O que esperar das ações das estatais Petrobras (PETR4), BB (BBAS3) e Eletrobras (ELET6) em mais um ano de eleições?

Mesmo com a tradicional volatilidade pré-eleitoral, as estatais, como a Petrobras, vivem um cenário diferente, com menor dívida e pagando dividendos

Carla Carvalho

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Em todo o período pré-eleitoral, as ações de estatais recebem uma maior atenção dos gestores e dos investidores por conta dos riscos de ingerência política. Declarações de candidatos sobre planos para as empresas têm a capacidade de mexer nos preços dos ativos, trazendo volatilidade.

Um exemplo do sobe e desce, e que deverá ser recorrente nos próximos meses, aconteceu na última sexta-feira (28), quando o provável candidato do PT ao Planalto e líder das últimas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Lula, declarou que, em vez de pagar dividendos, a Petrobras (PETR3; PETR4) deveria investir em refinarias.

A consequência das declarações não demorou a surtir efeito sobre as ações da Petrobras, com os ativos ON (PETR3) fechando em baixa de 2,97%, a R$ 35,89,  enquanto os papéis PN (PETR4) recuaram 3,96%, a R$ 32,54.

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No pregão seguinte, mesmo com a valorização da cotação do preço do barril do tipo Brent – que nesta segunda-feira (31) avança 1,29%, superando a barreira dos US$ 91 –, as ações da estatal caem novamente: PETR4, -0,46%; e PETR3, -1,62%.

Entretanto, ao contrário das últimas eleições, estatais como Petrobras, que agora possui uma consistente política de dividendos e uma dívida sob controle, trazem outras perspectivas para os papéis, sobretudo em um momento de bolsa desvalorizada.

Como as eleições poderão mexer com as ações de estatais em 2022?

Diferente do que se esperava, os últimos governos não conseguiram fazer as agendas de privatizações avançarem – com exceção da Eletrobras (ELET3;ELET6), cujo processo de capitalização avança. Assim, as demais grandes estatais, como Petrobras e Banco do Brasil (BBAS3), devem ganhar os holofotes.

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Tecendo críticas recorrentes à Petrobras, o presidente Jair Bolsonaro é um defensor da privatização, já tendo afirmado que buscaria estudos com a equipe econômica para a venda da fatia da União, mas sem avançar efetivamente em qualquer proposta.

Enquanto isso, o provável pré-candidato do PSDB à presidência, o governador de São Paulo, João Doria, afirmou não ser um “especialista” em Petrobras, mas que, caso seja eleito ao Palácio do Planalto, colocará a petroleira para ser privatizada.

“Vamos colocar a Petrobras para ser privatizada para que a companhia possa se tornar mais competitiva, em um possível split de 3 ou 4 empresas”, afirmou, acrescentando que a modelagem da privatização teria um processo longo, não sendo um “proposta populista”.

Sobre o banco, ele também vem afirmando ser favorável à sua privatização, reforçando que não há espaço para duas instituições financeiras – no caso a Caixa – sobre o controle do governo.

Volatilidade das ações de estatais

Mesmo diante destas prévias do que pensam alguns dos possíveis candidatos, ainda faltam nove meses para as eleições presidenciais e muita definição deverá ocorrer. Segundo Victor Scalet, analista da XP, espera-se que somente por abril é que o cenário eleitoral comece a mostrar alguma definição.

Durante participação no Stock Pickers, André Ribeiro, sócio fundador da Brasil Capital, disse que, mesmo com a volatilidade esperada no ano, os principais candidatos (Lula e Bolsonaro) não trariam grandes novidades ao mercado, já que ambos governaram o país.

Já Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, ressalta que nenhum dos dois principais candidatos têm características austeras em relação à economia. Para ele, ainda pode haver alguma alteração no preço dos ativos à medida que as eleições se aproximarem.

“Porém, hoje o mercado já precifica boa parte do perfil mais populista e a tendência de maiores gastos públicos de ambos”, avalia.

Ações baratas

Para Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico, as estatais já estão com um desconto muito grande. “Logicamente, existe o risco de os preços caírem ainda mais, mas não dá para ficar esperando só por isso. De qualquer forma, é sempre interessante manter um pouco de caixa para aproveitar oportunidades.”

