O que esperar do Ethereum após a atualização Merge? Especialistas respondem

Alinhamento com políticas de ESG deve atrair mais investidores institucionais, mas valorização no longo prazo ainda tem maior consenso entre analistas

Paulo Barros Rodrigo Tolotti

(Kanchanara/Unsplash)

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Após longa espera, o Ethereum (ETH) implementou com sucesso a atualização conhecida como Merge (Fusão, em português), na madrugada de quinta-feira (15), no que é considerado o evento mais importante da história do mundo cripto.

Os benefícios prometidos pela Fusão envolvem um gasto energético que passa a ser irrisório comparado ao modelo anterior, além de um novo mecanismo de renda passiva integrado à blockchain – chamado de staking, ele permite depositar e ganhar juros em ETH para ajudar a validar transações.

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As mudanças, no entanto, tendem a ter maior impacto no usuário que utiliza a tecnologia de maneira mais direta, grupo pequeno comparado ao vasto número de pessoas que são apenas investidoras procurando uma justificativa para se expor ao criptoativo.

Diante disso, o que o investidor pode esperar de mais concreto no curto prazo, como consequência da Merge? Segundo especialistas ouvidos pelo InfoMoney, um dos efeitos mais imediatos pode ser uma atenção maior vinda de investidores institucionais, que tendem a ficar mais abertos a fazer alocações em ETH a partir de agora.

“A gente sabe que vários gestores institucionais, ao longo do tempo, preferiram não correr o risco do momento da transição de PoW para PoS, preferiram ficar fora, e voltar a posição depois. Ou seja, não correr o risco tecnológico da atualização”, explica João Marco Cunha, gestor de portfólio da Hashdex. “Se esses gestores agora de fato voltarem ainda mais confiantes, é possível que a gente veja sim um rali de preço”.

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Além do risco da atualização, especialistas apontam que a transição em si para um modelo mais ecológico deve ajudar o Ethereum a ter mais aceitação entre investidores corporativos.

“Tanto do ponto de vista ESG quanto do ponto de vista de gastos, existe expectativa de maior adoção institucional de cripto pelos players mais sensíveis ao uso de energia elétrica de outros protocolos como o Bitcoin”, aponta Alexandre Ludolf, diretor de Investimentos da QR Asset Management.

Apesar do seu uso não ser tão simples para o usuário comum, o staking também pode servir, segundo especialistas, como uma porta de entrada para investidores que desejam adotar o ETH como ferramenta de renda passiva em criptoativos – nem que seja por meio da experimentação.

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O staking não é algo novo na indústria e nem mesmo no Ethereum, pois já existia no âmbito das finanças descentralizadas (DeFi). Entretanto, a solução incorporada nativamente pelo Ethereum pode ser encarada como mais segura por investidores, que podem induzir uma redução na oferta da moeda, favorecendo o preço.

“É importante a dinâmica da oferta da moeda. Uma redução expressiva da emissão de ETH e maior possibilidade de períodos de redução da base monetária pode ser muito benéfico”, avalia Ludolf.

A projeção está em linha com o que diz a gestora de fundos privados Bernstein em um novo relatório. Segundo a empresa, a blockchain “emergirá como líder na categoria de ativos digitais, dada sua transição econômica, roteiro de escalabilidade e [a] economia digital vibrante sendo construída sobre ela”.

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O novo modelo econômico após a fusão, combinado com a queima de tokens, pode levar a “emissões negativas de tokens” durante períodos de alta demanda, o que estabeleceria um teto na oferta total de ETH e traria “escassez digital”, acrescenta a nota.

Assista: desenvolvedora e professora de blockchain explica detalhes da Merge do Ethereum

Por outro lado, Helena Margarido, head de cripto da Monett, descarta grandes movimentações de preço do ETH no curto prazo. Na sua percepção, os benefícios da Merge já estão precificados na criptomoeda neste momento após uma queda recente que veio na sequência de um rali que fez seu valor chegar a dobrar entre junho e julho.

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“O Bitcoin fez um fundo duplo com o que tinha sido apurado em junho, mas o Ethereum não caiu tanto, caiu menos. Por que? Porque está precificando o The Merge. Eu acho que ele já está precificado e não acredito que deva subir muito por conta disso”, conta a analista.

Mudança real ainda está por vir

Se há discordância sobre o movimento imediato, é consenso de que o Ethereum deve entregar bons frutos ao investidor no longo prazo. O resultado, no entanto, não deve vir em decorrência da atualização que acaba de ser finalizada, mas sim de mudanças que estão programadas para os próximos meses.

“Essa é uma atualização que na verdade abre o caminho para futuras atualizações que vão aumentar a escalabilidade, a quantidade de transações que a rede é capaz de suportar”, diz João Marco Cunha, da Hashdex.

“Você abre as portas para uma mudança no futuro que vai ser muito importante para o Ethereum atingir a escala e sua pretensão de ser esse processador mundial de contratos inteligentes e viabilizar as aplicações de DeFi e cultura digital, metaverso e tudo mais”.

A escalabilidade tem a ver principalmente com a capacidade de a rede crescer junto com a redução nos custos cobrados para processar transações.

“Não é esperado que as taxas do Ethereum caiam [agora], e isso é um ponto muito crucial para a adoção do Ethereum como protocolo de preferência dos desenvolvedores, porque as taxas de transação hoje inviabilizam uma série de soluções que poderiam ser programadas em cima de Ethereum”, destaca a head de cripto da Monett.

“As próximas atualizações do Ethereum podem ser mais cruciais na tentativa de continuar sendo o protocolo mais proeminente de contratos inteligentes. Aí sim, no longo prazo, temos bons resultados financeiros para colher, apostando no Ether”.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos