Após falas de Bolsonaro, presidente da Petrobras (PETR4) volta a defender política de preços

As falas aconteceram em um encontro com analistas e investidores, realizado após a companhia divulgar seus resultados trimestrais

Vitor Azevedo

Petrobras (Foto: Mario Tama/Getty Images)

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O presidente da Petrobras (PETR3;PETR4), José Mauro Ferreira Coelho, defendeu nesta sexta-feira (6) a manutenção da atual política de preços da estatal, que segue as cotações internacionais do preço do petróleo e dos combustíveis. As falas aconteceram em um encontro com analistas e investidores, realizada após a companhia divulgar seus resultados trimestrais, e um dia depois de o presidente da República, Jair Bolsonaro, atacar os lucros da petroleira.

Em transmissão ao vivo realizada em uma rede social na última quinta, Bolsonaro bradejou que a Petrobras lucra com a pandemia e que mais um aumento dos preços de combustíveis pode “quebrar o Brasil”. Ao mesmo tempo em que pediu para que a alta de preços “criminosa” seja interrompida, ele afirmou, entretanto, que intervir na estatal é uma irresponsabilidade e que não o fará.

Pouco depois, a Petrobras divulgou que lucrou R$ 44,5 bilhões entre janeiro e março deste ano e anunciou a distribuição de R$ 48,5 bilhões em dividendos aos acionistas.

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O presidente da estatal, que assumiu o cargo há cerca de um mês, defendeu a política de preços de mercado, afirmando que ela é fundamental para a atração de investimentos para o país e para garantir a importações de derivados. “Nós importamos gasolina, diesel, gás natural e querosene de aviação”, lembrou. “Não podemos nos desviar da pratica de preço de mercado”.

Coelho disse que os investidores podem confiar seus investimentos à empresa e que há motivo para se orgulhar da atual gestão. Ele relembrou ainda que, em 2014, políticas de intervenção deixaram a companhia com “dívidas impagáveis” e que, quanto melhores os resultados da companhia, mais forte impostos são recolhidos à União.

Rafael Chaves, diretor de Relacionamento Institucional e de Sustentabilidade, afirmou que a política de preço de mercado é algo “garantido pela lei” e que diminui a chance de desabastecimento.  “A alternativa ao preço de mercado é preço tabelado. Já vivemos isso no passado e sabemos que é algo que não funciona”, comentou.

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Segundo ele, a Petrobras tem sim papel social, mas este é totalmente separado da atuação empresarial da empresa. “Temos nossa frente de ajuda à população, com a doação de gás de cozinha, por exemplo, e estamos abertos a conversar com o governo, contribuindo com a sugestão e formação de soluções. Estamos sempre prontos a ajudar, mas separando o braço empresarial do de ajuda à sociedade”, disse.

Além de política de preços, Petrobras seguirá também com desinvestimentos

José Mauro Ferreira Coelho também defendeu que a Petrobras vendendo ativos para focar no seu negócio principal, que é a extração de petróleo e gás natural do pré-sal.

Claúdio Mastela, diretor de Comercialização e Logística, pontuou que a estatal continuará a focar o portfólio nos ativos em que tem vantagens competitivas. “Continuamos desinvestir de ativos que geram menor retorno ou que estão mais distantes da nossa estratégia”, pontuou. “Além de reforçar o caixa, permite outras empresas que se desenvolvam”.

Apesar da recente venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), no entanto, os executivos afirmaram que a Petrobras não está deixando o setor de refino, apenas ajustando o portfólio, “ficando com as plantas mais propícias, seja por estarem mais próximas ao mercado consumidor ou próximas ao polos de produção”.

Se de um lado a Petrobras acertou com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) a venda de oito refinarias no ano passado – após firmar acordo fruto da investigação de um possível abuso econômico por parte da estatal no mercado de refino -, do outro, os executivos lembraram que a petroleira continuará investindo no setor.

“Prevemos aportar cerca de US$ 7 bilhões na área de refino e gás natural, com foco em segurança e eficiência energética”, comentou o presidente da companhia. Entre os planos para a área de refino está, por exemplo, a substituição do diesel S-500 pelo diesel S-19, que emite menos carbono.

O foco dos investimentos, contudo, ficam mesmo para o pré-sal. A meta é entregar ao menos 13 novas plataformas nos próximos cincos anos, proporcionando um aumento de produção previsto em 500 mil barris de óleo ou equivalente por dia (boed) – a meta para 2022 é de 2,6 milhões de boed, com variação de 4% para mais ou para menos.

Desinvestimentos podem impulsionar dividendos

A venda dos ativos prevista pela companhia, para além de ser defendida como uma otimização do portfólio, pode também trazer surpresas positivas aos acionistas da Petrobras.

Segundo Rodrigo Araújo, diretor do Financeiro e de Relacionamento com Investidores, a entrada de capital através da venda de ativos pode turbinar a distribuição de dividendos.

“Temos um compromisso forte de distribuir o valor criado, com os dividendos ficando acima de 60% do fluxo de caixa livre e com adicional por conta das entradas de caixa relevantes e alavancagem segura”, defendeu Araújo.

No primeiro trimestre, por exemplo, o fluxo de caixa livre chegou a US$ 9,7 bilhões, com US$ 1,7 bilhão somado devido aos desinvestimentos no Campo de Búzios. “Trabalhamos olhando para o cenário de 60%, fazendo a visão do resultado trimestral. Quando fazemos a proposta, porém, levamos em conta os eventos que vão além dos resultados operacionais”.

Araújo defendeu, entretanto, que a Petrobras sempre traça perspectivas antes de distribuir proventos aos acionistas. “Olhamos o caixa e também traçamos cenários futuros em um horizonte de 12 a 24 meses, com análises e túnel de risco, de olho no que pode acontecer em termos de caixa e endividamento”, explicou. “Temos um caixa ótimo que vai de US$ 8 a US$ 10 bilhões e uma dívida que desejamos deixar dentro do limite de US$ 50 a US$ 65 bilhões”.

O diretor afirmou que a estatal, atualmente, segue um trabalho de gestão que vai muito além de “observar o ambiente externo”. A companhia, além de ter seu desempenho impulsionado pelo preço do petróleo e por desinvestimentos, está, segundo ele, mantendo os custos sob controle, com reduções dos gastos em várias frentes.

“Apesar de o preço do petróleo nos ajudar, na última vez que o barril foi negociado a US$ 100, tínhamos uma dívida total de US$ 100 bilhões para vencer nos próximos cinco anos. Essa, hoje, é a nossa dívida total”, disse.

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