O que os últimos resultados trouxeram de sinais para Americanas, Via e Magazine Luiza, em forte queda na Bolsa em 2021?

Depois de forte desempenho em 2020, e-commerce tem atuação apagada na Bolsa este ano; resultados reforçaram cautela, apesar de alta nos volumes de vendas

Lara Rizério

(blackred/ Getty Images)

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SÃO PAULO – Após um ano de 2020 positivo, em que as ações de empresas expostas ao e-commerce se destacaram em um cenário de fortes restrições à mobilidade por conta da pandemia, 2021 não tem sido positivo para as companhias.

Mesmo com algumas sessões pontuais de recuperação, as ações da Americanas (AMER3) registram baixa de 43,90% na B3 no acumulado do ano até o pregão da última quarta-feira  (25), Via (VIIA3) tem queda de cerca de 30%, enquanto Magazine Luiza (MGLU3) tem perdas menores, mas ainda acumula baixa de 21,5% no período, ante uma alta de cerca de 1,5% do Ibovespa. Em agosto, a baixa para AMER3 ainda é de 13,60%, Via tem queda de 10,5% e Magalu tem baixa de 5,10%.

Nesse cenário, a temporada de resultados do segundo trimestre de 2021, apesar de mostrar que o e-commerce pode ter chegado a um novo patamar no Brasil, com números ainda fortes apesar da base de comparação considerada “difícil”, não ajudou a animar as empresas na B3.

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Na sessão pós- resultado, no dia 12 de agosto, os papéis da Via caíram 7,3%; já no dia 13, também pós-balanço, Americanas teve baixa de 7,88% e Magalu teve queda menor, mas ainda expressiva, de 3,34%.

Os analistas do Morgan Stanley destacaram alguns pontos que chamaram a atenção com a divulgação dos resultados das quatro maiores companhias posicionadas em e-commerce do Brasil, incluindo na lista também o Mercado Livre (MELI34), que negocia BDRs (Brazilian Depositary Receipts) por aqui.

Os principais pontos estão listados a seguir:

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1. Crescimento robusto. O comércio eletrônico na América Latina mostrou um ímpeto de crescimento contínuo, com as vendas online aumentando, apesar das difíceis bases de comparação. Para as quatro principais operadoras de comércio eletrônico do Brasil, o valor bruto de mercadoria online (GMV) no agregado dessas quatro empresas cresceu 39% na comparação anual no segundo trimestre.

O Morgan aponta que, embora o crescimento agregado tenha sido abaixo da alta de 99% no primeiro trimestre na base anual, o aumento acumulado em dois anos foi de 183%, acelerando notavelmente em relação à alta de 165% no primeiro trimestre na base de comparação com igual período de 2019.

2. Magalu e Mercado Livre lideraram crescimento de vendas. No Brasil, os analistas do Morgan ressaltam que Magazine Luiza e Mercado Livre lideraram no crescimento das vendas brutas de mercadorias (GMV) do e-commerce, com a primeira registrando alta de 46% do GMV, 10 pontos acima da estimativa do Morgan, enquanto Mercado Livre teve alta de 44%, batendo as estimativas dos analistas do banco em 4 pontos percentuais. Já a Via teve crescimento do GMV online de 20% na base anual (decepcionando em 4 pontos a estimativa do Morgan), enquanto o GMV online da Americanas teve alta de 37% na base anual (3 pontos abaixo da estimativa dos analistas do banco).

Levando em conta a comparação com 2019, considerando tanto as lojas online quanto as físicas (quando aplicável), Magalu cresceu 139% e o Mercado Livre Brasil cresceu 128%, enquanto a Americanas teve aumento de 74% e a Via teve alta de 50%.

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“Embora as taxas de crescimento tenham divergido, com os principais concorrentes aumentando o GMV online entre cerca de 20% e 50% no segundo trimestre, não houve mudanças significativas de participação de mercado no trimestre.  Olhando para os dados de comércio eletrônico da indústria do Brasil elaborados pela Neotrust, o crescimento médio mensal foi de  22% na comparação anual para o segundo trimestre (ex-Mercado Livre); com os 4 maiores pares crescendo 39%. Assim vemos as grandes operadoras continuando a consolidar a participação nas plataformas de mercado”, apontam.

3. Tendências divergentes de margens. Entre as operadoras de comércio eletrônico, os analistas observaram tendências de margens divergentes, com Mercado Livre como o destaque positivo, apresentando margem Ebitda (Ebitda/receita líquida) 11 pontos acima dos níveis do segundo trimestre de 2019. A margem Ebitda de 12,5% do Mercado Livre foi 6,80 pontos percentuais acima do esperado pelo Morgan e bem acima das margens do segundo trimestre de 2019 de 0,9%. Essa foi a segunda maior margem trimestral da empresa desde que seu ciclo de investimentos em logística aumentou, em 2018.

