Sobram poucos argumentos para BC não fazer corte de 0,50 na Selic após IPCA-15, avalia gestor

Guilherme Abbud defende que Selic está tão alta que há pouco "sentido econômico" em realizar um corte de 0,25 ponto em agosto

Bruna Furlani

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A divulgação de um Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) abaixo do esperado e com uma composição melhor ajudaram a reforçar a visão de que o Banco Central deve adotar um corte mais agressivo de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana.

“Sobram poucos argumentos para o BC não começar o corte com 0,50 ponto”, afirmou o sócio-fundador e diretor de investimentos da Persevera, Guilherme Abbud. A gestora é associada ao Grupo Faros-Messem.

Antes da divulgação do IPCA-15, agentes mostravam certa divisão sobre a intensidade do início do ciclo de corte de juros pelo Banco Central.

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Na segunda-feira (24), no mercado de opções digitais da B3 (ou opções de Copom), o mercado precificava uma probabilidade de 47% de um corte de 0,5 ponto percentual na Selic na reunião de agosto, contra uma chance de 46% de queda de 0,25 ponto percentual.

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Na visão do diretor da Persevera, uma redução de 0,50 ponto agora ganha força após o IPCA-15, já que a Selic está tão alta que há pouco “sentido econômico” em realizar um corte de 0,25 ponto na reunião.

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“Uma queda de 0,25 em cima de uma Selic de 13,75% é meio que nada. Demoraria mais 45 dias para vir o próximo corte. Acho que o BC começará com 0,50, apesar de não ser o costume”, diz.

Melhora nos dados do IPCA-15

O executivo afirmou que o resultado de -0,07% do IPCA-15 de julho, contra 0,01% esperados pela mediana do mercado, evidenciou mais um mês de surpresa baixista e com uma média dos núcleos menor. Foi a primeira variação negativa do indicador desde setembro de 2022, quando o índice caiu 0,37%.

Ao olhar para a média móvel de três meses do núcleo sazonalizada e anualizada, Abbud destaca a tendência de queda no indicado, que estava em 4,90% e agora chegou a 3,60% pelas contas da casa.

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Também houve uma melhora nos dados de inflação de serviços, que agora estão em 0,36% nos cálculos da Persevera – abaixo do esperado por economistas que estavam com projeções entre 0,38% e 0,50%, lembra Abbud.

Após nove meses no campo positivo, a prévia da inflação oficial registrou uma queda de 0,11 ponto percentual em relação à taxa do mês anterior (0,04%). No ano, há alta acumulada de 3,09% e, em 12 meses, de 3,19%. As informações foram divulgadas nesta terça-feira (25) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O principal fator para esse resultado, segundo o IBGE, veio da retração nos preços da energia elétrica residencial (-3,45%), após a incorporação do Bônus de Itaipu, creditado nas faturas de julho.

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Além da energia elétrica residencial (-3,45%), o Instituto informou que a queda nos preços do botijão de gás (-2,10%) influenciou a retração do grupo Habitação (-0,94%), um dos que mais impactaram o índice geral. Já a taxa de água de esgoto (0,20%) está entre os itens que subiram.

Juros

Nos cálculos da Persevera, a inflação cheia deve encerrar este ano em 4,5% e a casa espera que a Selic recue para 11%, abaixo do esperado pelo mercado no Boletim Focus, que projeta a taxa básica de juros em 12% ao fim de 2023.

Já para o próximo ano, a casa não descarta que a Selic caia para algo perto de 7% a 8% e que o IPCA fique em 3%, ou até abaixo.

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“No começo do ano que vem, acreditamos que a atividade vai fraquejar mais do que o esperado e a inflação também vai cair além do previsto. O BC vai ver que exagerou na dose e terá que cortar mais”, alerta o profissional.

De olho em um ciclo de cortes mais agressivo, o gestor disse que a casa vem aumentando a alocação aplicada (que se beneficia da queda dos juros) em Brasil. “É verdade que o mercado já fechou taxa, mas quando olhamos para frente, vemos uma expectativa para uma queda mais forte da Selic, chegando talvez até 7%”, diz.

Apesar da entrada de dois novos diretores no Banco Central, Gabriel Galípolo e Ailton Aquino, com perfil que tende a ser mais favorável a cortes de juros, o sócio da Persevera avalia que não haverá tanta divergência no Comitê do Política Monetária (Copom) do Banco Central.

“A situação seria mais explícita se estivéssemos falando de uma batalha de cortar ou não cortar. O tão desejado ciclo de corte está começando. Não precisa ter uma batalha sangrenta”, defende o profissional.