Com macro incerto, Magalu (MGLU3), Via (VIIA3) e Americanas (AMER3) seguem com desafio de vender com rentabilidade

Varejistas precisarão equilibrar receitas com aumento de margens em um cenário de alta de juros e inflação, além de consumo retraído

Felipe Alves

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Enquanto amargam desvalorização de até 40% em seu valor de mercado em 2022, Magazine Luiza (MGLU3), Americanas (AMER3) e Via (VIIA3) registraram ao longo do primeiro trimestre, em sua maioria, uma melhora na rentabilidade, mesmo após os repasses inflacionários aos clientes, e avançaram vendas tanto no segmento físico quanto online (e-commerce).

Para garantir crescimento das vendas, porém, as varejistas fizeram o uso de uma “queima de caixa” – sazonalmente esperada –, mas que chamou mais a atenção dos analistas neste ano, como um ponto negativo do primeiro trimestre, e que deverá seguir no radar ao longo dos próximos trimestres.

“O desafio macro é vender mantendo margens. Temos que lembrar que esse foi um setor (varejista) que vendeu muito na pandemia por conta do isolamento social e tem uma base de comparação muito alta”, afirmou Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, em referência às vendas por meio da internet.

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Ele traçou o panorama na comparação com os shopping centers, que tiveram queda nas receitas por conta dos descontos, que as administradoras tiveram que conceder nos aluguéis, além do próprio fechamento em si das lojas ou redução do fluxo em momentos de maior contágio pela Covid-19.

“Se as varejistas mantiveram o ritmo de vendas neste ano igual ao do ano passado, mantendo margens, terá sido um ano de baita sucesso. Vale destacar que Magazine Luiza, Via e Americanas, junto com GPA, estiveram entre as maiores quedas do mercado de ações no Brasil em 2021. Ou seja, seguem descontadas na bolsa.

Cenário desafiador

Para os próximos trimestre, a expectativa de alta de juros e de manutenção do quadro de pressão inflacionária deve seguir trazendo desafios ao setor. Para Danniela Eiger, head de varejo e co-head de Equity Research da XP, a dinâmica de curto prazo deve ser impactada pela demanda.

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“Não vai ter crescimento se o consumidor não tiver dinheiro. Por isso ainda enxergamos uma dinâmica de crescimento pressionado no segundo e no terceiro trimestres”, afirmou, ponderando que já há uma visão mais construtiva para o segundo semestre.

“No quarto trimestre, após a eleição, não haverá essa incerteza no cenário, e entramos em um momento mais favorável, mais forte, pois teremos também a Copa do Mundo”, acrescentou, sobre o evento futebolístico que, historicamente, eleva as vendas de itens duráveis, como televisores.

Em relatório, o Credit Suisse seguiu na mesma linha, avaliando que o curto prazo deve permanecer desafiador para as empresas de comércio eletrônico no Brasil. O banco suíço justificou os desafios macroeconômicos (inflação alta, taxas de juros crescentes e taxas de desemprego altas) e as duras comparações nas principais categorias.

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“Apesar de mostrar os primeiros sinais de inflexão, em termos de crescimento, os resultados não alteram significativamente nossa visão”, escreveu, acrescentando que os investidores seguem “céticos” com o setor de consumo, por conta do ciclo de alta das taxas de juros no Brasil e nos EUA, “que afeta o mercado acionário”.

Conde destacou que as empresas conseguiram “trabalhar bem” o repasse da inflação aos produtos, mantendo níveis “satisfatórios” de vendas. Entretanto, há preocupação com a manutenção do ritmo, já que a alta dos juros pode levar à redução do espaço no orçamento das famílias às compras de bens duráveis, geralmente financiados.

Melhoras de margens

Apesar de todos os desafios, os analistas ressaltaram as melhoras nas margens, como reflexo das novas políticas comerciais das empresas, que elevaram as taxas de comissões e reduziram a amplitude do frete grátis – formas de compensar a alta inflacionária.

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Danniela Eiger, da XP, destaca que a Americanas teve impactos das sinergias com a B2W. “O 3P (marketplace) ganhou mais relevância dentro do online, ajudando na margem bruta, com o repasse de preços na frente dos bens duráveis, no varejo físico e no 1P (estoques próprios)”, pontuou.

Segundo ela, a Americanas apresentou os melhores resultados do trimestre por conta de seu perfil: tíquete médio mais baixo, menor exposição a bens duráveis e uma base de comparação menos desafiadora. “Por isso, acaba sendo mais favorecida. A combinação com a B2W trouxe ganhos de eficiência operacional na dinâmica de rentabilidade”, reforçou Danniela Eiger.

De outro lado, Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, destacou que a Magalu teve a melhor performance em vendas e o maior aumento de margem bruta (+2,7 p.p.), impulsionados pelos bons desempenhos em vendas mesmo com o repasse da alta de preços.

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Já em margem Ebitda quem saiu na frente foi a Via, que elevou em 2,5 p.p. em relação ao 1T21. Segundo Conde, o resultado da Via decorre do movimento feito no segundo semestre do ano passado de investir em um forte programa de reestruturação, com redução das despesas de SG&A (vendas, gerais e administrativas).