Para a Via, as margens Ebitda de 6,2% foram superiores aos 3,0% do segundo trimestre de 2019. Já a margem Ebitda ajustada de 5,1% do Magalu teve alta de 2,5 pontos na base anual, mas queda de 3,8 pontos frente dois anos antes. Enquanto isso, a margem da Americanas de 10,4% foi de queda 5,2 pontos na base anual e baixa de 8,5 pontos na comparação com igual período de 2019 (as margens são para operações combinadas online mais loja).

“Para Magalu, os investimentos de margem apoiaram o crescimento de GMV líder dos pares, enquanto o crescimento da Americanas ficou atrás de Mercado Livre e Magazine Luiza no trimestre. No geral, embora algumas empresas estejam observando custos de crescimento mais altos, acreditamos que o cenário competitivo em torno de preços e taxas de aceitação permanece racional”, avaliam.

4. Digitalização continua sendo o foco. Os temas-chave adicionais do segundo trimestre incluíram velocidades de entrega e serviços para ampliar o ecossistema, que continuam a melhorar.

O Mercado Livre destacou seu tempo médio de entrega em todas as localidades em menos de 1,5 dia, enquanto Magalu citou que 53% de suas entregas aconteceram em menos de 24 horas em julho. A Americanas registrou 51% das entregas em menos de 24 horas no segundo trimestre, enquanto a Via registrou 43% da entrega em um período de 24 horas no Brasil.

As empresas também têm realizado aquisições tuck-in – que envolve a compra de uma empresa menor e sua integração na plataforma do adquirente -, como uma forma de expandir tais capacidades e escopo de negócios, com recentes anúncios notáveis ​​incluindo a compra do KaBuM! pelo Magalu, enquanto a Americanas anunciou recentemente a compra do Hortifruti Natural da Terra.

O que esperar? 

Com esses números no radar, os investidores se perguntam o que esperar para as ações do setor. Conforme destacaram em relatório recente os analistas da XP, os nomes de e-commerce/tecnologia foram os que mais sofreram dentro da área de cobertura de varejo nas últimas semanas, sendo um grande tópico de discussões com investidores após a temporada de resultados para as companhias. Isso num contexto em que o segmento é altamente correlacionado com o panorama econômico (principalmente taxas de juros) e confiança do consumidor e, neste cenário, os papéis têm tido uma dinâmica desafiadora.

Mas, além do cenário macro, a competição mais acirrada tem sido uma preocupação crescente no segmento, já que os lucros divulgados recentemente mostraram margens pressionadas e comissões menores, aponta a XP, enquanto empresas internacionais como Amazon e Shopee continuam investindo fortemente no país.

“Acreditamos que a dinâmica de curto prazo deve permanecer pressionada, embora, após a recente venda desses papéis, o valor das ações está mais próximo ou abaixo dos níveis observados no pico da pandemia”, apontam os analistas da XP.

Olhando para o terceiro trimestre, os analistas do Morgan veem uma perspectiva mista para o varejo em geral, com bases de comparação mais difíceis em eletrônicos no Brasil e com a inflação pressionando os custos de insumos; enquanto isso, o tráfego das lojas físicas está se recuperando com o avanço da vacinação.

Após os resultados, a equipe de análise do banco destacou seguir seletiva: com relação às empresas citadas, os analistas possuem recomendação overweight (exposição acima da média do mercado) para Magalu e para o papel do Mercado Livre negociado na Nasdaq, destacando que os resultados do segundo trimestre apoiaram a sua posição.

Enquanto isso, os analistas revisaram as suas estimativas para as outras duas companhias, reduzindo o preço-alvo para AMER3 de R$ 72 para R$ 66, para a ação PN da holding Lojas Americanas ([ativo=LAME4]) de R$ 10 para R$ 9, e para a ação da Via de R$ 16 para R$ 14, refletindo maiores custos de crescimento. A recomendação do Morgan tanto para AMER3 e LAME4 quanto para VIIA3 é equalweight (exposição em linha com a média do mercado).

Sobre o Magazine Luiza, o Credit Suisse manteve a sua recomendação neutra para a ação da companhia, ainda que destacando os fortes resultados. Para os analistas, a companhia combinou crescimento robusto com uma dinâmica saudável de margem Ebitda.

“Olhando pelo ponto de vista de lucratividade, a margem bruta ficou estável, enquanto que a margem Ebitda ajustada continuou em patamares normalizados (5,2%) dado uma diluição dos custos fixos”, apontam.