Na avaliação de Tiago Reis, da Suno Research, a Petrobras tinha uma dívida praticamente impagável, e se desalavancou, contando hoje com uma margem maior do que a da ExxonMobil. “Não só a Petrobras, mas a Eletrobras, o Banco do Brasil e várias outras estatais também possuem bons fundamentos hoje”, disse.

Segundo ele, Petrobras e BB estão negociando a múltiplos de 4 vezes o lucro, enquanto a Eletrobras está com 5 a 6 vezes o lucro – e as empresas estão com balanços sólidos e pagando dividendos.

“A Petrobras está pagando cerca de 20% de dividend yield, o BB um pouco menos, mas poderia pagar mais… No caso do BB, as ações são ainda mais defensivas por conta da maior exposição ao agronegócio e crédito consignado (carteiras com menor inadimplência)”, acrescentou Reis.

Ainda conforme Reis, os múltiplos, por exemplo, do BB estão próximos dos registrados entre 2015 e 2016. “Por exemplo, o P/VP do Banco do Brasil hoje é muito parecido com o daqueles anos (governo Dilma). O fato de esse desconto estar igual já indica precificação de uma ‘catástrofe’ maior do que a de antes. Mas hoje o banco está bem mais saudável do que naquela época”, disse Reis, durante participação no Stock Pickers.

A seguir, confira como os analistas estão enxergando para as ações de Petrobras, Eletrobras e Banco do Brasil.

O que esperar das ações da Petrobras (PETR4)?

Para Rodrigo Crespi, analista da Guide Investimentos, a Petrobras tem mostrado uma governança cada vez mais atuante e respeitada. Nesse sentido, mesmo com a mudança da presidência, ressalta que o plano estratégico 2022-2026 da companhia em nada se alterou.

“Na verdade, o plano estratégico parece até que melhorou, pois dá bastante ênfase ao ESG, principalmente no tocante à governança. Não é à toa que a companhia voltou a fazer parte do índice Dow Jones de Sustentabilidade”, observa Crespi.

De forma geral, analistas veem com bons olhos o futuro da companhia. Entre os principais motivos, estão a geração de caixa, a tecnologia e a proteção legal quanto à política de preços. A seguir, confira mais detalhes sobre cada um desses aspectos.

Geração de caixa

De acordo com o analista da Guide, a Petrobras tem feito a lição de casa com bastante êxito. Além disso, a sua forte geração de caixa e o anúncio da alienação de sua participação na Braskem fazem com que o mercado tenha expectativas de um dividendo robusto para 2022.

“Por si só, isso já pode neutralizar possíveis ruídos políticos. Além disso, uma empresa que paga mais de 20% de dividend yield proporciona mais rentabilidade do que qualquer renda fixa”, avalia.

Sobre a geração de caixa, Rafael Chacur, sócio da SFA Investimentos, observa a redução de custos da companhia com a mudança do processo de produção. Segundo ele, atualmente mais de 70% da produção de petróleo vem do pré-sal, cujo custo caixa é, praticamente, a metade do pós-sal.

“A Petrobras é uma empresa que está muito resiliente em termos operacionais. Nesse sentido, ela vem saindo de ativos que requerem mais investimentos para focar nos que proporcionam mais rentabilidade, como os do pré-sal”, analisa Chacur.

A Guide também acredita que a companhia priorize o pré-sal daqui para frente, em detrimento da exploração em águas rasas e onshore (em terra). Segundo Crespi, a expectativa é de que continue vendendo os campos mais maduros para empresas como PetroRio e 3R Petroleum, por exemplo.

Tecnologia

Segundo Crespi, a Petrobras é muito superior aos seus pares listados em bolsa e, por isso, conseguiu investir no pré-sal. Para o analista, a otimização do portfólio trouxe um ganho significativo. “Daqui para frente, a empresa deverá focar muito mais na eficiência do que no tamanho, e isso é bastante positivo para o acionista”, diz.

A SFA também acredita que a Petrobras é uma das melhores companhias de petróleo do mundo. Em sua carta de gestão do terceiro trimestre de 2021, destaca o potencial de escala da companhia e o fato de ela atuar de forma integrada, o que otimiza sua produção entre refinarias.

Além disso, o pioneirismo na tecnologia E&P (Exploração e Produção) em águas profundas possibilita a competitividade internacional. Por fim, o corpo técnico altamente qualificado e o baixo custo de extração do pré-sal completam os diferenciais competitivos da companhia, segundo a SFA.

