O que explica o ceticismo do mercado com JBS, Marfrig, BRF e o maior otimismo com Minerva?

Expectativa de pressão de margens nos EUA impacta principalmente Marfrig e JBS, enquanto exposição à América Latina beneficia Minerva

Lara Rizério

Bandeja de carne vermelha (Shutterstock)

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Durante esta semana, as ações de empresas de proteínas têm se destacado como as maiores quedas do Ibovespa, com destaque para BRF (BRFS3) e Marfrig (MRFG3), com baixas acumuladas respectivas de 16% e 14% até às 14h (horário de Brasília) de quarta-feira (8), enquanto JBS (JBSS3) tinha baixa acumulada de cerca de 6%. Minerva (BEEF3), por sua vez, tinha queda menor, de 2,5%, no acumulado das últimas sessões (apesar de registrar uma queda mais forte do que seus pares nesta quarta).

No caso da BRF, cabe ressaltar o efeito dos terremoto na Turquia, já que é um grande mercado consumidor, como aponta o Bradesco BBI. Porém, outros fatores também são monitorados de perto.

A americana Tyson Foods divulgou seus resultados na última segunda-feira (6) e impactou o setor como um todo. A companhia teve resultado abaixo do esperado e cortou sua projeção de margem operacional, afetando as expectativas para os números das empresas brasileiras com operação de importante nos EUA. As ações da Marfrig caíram 6,75%, enquanto JBS teve baixa de 2,89% apenas na segunda.

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A empresa registrou uma forte compressão de margem para carne bovina e suína e interrompeu a recuperação de margem em seu negócio de frango no trimestre.

A Tyson também ajustou suas expectativas de rentabilidade para as três proteínas para 2023, com o guidance (projeção) indicando uma compressão de margem anual.

” Vemos isso como negativo tanto para a JBS quanto para a Marfrig. Observamos que o guidance para a Tyson foi um dos principais catalisadores para o preço das ações durante uma fase de maior incerteza na desaceleração do ciclo das proteínas. Já temos a maioria das novas previsões de orientação incorporadas em nosso modelo, mas pode desencadear mais revisões de consenso para baixo, já que nosso lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) estão 20% abaixo das estimativas do consenso Bloomberg para a JBS”, avalia o Itaú BBA.

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Com esse cenário, as expectativas para os resultados do quarto trimestre de 2022 voltaram a ser destaque no mercado.

Em relatório, o BTG Pactual atualizou as suas estimativas para refletir um cenário geral mais difícil da indústria, destacando as suas preferências.

“Mais do que reduzir as margens das empresas de carne bovina e aves dos EUA (Marfrig, BRF e JBS) e aumentar para a carne bovina da América do Sul (Minerva), acreditamos que o principal fator de valor virá na forma de como as margens mais baixas afetam a alavancagem”, afirmam os analistas do banco.

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Eles mantêm uma visão cautelosa sobre BRF e Marfrig, ambas as quais acreditam que terão maior alavancagem à frente, restringindo o potencial de valorização das ações. Espera-se também que a JBS veja alguma alavancagem, embora mitigada por uma base de receita diversificada, seguindo assim com recomendação  de compra.

Já a ação preferida no setor pelo BTG é a Minerva, pois os analistas veem a companhia sustentando um forte momento operacional e um valuation descontado, sendo “um porto seguro”.

“A Minerva possui uma poderosa combinação de (i) momento operacional, enfatizado pelo que vemos como potencial de alta
para as estimativas do consenso ne curto prazo; (ii) ciclo favorável de commodities, com maior disponibilidade de gado no Brasil e nas demais geografias onde atua, enquanto se beneficia da menor oferta de carne bovina dos Estados Unidos e dos altos custos dos grãos no geral; (iii) balanço confortável que contrasta com muitos outros players do setor; e (iv) valuations que estão no limite inferior do intervalo histórico”, apontam os analistas. Assim, elevaram o preço-alvo de R$ 21 para R$ 22.

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Voltando para JBS e Marfrig, os analistas do BTG veem que, em um setor onde as ações são negociadas de forma pró-cíclica, a queda das margens da carne bovina dos EUA deve pesar sobre os preços das ações.