Eles afirmaram estarem convencidos que o movimento atual não deve ser o suficiente para desencadear um ‘rebaixamento” da avaliação sobre das ações de e-commerce. “Os fundamentos de longo prazo (ou seja, aumentar a penetração das vendas online) permanecem intactos, o que nos faz acreditar que os níveis atuais podem ser um ponto de entrada interessante para os investidores com um horizonte de investimento de longo prazo. Nesse sentido, o Magazine Luiza é definitivamente um bom veículo para surfar esta tendência”, avaliam, possuindo preço-alvo de R$ 24,97 por ação MGLU3.

Já sobre a Via, o Credit apontou que, nesta fase, ainda vê opiniões divergentes dos investidores sobre a disposição para precificar a transformação digital da companhia e sua capacidade de amadurecer / dimensionar sua plataforma de mercado. “Nós reconhecemos que as bases de comparação foram mais ‘fáceis’ para ela se comparadas aos concorrentes e outras empresas já enfrentaram alguns desafios que a varejista não enfrentou (principalmente relacionados à maturação do 3P, o marketplace)”, afirmam.

Mesmo assim, os analistas do banco suíço avaliaram que esse é o sétimo trimestre consecutivo de resultados decentes,
combinando um ritmo de crescimento robusto com níveis saudáveis ​​de lucratividade. “É importante ressaltar que a evolução 3P (que é o principal catalisador para uma potencial reclassificação de ações, na nossa opinião) continua em boa forma, com expectativas de bom crescimento à frente e apoiadas por bons sinais qualitativos”, avaliam. Assim, com a combinação de um bom nível de execução e o valuation atual, os analistas do Credit seguiram otimistas com o case de investimentos, possuindo preço-alvo de R$ 24.

Por fim, com relação à Americanas, o balanço não foi considerado tão positivo, com o GMV online aumentando só acima da Via, mas analistas, como da XP, destacaram que a companhia trouxe algumas informações novas positivas como o guidance de sinergias decorrentes da fusão operacional de negócios, totalizando um valor presente estimado de R$ 1,6 bilhão.

“Vemos a Americanas como um ecossistema robusto com diversas iniciativas sendo implementadas buscando a melhora da experiência, recorrência e fidelização de seus clientes. Ainda, acreditamos que tanto a fusão como a aquisição do Hortifruti Natural da Terra devem destravar valor ao longo do tempo, com a companhia inclusive detalhando sinergias a serem capturadas em ambas frentes no seu resultado. Mantemos nossa recomendação de compra com preço alvo de R$ 82 e R$ 12 por ação para AMER3 e LAME4, respectivamente”, destaca a XP.

O BBI também reforçou que, apesar de crescer um pouco acima das expectativas da casa, o crescimento do e-commerce ficou abaixo do Mercado Livre e do Magalu, mesmo com a implementação do frete grátis e dos incentivos para que os vendedores usem o atendimento.

“Esperamos ver o crescimento acelerar no segundo semestre contra base de comparação mais fácil, mas até que ponto a Americanas ganhará participação de mercado em 2022 não está claro”, apontam, destacando ainda que, talvez mais importante para as ações seja o anúncio de sinergias por trás da fusão das lojas e negócios online.

Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, por sua vez, destacou logo após os resultados do setor que a questão agora seria olhar para frente e traçar um panorama sobre quais das empresas teriam um potencial de alta maior no futuro, sendo que alguns desses papéis já teriam precificado o cenário forte de crescimento.

Dentre as companhias, Cruz destacou perspectivas positivas para a Americanas, também de olho nas sinergias após a fusão das operações físicas com as digitais.

“Há uma sinergia forte, que não é tão tangível, mas que vai fazer diferença. Além disso, há a questão de aquisições. Depois da empresa se focar em juntar suas operações, ela anunciou a aquisição da Natural da Terra, que é uma compra interessante e deve ser a primeira de algumas”, avaliou, destacando que a compra é chave para entender o que vai acontecer com a empresa lá na frente.

No curto prazo, porem, o cenário ainda é de cautela dos investidores para as ações das companhias de e-commerce, com os investidores monitorando as notícias sobre maior concorrência e também o noticiário fiscal, que impacta a curva de juros futuros e afeta os ativos de varejistas.

Confira as recomendações para as companhias do setor, de acordo com compilação feita pela Refinitiv:

Empresa Ticker Recomendações de compra Recomendações neutras Recomendações de venda Preço-alvo médio Potencial de valorização*
Americanas (AMER3) 11 5 0 R$ 92,18 +117,30%
Magazine Luiza (MGLU3) 8 5 0 R$ 25,60 +31%
Via (VIIA3) 10 6 0 R$ 18,74 +66%
*em  relação ao fechamento de quarta-feira (25)

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.