“A Via foi muito bem-sucedida nessa redução de custo da estrutura operacional e conseguiu já no 4º trimestre uma redução, que continuou neste trimestre. E a Magalu começou a fazer isso só agora, com redução de custos”, afirmou ele, ao citar que a Magalu teve, neste período, ainda a aquisição da KaBuM!, enquanto a Via reduziu sua estrutura.

De toda forma, Conde destacou que as empresas tiveram bons resultados, sobretudo frente a todos os medos e incertezas do mercado, e projetou que o segundo trimestre traga números ainda melhores, alavancados pelos resultados de Dia das Mães e Dia dos Namorados.

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O analista acrescentou que, dentro do cenário conjuntural, o que pode ajudar as empresas é uma recuperação da geração de empregos no país (levando a um maior consumo), os auxílios do governo federal, a possibilidade de saque de R$ 1.000 do FGTS e o dólar mais baixo do que no ano passado.

Destaques de Magalu, Via e Americanas

Resultados do 1º trimestre na comparação anual

Resultados 1T22 Americanas Magazine Luiza Via
Lucro/prejuízo líquido – R$ 137 mi (+38,8%) – R$ 161,3 mi (ante +R$ 258,6 mi) R$ 18 mi (-90%)
Receita líquida R$ 6,765 bi (+28,4%) R$ 8,762 bi (+ 6,2%) R$ 7,399 bi (-2%)
Margem bruta 30,5% (+0,4 p.p.) 27,8% (+2,7 p.p.) 31,2% (-0,2 p.p.)
Margem Ebitda ajustada 9,8% (+1,9 p.p.) 5,0% (-0,2 p.p.) 10,2% (+2,5 p.p.)
GMV total R$ 14,202 bi (+21,7%) R$ 14,124 bi (+13,2%) R$ 10,673 bi (+3,3%)

A Americanas (AMER3) teve como destaque a maior rentabilidade e os números de vendas com a recuperação de lojas físicas. Apesar disso, com o radar ligado para a alta da taxa de juros e da inflação tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos, os analistas são cautelosos com o setor varejista, que ainda deve sofrer ao longo do ano com o contexto econômico desafiador.

Ao analisar os resultados comparativos das três empresas, a Americanas registrou as maiores altas percentuais de receita líquida e GMV (vendas totais).

Juntas, as receitas das três varejistas somaram R$ 22,85 bilhões no trimestre. Ou seja, houve alta de 8,5% em relação aos R$ 21,05 bilhões do 1T21, valor puxado especialmente por Lojas Americanas, que somou 28% a mais de receita no 1T22.

A maior margem Ebitda ajustada foi a da Via (+2,5 p.p), enquanto o maior avanço de margem bruta foi registrado pela Magazine Luiza, com alta de 2,7 p.p (27,8%).

Lojas físicas e e-commerce

O primeiro trimestre ainda foi impactado pelos efeitos da variante Ômicron em todo o país. Apesar disso, no consolidado dos três meses de 2022, Magazine Luiza, Americanas e Via viram crescer as vendas e o fluxo de clientes tanto nas lojas físicas quanto no online.

Para Flávio, da Levante Investimentos, o grande destaque do período foi o e-commerce – no caso da Magalu, especialmente por conta do marketplace. O e-commerce da Magazine Luiza cresceu 16% no primeiro trimestre e atingiu mais de R$ 10 bilhões em vendas, enquanto o marketplace superou R$ 3,6 bilhões, alta de 50% comparado ao mesmo período do ano anterior, chegando a 36% das vendas online.

Nas lojas físicas, as vendas da Magazine Luiza foram de R$ 4 bilhões no trimestre, 6% maior que em 2021 e 10% maior que 2020. “A tendência de vendas vista em janeiro e fevereiro foi significativamente melhor que no final de 2021 e, em março, o crescimento acelerou ajudado parcialmente pela menor base de comparação”, afirmou a MGLU3, em relatório que acompanha o balanço.

Enquanto isso, a Via registrou uma reversão de tendência nas lojas físicas na comparação aos trimestres anteriores, apesentando crescimento de 2,9% no GMV (vendas totais) e melhora substancial sequencial nas vendas mesmas lojas de +0,3% após (-13,8%) no 3T21 e (-25,2%) no 4T21.

Por sua vez, o marketplace da Via teve alta de 12% no GMV, com aumento de receita e do número de pedidos, forte crescimento dos itens de cauda, e aumento de frequência e recorrência.

Recuperação de clientes

O CEO da Via, Roberto Fulcherberguer, destacou que a empresa vê “sinais de boa recuperação de clientes nas lojas”. Exemplo disso foi o Dia das Mães deste ano, que registrou o melhor fluxo de clientes nas lojas da Via desde 2018, excluindo dias de BlackFriday.