“Ainda temos recomendação de compra para JBS, pois a vemos oferecendo um valuation descontado, sustentada por uma base de receita diversificada que mitiga parcialmente as margens operacionais mais baixas, mantendo o índice de alavancagem abaixo de 3 vezes”, avaliam. O preço-alvo, por sua vez, foi cortado de R$ 54 para R$ 40.

Já para a Marfrig, estão menos otimistas sobre a proposição de valor. Com as margens de carne bovina dos EUA convergindo para o histórico, veem o índice de alavancagem ex-BRF disparando para 5 vezes em 2023, gerando um valuation mais caro para 2023 de 5,7 vezes a relação entre valor da empresa sobre Ebitda (EV/Ebitda). A recomendação neutra foi mantida, com o preç0-alvo sendo cortado de R$ 17 para R$ 10.

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Por fim, a BRF é a última escolha da casa, com os analistas reduzindo as estimativas. O ciclo de aves não melhorou no final de 2022 e os indicadores do início de 2023 sugerem que as margens podem continuar pressionadas, avalia o banco. Isso, juntamente com um ambiente competitivo feroz no Brasil, à medida que a Seara adiciona alguma capacidade significativa este ano, deve impedir um aumento do Ebitda que seja forte o suficiente para iniciar um processo de desalavancagem muito necessário. Assim, mantiveram recomendação neutra, enquanto reduziram o preço-alvo de R$ 20 para R$ 11.

Na mesma linha, o Santander também ressaltou sua preferência pela Minerva no setor de proteínas, enquanto reforçou recomendação neutra para BRF, JBS e Marfrig.

No caso da JBS, o banco destaca gostar do portfolio diversificado da empresa, mas os problemas nos Estados Unidos pressionam os resultados. O banco vê a empresa como de qualidade “premium”, mas existem muitos fatores negativos no radar que possibilitariam uma melhora nos ganhos no futuro recente.

Para a Minerva, por sua vez, os analistas do Santander apontam que o forte posicionamento da companhia na América Latina é a chave para o sucesso, uma vez que, ao contrário do que ocorre nos Estados Unidos, os impactos das adversidades são mais neutros e o ciclo do gado no Brasil está mais favorável. Além disso, o patamar atual dos preços dos papéis é atrativo, com a companhia sendo negociada com um desconto de até 15% com relação à sua média histórica. As operações de aquisições recentes e outras oportunidades estudadas na Austrália e na América do Sul devem ajudar a geração de caixa futura.

No caso de Marfrig, a companhia deve seguir com resultados fracos nos próximos trimestres, com contração nas margens do seu braço de negócios nos EUA, ainda que a sua operação na América Latina deva apresentar melhora.

Já para a BRF, a companhia segue em processo de reestruturação e “virada”, em busca de uma atividade mais rentável. Porém, ainda há pressões nos custos, assim como a divulgação pouco clara sobre os planos estratégicos futuros. Desta forma, o mercado deve começar a precificar as melhorias apenas quando os benefícios da execução começarem a ser sentidos, na avaliação dos analistas. Além disso, com uma produção excedente de aves, as margens da BRF devem ser desafiadoras.

Para a Minerva, o preço-alvo foi elevado de R$ 20 para R$ 23, enquanto JBS, BRF e Marfrig tiveram preços-alvo para 2023 reduzidos. De JBSS3 caiu de R$ 32,80 para R$ 22,50, de BRFS3 de R$ 14 para R$ 9 e de MRFG3 de R$ 12 para R$ 8,50, as três com recomendação neutra.

No mês passado, o JPMorgan já havido revisado suas preferências no segmento de frigoríficos brasileiros, rebaixando recomendação de JBS para neutra e elevou Minerva para compra, enquanto reiterou manutenção para BRF e Marfrig.

Assim, enquanto as preferências se deslocam cada vez mais para a Minerva, os agentes de mercado ficarão bastante atentos aos números do quarto trimestre para dimensionar o impacto dos ciclos nos resultados das empresas. Minerva divulga seus números no próximo dia 23 e BRF no dia 28. Já a Marfrig revelará seus números no dia 1 de março, enquanto a JBS será a última do setor, com resultados sendo relevados apenas no dia 21.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.