Novo corte: Julius Baer rebaixa ações do Brasil com corrosão da credibilidade fiscal

Estrategista reforça que plano de corte de gastos não convence os mercados de uma consolidação fiscal significativa, dada a proposta de isenções inesperadas de imposto de renda

Lara Rizério

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Após o JPMorgan e o Morgan Stanley, nesta sexta-feira (29) foi a vez do banco suíço Julius Baer cortar a sua exposição em ações brasileiras de overweight (exposição acima do mercado) para neutra devido à corrosão da credibilidade fiscal após os anúncios do governo desta semana.

Na visão do estrategista de ações do banco Nenad Dinic, o plano de corte de gastos não convence os mercados de uma consolidação fiscal significativa, dada a proposta de isenções inesperadas de imposto de renda.

A incerteza contínua na frente fiscal que corroeu a confiança do mercado nos últimos meses, o aperto monetário prolongado em 2025 e a falta de catalisadores otimistas nos levaram o banco a rebaixar as ações brasileiras.

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Fernando Haddad, ministro da Fazenda, apresentou as tão esperadas medidas de corte de gastos visando economias de R$ 71,9 bilhões até 2026. No entanto, o anúncio foi ofuscado por uma proposta simultânea de isenção do imposto de renda a trabalhadores que ganham até R$ 5 mil por mês, afetando quase 80% dos contribuintes, ressalta o banco.

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Estima-se que essa isenção custe R$ 35 bilhões anualmente e pretende ser neutra do ponto de vista fiscal, a ser compensada por impostos maiores sobre os que ganham mais.

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A reação do mercado foi decididamente negativa. O real brasileiro se desvalorizou significativamente em relação ao dólar americano e atingiu uma baixa histórica no fechamento do mercado, rondando os R$ 6. As taxas de juros futuros implícitas precificaram alta de 75 pontos-base (bps) adicionais, com expectativas de que a Selic suba dos atuais 11,25% para 14,50% até junho de 2025.

As principais incertezas permanecem e incluem o potencial do Congresso diluir as medidas propostas e o cronograma para aprovação, com apenas três semanas restantes no ano legislativo.

“As incertezas em torno do progresso fiscal, taxas de juros mais altas por mais tempo em 2025 e a falta de catalisadores otimistas dificultam a manutenção de uma perspectiva positiva sobre as ações brasileiras”, avalia o estrategista.

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Para Dinic, embora as estimativas de consenso apontem para um crescimento muito atraente do lucro por ação (LPA) de 16% para 2025 e 15% para 2026, o estrategista espera revisões para baixo devido a taxas de juros mais altas em 2025.

Além disso, quando os cortes nas taxas voltarem ao foco no terceiro trimestre de 2025, o Brasil se aproximará de sua próxima eleição presidencial em 2026, o que sugere menos progresso nas preocupações fiscais, avalia.

Um dólar mais fraco ou anúncios de estímulo chinês podem fornecer algum suporte para os ativos brasileiros, mas o banco não espera que esses fatores compensem totalmente a tendência de enfraquecimento doméstico. “Para investidores que buscam exposição ao Brasil, altas taxas de juros reais em renda fixa podem oferecer uma oportunidade mais atraente do que ações neste momento”, avalia.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.