Política de preços

Em relação à Petrobras, uma das grandes preocupações do mercado sempre foi a possível intervenção do governo na política de preços dos combustíveis.

Porém, para Rafael Chacur, a companhia está bem blindada quanto a política de preços. Segundo o analista, existem duas forças motrizes na sua governança hoje, que é a Lei das Estatais, sancionada em 2016, e o novo Estatuto Social da empresa.

“Tanto a Lei das Estatais quanto o novo Estatuto Social blindaram a governança da Petrobras de interesses políticos”, diz o relatório da SFA. Entre as mudanças previstas no estatuto, está a responsabilização da diretoria e dos membros do Conselho de Administração na pessoa física caso haja algum ato prejudicial à empresa.

Já a Lei das Estatais prevê que a empresa possa ser ressarcida pela União, caso seja obrigada pelo Estado a atuar em benefício de alguma causa social. Um exemplo foi a greve dos caminhoneiros, em 2018; na ocasião, por conta de um acordo com a referida classe, o governo foi obrigado a restituir a Petrobras.

Leia Também: A hora de privatizar a Petrobras chegou

O que esperar das ações da Eletrobras (ELET6)?

Segundo o BNDES, a oferta de capitalização da empresa deve sair em meados de março, com a precificação da operação prevista para abril.

A operação tem como objetivo reduzir a participação do estado no capital da companhia, que hoje é superior a 60%. A descotização (mudança da forma de comercialização de energia) das usinas da Eletrobras é a base da privatização.

Atualmente, as usinas vendem energia por um regime de cotas a preços mais baixos, o que acaba gerando prejuízos à Eletrobras. Com a descotização, será possível praticar preços livres de mercado.

Novo desenho societário

A expectativa do governo é de que a privatização resulte em, aproximadamente, R$ 67 bilhões. Além do pagamento à União, esse montante seria revertido para investimentos e redução de tarifas.

Dos atuais 60% de participação nas ações ordinárias, a União ficaria com, no máximo, 45% após a privatização. Segundo Diogo Mac Cord, secretário especial de desestatização e desinvestimentos do Ministério da Economia, a companhia aumentará de tamanho por conta da capitalização. Porém, o governo federal não acompanhará esse crescimento, pois sua participação será diluída.

Para a Guide, a Eletrobras poderá ter significativo ganho operacional e de governança caso seja diluída a participação do governo. “Com a capitalização, a Eletrobras fica mais blindada de possíveis intervenções políticas. Dessa forma, pode entrar no radar do investidor, mesmo que haja ruído político em 2022”, observa Crespi.

Felipe Garkalns, head de Private Banking da MyCap, também acredita na valorização da companhia com a privatização. “Aprovados os acórdãos no TCU (Tribunal de Contas da União), a empresa poderá ter um viés de alta grande. Em 2022, temos um viés mais neutro para as estatais. Mas, dependendo da decisão do TCU, poderemos ter um call de compra para a Eletrobras”, declara Garkalns.

O que esperar das ações do Banco do Brasil (BBAS3)?

Historicamente, as ações do Banco do Brasil tendem a ser mais descontadas do que as de seus pares privados, basicamente por causa do risco de interferências estatais. No entanto, a empresa possui balanço saudável, bons fundamentos e paga bons dividendos.

Para 2022, a Guide avalia que o banco deverá conseguir reduzir o provisionamento. “O Banco do Brasil tem aumentado o foco no mercado agrícola, e essa carteira de crédito tende a ser menos inadimplente do que a pessoa física. Provavelmente, esse conservadorismo fará com que o provisionamento reduza”, observa o analista da Guide.

André Querne, sócio da Rio Gestão, também observa que o Banco do Brasil está com múltiplos muito baixos, como vários outros bancos de primeira linha. “Com a mudança de paradigma trazida pelas fintechs, tanto os bancos privados quanto os estatais terão que fazer muito esforço para manter receita e cortar custos. Isso tem penalizado as grandes instituições financeiras tradicionais”, avalia.

No caso dos bancos estatais, essa dificuldade tende a ser ainda maior, pois a gestão tende a ser mais lenta. Nesse sentido, Querne observa que o problema do banco não é má gestão, mas sim a lentidão dos processos. “Comparada a 2015, a gestão do BB até melhorou. A questão é que é um banco estatal não tem a capacidade de cortar custos e fechar agências não rentáveis da mesma forma que faz um banco privado.”

