stanley acredita que a inflação dos custos operacionais poderá ter impacto nos números da companhia.

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Em meio aos resultados, contudo, mais uma vez quem “roubou a cena” foi a divulgação tão esperada dos proventos da companhia.

Com isso, os ADRs (recibo de ações) da Petrobras já mostravam alta de cerca de 3% durante a manhã no pré-market da Bolsa de Nova York, enquanto os papéis na B3 abriram com ganhos, ainda que mais amenos, também de olho na política e no exterior. Os ativos chegaram a amenizar os ganhos logo quando abriu Wall Street, mas durante a tarde firmaram alta, com os ativos PETR3 fechando com alta de 3,78%, a R$ 35,69, e os PETR4 em alta de 3,28%, a R$ 33,06. Assim, a companhia ganhou cerca de R$ 15,57 bilhões na sessão em valor de mercado, passando de um valor de mercado de R$ 435,26 bilhões para R$ 450,8 bilhões.

“O anúncio de dividendos roubou o show novamente”, afirmaram os analistas do BBA – com a estatal anunciando a distribuição de proventos de quase R$ 3,72 por ação. Assim, o dividend yield (dividendo da ação sobre o valor da ação) é de aproximadamente 12%.

Os analistas Regis Cardoso e Marcelo Gumiero, do Credit, também acreditam que os dividendos “roubaram o show” – o payout (distribuição em relação ao lucro) também foi maior que o esperado pela equipe. O banco acredita que a empresa vai continuar fazendo distribuições “substanciais” de dividendos nos próximos trimestres.

A estatal vai pagar R$ 31 bilhões em proventos ao minoritários, ressalta o BBI, enquanto o governo deverá receber R$ 87 bilhões em impostos e dividendos relacionados ao trimestre. Os proventos anunciados ultrapassam a geração de caixa da companhia no período, mas ainda assim o BBI acredita que “um valor similar poderá ser anunciado no próximo trimestre”.

A XP pondera, fazendo uma análise geral dos resultados que, embora o Ebitda tenha ficado acima dos seus números, isso foi principalmente um efeito do giro de estoque. No entanto, este foi mais um trimestre com margens saudáveis e geração de caixa robusta. “Os dividendos estão proporcionando aos investidores um bom retorno total sobre as ações, apesar do ruído político que mantém os preços das ações (e múltiplos) reprimidos”, avaliam.

Cabe ressaltar que, na véspera, pouco antes da divulgação dos resultados, o presidente Jair Bolsonaro fez apelos para que a empresa não volte a aumentar o preço dos combustíveis no Brasil. Aos gritos, durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente afirmou que os lucros registrados recentemente pela empresa são “um estupro”, beneficiam estrangeiros e quem paga a conta é a população brasileira. Contudo, ele descartou interferir na companhia.

Conforme destacou o Bradesco BBI em breve nota, as falas de Bolsonaro poderiam reacender as discussões sobre subsídios temporários para gasolina/diesel e pesar em parte do bom desempenho esperado das ações após os resultados sólidos.

Já durante teleconferência de resultados, o novo presidente da Petrobras, José Mauro Ferreira Coelho, apontou que a companhia não pode se desviar da prática de preços do mercado. “É fundamental para atração de investimentos para o país e para garantir que conseguiremos realizar as importações dos derivados para o Brasil. Nós importamos gasolina, diesel, gás natural e querosene de aviação”, avaliou. As falas, inclusive, contribuíram para amenizar os ânimos do mercado, com as ações firmando alta.

Risco político X dividendos

O cenário político, por sinal, é o que mantém algumas casas ainda resistentes com a tese de investimentos na estatal, caso do Morgan Stanley, que possui recomendação equalweight (exposição em linha com a média do mercado) para os ADRs da Petrobras PBR, com preço-alvo de US$ 14,60, o que corresponde a um potencial de valorização de 7% em relação ao fechamento da véspera.

“Com a proximidade do ciclo eleitoral no Brasil, o sentimento macro e as expectativas para a política energética do próximo governo importarão mais para o desempenho das ações do que os fundamentos atuais (que permanecem até o momento, apesar das recorrentes mudanças de gestão). Apesar do alto rendimento de dividendos em 2022, um cenário de baixa realista ainda pode levar a retornos limitados para que sejamos mais positivos com as ações e permanecemos à margem”, avaliam os analistas do Morgan.

Assim, apontou, a Petrobras pode entregar remuneração de curto prazo atraente, mas a perspectiva para os próximos 12, 18 meses é menos óbvia, com uma potencial mudança na política, escreveram os analistas Bruno Montanari e Guilherme Levy.

Já o Bradesco BBI reforçou sua recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os papéis da companhia, ainda que ponderando o risco. “Mantemos nossa classificação e destacamos a companhia como nosso top pick. Petrobras é provavelmente o mais óbvio player de valor e uma das histórias de dividendos mais notáveis de 2022, o que é bastante adequado ao ambiente mais hawkish (de alta de juros) que o mundo está vivendo”, diz a anális.

O BBI tem preço-alvo de R$ 50,00 para PETR4, com potencial de valorização de 56%. Para a equipe de análise, porém, o papel tem um potencial de downside de 25%, a depender do resultado da eleição. Mas, caso o atual governo seja reeleito, sob um discurso mais forte de privatização, o potencial de upside seria de 100% ou mais.

A estatal está sendo negociada com um grande desconto em relação aos seus pares globais segundo o BBA, em um ano de eleição no qual os preços dos combustíveis são um dos assuntos mais discutidos. “A companhia vai continuar apresentando resultados fortes nos próximos trimestres, enquanto as tendências dos últimos anos de seu plano de negócios continuarem”, avalia a análise.

O Itaú BBA também tem recomendação outperform para PETR4 e preço-alvo de R$ 38, ou um potencial de alta de 19% frente o fechamento de quinta. A XP tem recomendação equivalente, de compra, para os papéis PETR3 e PETR4, ambos com preço-alvo de R$ 47,80, ou potenciais respectivos de alta de 39% e 49% frente o fechamento da véspera. O Goldman também reforçou a sua recomendação de compra para o ADR da Petrobras, destacando que a companhia está no caminho de pagar um dividend yield de 38% este ano.

Assim, ainda que haja riscos políticos no radar, analistas ainda seguem otimistas com a ação da estatal, destacando, além dos fortes resultados operacionais, o bom pagamento de dividendos da companhia. Contudo, para o segundo semestre, é esperada mais volatilidade para as ações da estatal.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.