Do início de 2022 até meados de fevereiro a empresa registrou um período “bastante complexo” com os reflexos da variante Ômicron. Mas desde meados de fevereiro, o fluxo veio gradualmente aumentando novamente.

“Vemos bons sinais de trânsito de clientes, o que faz com que nossas vendas nas lojas físicas tenham boa recuperação. Vemos bom início de recuperação de SSS (vendas de mesmas lojas”, destaca o CEO.

O GMV (vendas totais) da Lojas Americanas cresceu 22% em relação ao mesmo período do ano passado, com reflexo da boa performance em todas as plataformas de negócios. O segmento físico cresceu 27%, reflexo da reabertura total da base de lojas e retomada do fluxo de clientes.

Já o segmento digital da Americanas aumentou 20%, mesmo diante de uma base desafiadora (+89% no 1T21) e dos impactos do incidente de segurança ocorrido em fevereiro. Caso não tivesse ocorrido o ataque hacker, a empresa estima que o GMV teria crescido 30%.

Fator inflação

O impacto da inflação sobre o balanço do primeiro trimestre e também para os próximos tem visões distintas entre as empresas.

O CEO de Plataforma Digital da Americanas, Marcio Cruz, disse que a empresa não teme a inflação que paira sobre o país e os impactos do recente ciclo da alta dos juros. Segundo ele, o país vive um “período de ajustes”, por conta do cenário macroeconômico, mas que isso “não assusta” a companhia. Segundo ele, a Americanas tem um modelo que tem se provado resiliente em momentos como este.

“Somos bem menos dependentes dos tíquetes mais altos, que sofrem mais nesses períodos de juros e inflação altos”, acrescentou, durante teleconferência com analistas.

Já a Via citou que a pressão da inflação está grande nas despesas da empresa. Por isso, a companhia está focada em reduzir despesas e deixar a Via mais produtiva, sem prejudicar os serviços para o consumidor, segundo informou o CEO, Roberto Fulcherberguer.

Segundo ele, a redução dos custos de aquisição de clientes é o grande ganho da Via, ao passo que o foco é depender cada vez menos de injetar muito dinheiro para fazer a aquisição de clientes. Por isso, a Via foca em ampliar fontes de aquisição de clientes, como escalar marketplace e o crediário.

A Magazine Luiza (MGLU3) reduziu R$ 1 bilhão em estoques no 1T22 e terminou março com posição de fornecedores bem menor do que em dezembro, afirmou o CFO Roberto Bellissimo Rodrigues.

A redução no volume de compras no trimestre tem base na sazonalidade do varejo e na estratégia da Magalu de redução dos estoques. Por isso, nos próximos trimestres os pagamentos serão muito menores e haverá um “reflexo muito positivo no caixa”, disse o CFO. Assim, a Magazine Luiza vê um médio prazo de compras bastante saudável, apesar da inflação.

De acordo com ele, as vendas da Magalu em abril e maio continuaram em um ritmo positivo. “Estamos em um cenário mais positivo após um quarto trimestre muito difícil por conta do cenário econômico. Estamos acima da expectativa do que o mercado esperava. Continuamos ganhando share (fatia de mercado) em lojas físicas, o que é importante”, pontuou Trajano.

Ações na bolsa

Na Bolsa de Valores as varejistas têm sofrido quedas acentuadas. Magazine Luiza, que por alguns anos registrou altas expressivas, viu o preço de suas ações se deteriorar durante a pandemia. Desde julho de 2021 o preço das ações foi ladeira abaixo, caindo de R$ 23,90 para os atuais R$ 3,94 de terça-feira (17). Somente neste ano a queda acumulada é de 41,37%.

Queda parecida registra a Via, com baixa de 39,96% no ano (R$ 2,99 até terça-feira). Americanas amarga 25,38% de queda (cotada a R$ 23,02).

Para Flávio Conde, da Levante Investimentos, há uma reação exageradamente pessimista do mercado, pois, na visão dele, os aspectos negativos já teriam que estar precificados. “Os resultados não condizem com o tanto que essas empresas caíram no ano e nos últimos 6 meses”, avaliou ele, ao citar que as ações deveriam estar subindo e não caindo.

Danniela Eiger, head de varejo e co-head de Equity Research da XP, disse acreditar que as quedas acentuadas estão mais relacionadas ao valuation das empresas, que é impactado pela alta de juros e afeta a dinâmica de custo de capital.

Ela citou que as empresas de varejo e de tecnologia não só do Brasil mas de todo o mundo (como as big techs) têm sofrido com esse impacto e que esse “cenário de fundamentos mais complexos faz com que o fluxo de caixa esperado gerado seja revisado para baixo”.

Recomendações dos analistas

Lojas Americanas (AMER3): neutra (XP, Morgan Stanley e Bradesco BBI) e outperform (Credit Suisse e Itaú BBA)

Magazine Luiza (MGLU3): neutra (XP, Morgan Stanley e Bradesco BBI) e outperform (Goldman Sachs e Itaú BBA)

Via (VIIA3): neutra (XP, Itaú BBA, Bradesco BBI) e venda (Morgan Stanley)

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