No dia 20 de janeiro, o Banco do Brasil anunciou a aprovação da distribuição de 40% do lucro de 2022 em dividendos e juros sobre capital próprio (JCP).

Em nota divulgada pela companhia, entre os aspectos considerados para a distribuição do resultado estão o resultado do banco, sua condição financeira, o plano de capital (metas e respectivas projeções), a declaração de apetite e tolerância a riscos, as perspectivas dos mercados de atuação, as oportunidades de investimento e a manutenção e expansão da capacidade operacional.

E qual das três grandes estatais é a preferida pelo mercado?

Para a maioria dos analistas, o primeiro lugar entre as grandes estatais fica com a Petrobras.

Segundo a Guide, o fato de a operação da empresa estar indo bem, a venda de ativos menos rentáveis e as perspectivas de manutenção do petróleo em alta justificam essa preferência. “Se o barril de petróleo se mantiver acima dos US$ 40 em 2022, a companhia consegue garantir um pagamento de dividendos bastante robusto”, afirma Crespi.

Essa também é a avaliação da SFA Investimentos. Para Rafael Chacur, a Petrobras terá grande capacidade de geração de caixa em 2022. “Por causa da forte geração de caixa, estimamos que a companhia possa chegar a um dividend yield por volta de 18% a 20%, tão alto quanto o do ano passado”, avalia o sócio da SFA.

Outro ponto a considerar é o desconto da empresa em comparação aos players internacionais. Nesse sentido, Chacur observa que, hoje, a Petrobrás está sendo negociada por volta de 2,5x EV/EBITDA. Para o sócio da SFA, se comparada a companhias internacionais, as ações da empresa deveriam custar hoje cerca de R$ 45.

“Achamos que o mercado está precificando o papel da Petrobras como se ela tivesse uma intervenção muito maior do que realmente tem. Inclusive, hoje ela está descontada em relação a companhias russas, o que não aconteceu nem na época da sua maior crise, de 2013 a 2015”, analisa o gestor.

André Querne, da Rio Gestão, acrescenta ainda que, para os investidores, a empresa vive um de seus melhores momentos. Isso porque, além do aumento da produtividade e da redução de custos, o preço do petróleo também subiu.

Segundo Querne, hoje a dívida da companhia está em um nível muito baixo. Todos esses fatores fazem com que o momento seja de pagamento de excelentes dividendos por parte da empresa. “Sem falar que, quando o papel paga dividendos, ele fica ex, ou seja, 20% mais barato. Então, a tendência é continuar valorizando, para voltar ao preço antigo, o que é interessante para o investidor”, observa o gestor.

A Rio Gestão também acredita em um alto potencial de valorização dos papéis da Petrobras. Para a gestora, do ponto de vista de fundamentos econômicos, o potencial de alta é de até 60% nas ações da empresa.

A Petrobras está nas carteiras recomendadas da Guide e da SFA. A Guide trabalha hoje com preço alvo de R$ 38 para a companhia, e a SFA tem a empresa na carteira de dividendos.

BB

O segundo lugar entre as grandes estatais fica com o Banco do Brasil. Para a Guide, além de ser a ação mais descontada entre as três empresas, o BB parece ser o menos suscetível a interferências do governo. “No caso da Petrobras e Eletrobras, as pessoas sentem direto no bolso a alta dos combustíveis e energia. Isso gera mais pressão sobre o governo”, observa Crespi.

O analista acrescenta ainda que, hoje, o Banco do Brasil é negociado a mais ou menos 0,6x preço/valor patrimonial, um desconto muito forte para uma empresa que entrega resultado. Para Crespi, o tapering nos Estados Unidos e o restante da economia global têm mais força do que a instabilidade do ano eleitoral em relação às ações do banco.

A Rio Gestão também acha que as ações do BB estão muito depreciadas. “Do ponto de vista de fundamentos, o preço está bastante baixo. Ainda mais para uma empresa boa pagadora de dividendos”, diz Querne.

O Banco do Brasil também está na carteira recomendada da Guide, com preço alvo de R$ 40 para 2022.

Eletrobras

Por fim, a Eletrobras é hoje a estatal federal que menos empolga o mercado. Além de ser a ação menos descontada entre as três, o processo atual de privatização faz com que analistas a observem relativamente de longe.

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