Ministros reforçam pressão sobre Copom, às vésperas de reunião; parcela do mercado projeta queda de 0,50 da Selic

Nomes do governo defendem também um corte mais intenso dos juros pelo BC para viabilizar o crescimento econômico e uma maior abertura de vagas formais

Equipe InfoMoney

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Às véspera da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, ministros reforçaram a pressão sobre o comitê, que decidirá o nível da taxa básica de juros, a Selic, na reunião da próxima quarta-feira (2).

Declarações feitas nesta semana pela ministra do planejamento e orçamento, Simone Tebet, ressaltaram que havia uma espécie de “miopia” no Banco Central e que para viabilizar o crescimento econômico era preciso que a Selic caísse 0,50 ponto percentual no encontro da semana que vem.

“Espero que o Banco Central tire essa ‘venda dos olhos’. Hoje, a meu ver, é isso que acontece com o Banco Central, está havendo uma miopia, uma visão obtusa do Brasil, do Brasil real”, disse a ministra, em entrevista à GloboNews na quarta-feira (26).

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Na ocasião, Tebet também afirmou que houve uma melhora nos indicadores macroeconômicos e citou como exemplo a deflação da inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apresentada no começo do mês.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o IPCA de junho recuou – 0,08% – menor variação para o mês desde 2017, quando o índice foi de -0,23%. No ano, o indicador acumula alta de 2,87% e, nos últimos 12 meses, de 3,16%, abaixo dos 3,94% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.

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Nesta semana também foi conhecido o IPCA-15 de julho, considerado a prévia da inflação oficial, que reacendeu o debate sobre um corte de juros mais agressivo, de 0,50 ponto percentual, na reunião de agosto do Copom.

Segundo o IBGE, o IPCA-15 registrou uma deflação de 0,07% e trouxe uma composição mais benigna dos dados internos, com uma melhora dos núcleos de inflação, que excluem itens voláteis, e na parte de serviços subjacentes.

Um dia depois, na quinta-feira (27), o ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, disse que o Senado teria que “contratar um psiquiatra” para o presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, caso a Selic não caísse na próxima reunião.

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“Ninguém acredita na possibilidade de o Banco Central não iniciar um processo de redução de juros. Se isso ocorrer, é uma situação bastante grave e necessita, da autoridade responsável, tomada de providência, no caso o Senado da República, de pautar esse assunto para observar o que está acontecendo, se contrata um psiquiatra, o que a gente faz com o cidadão”, comentou Marinho.

Durante a apresentação dos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), o ministro do Trabalho e Emprego destacou ainda que a autoridade monetária fazia um trabalho político e afirmou que, se não fosse o “comportamento inadequado” do BC, o país teria criado 1,2 milhão de empregos formais no primeiro semestre.

Dados do Caged mostraram nesta semana que houve aumento de 1,023 milhão de postos de trabalho entre janeiro e junho deste ano. Em igual período do ano passado, houve criação líquida de 1,388 milhão de postos formais.

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Já neste sábado (29) foi a vez do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, intensificar as críticas sobre o nível alto da Selic. Para o chefe da equipe econômica, já havia razões para o início do ciclo de cortes em junho. Mas, segundo ele, o perfil da diretoria do Copom é conservador demais.

“Copom está muito monolítico, apesar de corpo técnico muito qualificado”, disse neste sábado, 29, em entrevista ao canal TV GGN, do jornalista Luis Nassif. Haddad afirmou ainda que o papel do governo, especialmente com a indicação de membros, é levar novos pontos de vista ao Comitê. Com a troca de diretores neste ano, ele prevê que o debate será “arejado”.

Haddad também disse enxergar que há espaço considerável para corte da Selic. Na visão dele, é possível começar o ciclo de baixa já na semana que vem com uma redução de 0,50 ponto porcentual.

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Haddad: Troca de diretores nesse primeiro ano já vai arejar muito debate do Copom, que deveria reduzir Selic em 0,50

Haddad considera que uma queda da taxa Selic de 13,75% para 13,25% ao ano na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) será apenas uma sinalização, com pouco efeito prático na atividade econômica de imediato.

“Ainda assim, para os investimentos, começa a ter efeito com o impacto na curva de juros. A sinalização é muito importante para que os agentes econômicos comecem a se reposicionar”, disse.

Visão do mercado

Na última quinta-feira (27), no mercado de opções digitais da B3 (ou opções de Copom), os agentes financeiros precificavam uma probabilidade de 62% de um corte de 0,5 ponto percentual na Selic na reunião de agosto, contra uma chance de 36% de queda de 0,25 ponto percentual.

A expectativa dos agentes sofreu uma drástica alteração após a divulgação de dados melhores do que o esperado para o IPCA-15, na terça-feira (25).

Apenas para se ter uma ideia, na segunda-feira (24), agentes precificavam uma probabilidade de 47% de um corte de 0,5 ponto percentual na Selic na reunião de agosto, contra uma chance de 46% de queda de 0,25 ponto percentual, segundo o mercado de opções digitais.

Em entrevista feita ao InfoMoney após a divulgação do IPCA-15, o sócio-fundador e diretor de investimentos da Persevera, Guilherme Abbud, disse que “sobravam poucos argumentos para o BC não começar o corte com 0,50 ponto”.

Na visão do diretor da Persevera, faria pouco “sentido econômico” realizar um corte de 0,25 ponto, com um nível tão elevado de Selic.

“Uma queda de 0,25 em cima de uma Selic de 13,75% é meio que nada. Demoraria mais 45 dias para vir o próximo corte. Acho que o BC começará com 0,50, apesar de não ser o costume”, disse.

Mas há quem mantenha uma visão mais conservadora, caso do Itaú e do Bradesco. Em relatório, a equipe do Itaú destacou que o Banco Central vai dar início ao ciclo de alívio monetário de forma cautelosa – dado que o núcleo e as expectativas de inflação continuam acima da meta, além do fato de que a atividade econômica e o mercado de trabalho têm mostrado resiliência.

“Na nossa visão, o balanço de riscos para a inflação vai continuar sendo descrito como simétrico e as autoridades devem manter expectativas de risco de desancoragem”, destacou o relatório escrito por Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú.

Segundo ele, o Copom deverá indicar que vai conduzir a política monetária de acordo com a meta, avaliando a estratégia de política mais adequada para que essa convergência ocorra.

Assim, também vai ser importante monitorar o relatório Focus desta segunda-feira (31), com as previsões dos economistas para inflação, juros e Produto Interno Bruto (PIB) para 2023 e os próximos anos.

O Bradesco também aposta em um corte de 0,25 ponto percentual na quarta-feira e espera outras reduções em maior magnitude nas reuniões de setembro, novembro e dezembro, levando a Selic a 12% até o final do ano.