Publicidade
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou na noite de terça-feira (10) que o pacote fiscal em preparação pelo governo federal pretende tributar mais os que têm maior capacidade contributiva. “Nós estamos provocando o morador da cobertura a pagar uma parte do condomínio”, declarou ao Jornal Nacional, em defesa das novas medidas que devem ser anunciadas ainda nesta quarta-feira (11) por meio de uma medida provisória (MP).
A MP deve prever a cobrança de Imposto de Renda (IR) fixo de 17,5% para aplicações financeiras, no lugar da faixa atual de 15% a 22,5%; e de 5% sobre investimentos atualmente isentos, como Letras de Crédito Imobiliário (LCI), do Agronegócio (LCA), Certificados de Recebíveis (CRI e CRA), Fundos Imobiliários (FIIs) e Fiagros. A mudança é defendida pelo governo como uma correção de distorções e tentativa de ampliar a base de arrecadação sem elevar a carga tributária da população em geral.

Inflação nos EUA, Haddad na Câmara, novo decreto do IOF e falas de Galípolo e Motta
Veja as principais notícias que devem mexer com os mercados hoje

Verde vê mérito em IR para aplicações, mas diz que governo “joga conta para frente”
Gestora elogia esforço para reduzir distorções na tributação de investimentos, mas aponta falta de articulação e controle de gastos como entraves à credibilidade da equipe econômica; lá fora, Verde admite que não esperava que Trump cederia tão rapidamente em relação à China
“Eu não considero isso aumento da carga tributária, porque a sua vida vai continuar. A vida dos funcionários da empresa onde você trabalha vai continuar a mesma, vai melhorar, sobretudo se ele tiver uma renda mais baixa”, falou o ministro.
Além disso, o pacote deverá incluir mudanças na Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) de instituições financeiras e aumento da taxação sobre apostas esportivas. Há a expectativa que os criptoativos também sejam contemplados com uma nova alíquota.
As medidas serão propostas como forma de compensação ao recuo parcial no decreto que aumentou o IOF sobre operações de crédito, câmbio e previdência privada — medida que gerou forte reação política e ameaça de revogação no Congresso. Um novo decreto revendo a medida também é esperado para esta quarta.
Segundo Haddad, o objetivo é fechar o rombo fiscal estimado em R$ 20 bilhões para 2025. A meta de resultado primário é de déficit zero, com margem de tolerância de até R$ 31 bilhões.
Continua depois da publicidade

Não estávamos errados quando elevamos nota de crédito do Brasil, diz vice da Moody’s
Maziad observa que o Brasil segue em uma tendência positiva no perfil de crédito, capaz de resistir a choques externos

Alíquota de 17,5% pode aquecer emissões e empurrar investidor para curto prazo
A expectativa é que os investidores passem a priorizar aplicações de curto prazo, já que o incentivo tributário para manter o dinheiro investido por mais tempo deixaria de existir
Setor produtivo é contra
Apesar da argumentação do governo, o pacote já é recebido com críticas. A coalizão de frentes parlamentares do setor produtivo divulgou nota apontando que “longe de representar um avanço em direção à responsabilidade fiscal, [a MP] é um atestado da persistência de uma lógica equivocada: a de que o problema fiscal se resolve com mais tributos, e não com a redução do tamanho e do custo da máquina pública”.
O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também vem pressionando por alternativas estruturais ao IOF. A resistência no Legislativo se dá, em parte, pela ausência de cortes significativos nas despesas obrigatórias do governo, que representam 90% do Orçamento federal. Essas despesas são puxadas principalmente por aposentadorias e pensões, vinculadas ao salário mínimo.
“Temos a questão dos supersalários, da aposentadoria de militares… Vamos fazer uma discussão sobre as despesas do governo, mas sentados à mesa”, disse Haddad.