O que esperar para as varejistas de moda no 3º tri? Analistas veem “ressaca” para o setor após período forte de vendas

Vendas de inverno antecipadas para o 2T22 e falta de datas comemorativas foram alguns dos fatores para trimestre mais frio

Lara Rizério

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Um terceiro trimestre mais difícil, de “ressaca”, após um segundo trimestre forte, “de festa”, para a maior parte das empresas: é assim que os analistas esperam que seja a temporada de resultados para o setor de varejo de moda. Contudo, as empresas tradicionais do setor devem seguir chamando a atenção em seus balanços.

O terceiro trimestre para o varejo discricionário apresenta uma dinâmica de vendas mais fraca por falta de datas comemorativas e férias escolares, aponta a Eleven. Além disso, parte das vendas de inverno foram antecipadas para o 2T22, dificultando assim um resultado mais forte, principalmente para as companhias expostas às classes mais baixas.

“Dessa forma, vemos a continuação da dinâmica favorável para o setor de vestuário para as companhias focadas nas classes A/B, que nos últimos trimestres apresentaram resiliência no crescimento de receita e manutenção de rentabilidade”, destacando Arezzo (ARZZ3) e Grupo Soma (SOMA3). As demais empresas devem apresentar recuperação de vendas no 3T22, mas ainda em ritmo menor e sua rentabilidade continua pressionada, com os analistas citando Track&Field (TFCO4) e Vulcabras (VULC3), que seguem crescendo sem abdicar de margens saudáveis.

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“Ainda, sinalizamos mais uma vez a pressão que a inadimplência deve ter nesse trimestre para a divisão de serviços financeiros de Renner (LREN3) e as demais empresas que oferecem crédito”, avalia a Eleven.

Para a XP, o destaque será novamente para as varejistas de alta renda dentro do segmento de consumo discricionário, apesar de algumas já começarem a reportar desaceleração do crescimento por conta da base de comparação normalizada .

“Quanto as varejistas de média baixa renda, esperamos um crescimento de receita pressionado pela antecipação da demanda de inverno no segundo trimestre, pela primavera atrasada e pelo impacto do cenário macro em outras categorias (casa e decoração e fashiontronics enquanto as margens devem cair por conta da menor alavancagem operacional”, avaliam os analistas.

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O BBI, de olho na temporada do 3T22, apontou que, entre as varejistas, mantém preferência por histórias de crescimento individual resilientes, como Lojas Renner (LREN3) entre as empresas de moda.

“Esperamos uma recuperação mais pronunciada quando as taxas de juros caírem, aliviando as pressões sobre os orçamentos dos consumidores e sobre os resultados das empresas – especialmente em relação aos grandes players discricionários”, apontam o BBI.

Os analistas também lembram que o 2T22 foi muito forte para os varejistas de vestuário em geral devido ao clima frio, o que permitiu que eles vendessem suas coleções de inverno a preço total (o 2T22 teve um crescimento médio de cerca de 27% em relação ao 2T19).

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Contudo, começou uma ressaca, em parte porque o extraordinário desempenho de vendas do 2T22 afetou parte das vendas do 3T22 e, além disso, setembro foi um mês frio, o que resultou em descasamento de temperatura para o lançamento da coleção de verão.

No geral, os analistas do BBI esperam que o crescimento médio das vendas do setor de vestuário esfrie para uma média de cerca de 12% (versus 2019), com a Renner continuando a superar os pares com o maior crescimento (cerca de 35% versus 3T19) e vendas pelo critério de mesmas lojas (cerca de 8% na comparação anual).

“Também achamos que o desempenho superior do varejo da Renner pode ofuscar as pressões de curto prazo sobre a divisão de serviços financeiros, especialmente porque esse crescimento se traduz em expansão de margem por meio da diluição de despesas incrementais incorridas para suportar o crescimento digital”, avaliam os analistas.

A XP espera que as Lojas Renner entreguem resultados mistos, uma vez que a companhia continua a superar seus pares, mas o clima desfavorável e a antecipação do inverno pressionaram a dinâmica de receita e margem e a Realize deve continuar enfrentando altos níveis de inadimplência.

Para a SBF (SBFG3, dona da Centauro, o BBI espera que a companhia registre um crescimento estável no 3T22 devido a: 1) uma base comparável alta e incomum no 3T21 do negócio de distribuição Fisia (devido às baixas compras no varejo no primeiro semestre de 2021 por conta do Covid); 2) a mudança do SAP tanto na Centauro quanto na Fisia; e 3) a mudança da plataforma de e-commerce pela Fisia. “Acreditamos que ambos os efeitos serão de curta duração e, portanto, permanecemos positivos em relação às perspectivas de crescimento de longo prazo do Grupo SBF”, avalia.

Já a Arezzo (ARZZ3) deve entregar um crescimento de receita de cerca de 47% no 3T22, o maior no universo de cobertura dos analistas do BBI. “Esse forte ímpeto deriva do crescimento acelerado das marcas “novas” Reserva e Vans (estimamos o 3T22 em cerca de 60% na comparação anual), sem mencionar o crescimento menor, mas saudável, das principais marcas legadas”.

A companhia continua a construir opcionais, como “Reserva básica” (roupa básica) e Reversa (roupa feminina), então os investidores provavelmente estão ansiosos pelo do Dia do Investidor da empresa, em 10 de novembro, para saber mais sobre possíveis novas iniciativas que poderiam ser anunciadas, aponta o BBI.

A XP espera que a empresa reporte outro trimestre de resultados fortes, com receita líquida crescendo 45% ao ano mesma em cima de uma base de comparação difícil, suportada pela sólida performance de todas as marcas no portfólio. Quanto à rentabilidade, estimam uma forte margem bruta (alta de 0,8 ponto percentual ao ano) por conta do mix de canal e menor remarcação por conta da coleção assertiva, enquanto a margem Ebitda (de 15%, queda de 1 ponto ano a ano), pressionada pelos investimentos da companhia em suas iniciativas orgânicas. Por fim, o lucro líquido deve vir em R$ 100 milhões, alta de 21% na base anual.

Sobre Alpargatas, os analistas do BBI avaliam que, embora permaneçam positivos sobre a história de crescimento de longo prazo, os resultados do 3T22 provavelmente não serão um direcionador, já que o principal gatilho continua sendo a alta temporada do mercado internacional no primeiro semestre de 2023 (1S23), da qual esperam ver os volumes de exportação aumentarem até o final do 4T22. “Embora suas ações estejam sendo negociadas com múltiplo P/L [preço sobre lucro] de cerca de 20 vezes para 2023, o que não parece descontado, continuamos otimistas sobre as perspectivas da empresa para um crescimento internacional de alta margem no longo prazo”, avaliam.

A XP aponta que os volumes produzidos no Brasil devem permanecer pressionados pelos fatores macro/clima e desafios
nas operações dos EUA e China, embora com forte dinâmica de preço/mix no Brasil e forte performance nas operações na Europa, Ásia e América Latina.

Para a Vulcabras (VULC3), a Eleven avalia que a empresa deve apresentar um resultado forte mais uma vez, continuando o movimento observado nos trimestres anteriores. Os calçados esportivos e as confecções devem impulsionar a receita líquida, apesar de esperar uma performance mais fraca no mercado externo. Além disso, o repasse de preços e uma melhor alavancagem operacional devem fazer com que a rentabilidade seja o destaque positivo.

Os analistas também traçaram projeções para a Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, para a C&A (CEAB3) e para o Grupo Soma (SOMA3).

Para a Guararapes, esperam resultados mistos, com o crescimento de receita pressionado pelo clima não favorável e antecipação do inverno, combinadas com a fraca performance das categorias de fashiontronics e casa, mas com melhora de rentabilidade na operação de varejo e uma performance controlada da Midway, apesar dos desafios macroeconômicos.

“Como resultado, estimamos uma receita líquida da operação de varejo estável ano a ano (alta de 10% versus 2019) mas com melhora de margem Ebitda anualmente por conta de ganhos de eficiência nas despesas com vendas, gerais e administrativas. Quanto a Midway, esperamos que os níveis altos de inadimplência se mantenham, mas com melhora do Ebitda no trimestre e nível de cobertura controlado”, avaliam os analistas. A estimativa é de um prejuízo líquido de R$ 18 milhões por conta de maiores despesas financeiras e impostos.

Já com relação à C&A, a projeção é de resultados fracos, com o crescimento de receita pressionado pelo clima pouco favorável e antecipação do inverno, combinados com a fraca performance da categorias fashiontronics. “Estimamos um crescimento de receita líquida de 4% ano a ano (avanço de 12% versus 2019) enquanto a recuperação de margem bruta deve levar uma melhora marginal do Ebitda, que deve vir em R$ 4 milhões. A projeção é de um prejuízo líquido de R$ 76 milhões no período por conta de maiores despesas financeiras.

Para a Eleven, a companhia deve ter uma melhora na margem Ebitda na comparação anual, apesar da empresa ainda sofrer com o aumento das despesas de ocupação e pessoal.

A Eleven também traçou projeções para o Grupo Soma, dono da Hering, Farm, Animale, entre outras, esperando um crescimento sólido de receita, assim como forte desempenho da Hering, acima de seus pares. “Quanto a rentabilidade, esperamos uma expansão de margem bruta na comparação anual e um ganho de margem Ebitda devido ao crescimento de receita e uma maior alavancagem operacional”, avaliam os analistas. A projeção  é de lucro pressionado por maiores despesas financeiras e impacto fiscal não recorrente no ano anterior.

A XP espera crescimento de receita de 27% na base anual, enquanto o Ebitda deve ter um forte crescimento de 66% ano a ano, com uma margem 3,6 pontos percentuais superior por conta da alavancagem operacional. Por fim, estimam um lucro líquido de R$ 93 milhões (queda de 40% na base anual) por conta da maior despesa financeiras e do impacto fiscal positivo não recorrente no 3T21.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.