Mesmo com retração do crédito, “bancões” acumulam alta de até 35% na Bolsa em 2023

Banco do Brasil e Itaú continuam na disputa pela preferência dos analistas, apesar de o Bradesco ter registrado um melhor desempenho no último mês

Mitchel Diniz

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Quase metade do ano se passou e, até agora, os maiores bancos listados na Bolsa brasileira acumulam saldo positivo no período. Disparado na frente, está o Banco do Brasil (BBAS3), com alta de 34,52% desde que 2023 começou. Itaú (ITUB4) vem em seguida, com ganhos de 9,02% até o fechamento de ontem (1). Mesmo com avaliações negativas e cautelosas de analistas, o Santander Brasil (SANB11) acumula alta de 4,97%. O Bradesco (BBDC4), depois de uma arrancada de 16% no último mês, passou a subir 1,81% em 2023.

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Com base nos últimos dados de crédito do Banco Central, o Bank of America (BofA) destacou a resiliência de bancos públicos, como o BB, em um cenário geral de desaceleração de empréstimos, sentido principalmente nas instituições privadas.

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“Essa disparidade é explicada pelo bom crescimento nos portfólios de crédito rural e imobiliário e os bancos públicos tem uma grande fatia de mercado em ambas as modalidades”, escreveram os analistas Mario Pierry e Flavio Yoshida.

Não à toa, BBAS3 é o único dos grandes bancos com recomendação de compra pelo BofA, junto com bancos menores, como BTG Pactual (BPAC11) e ABC Brasil (ABCB4), e Inter (INBR32). Itaú e Unibanco tem recomendação neutra e Santander Brasil, underperform, abaixo do desempenho do mercado.

Em abril, o saldo total de crédito das instituições financeiras do Brasil cresceu 11,1%, desacelerando pelo sexto mês consecutivo – e com mais intensidade ainda. O volume de concessões de empréstimos no período foi de R$ 460 bilhões, 5,6% menor que o registrado um ano antes. Na comparação com março, houve recuo de 17% – a primeira queda mensal nas concessões desde janeiro de 2021.

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Na visão do BofA, os dados de abril mostram que as condições de crédito continuam apertadas, o que reforça a seletividade da casa em relação aos bancos brasileiros. A originação de empréstimos segue limitada, pressionando negativamente o crescimento das carteiras, de perfil mais conservador, enquanto a inadimplência continua se deteriorando.

“Essa tendência reflete o ciclo de aperto monetário iniciado em 2021, que também está impactando os empréstimos inadimplentes com uma expansão gradual, conforme o previsto”, diz relatório da XP, assinado por Bernardo Guttman e Rafael Nobre. A equipe de análise ressalta que o ritmo de desaceleração está vindo em linha com as projeções fornecidas pelos principais bancos.

Na visão do Bradesco BBI, o crescimento de dois dígitos do saldo total de crédito ainda é significativamente forte, e acima da média de 8,7% dos últimos 10 anos. “Esperamos que que o crédito continue desacelerando nos próximos meses, mas não a ponto de ser uma ameaça à estabilidade financeira”, escreveram os analistas Andre Carvalho, Guilherme Zimmermann e Fernando Cardoso.

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A XP espera aumento adicional nas taxas de inadimplência no futuro, com expectativa de estabilização no segundo semestre deste ano. Em abril, o índice ficou em 3,5%, com alta de 12 pontos-base em relação a março e de 79 pontos na comparação com um ano antes.

O custo de crédito deve permanecer em níveis elevados. Em abril, os spreads subirm 80 pontos-base na comparação mensal para 21,9%, bem acima da  média histórica de 17,6%. Para empréstimos individuais, a alta foi de 100 pontos, para 28%, enquanto o spread corporativo se  manteve estável, em 9,7%.

“Apesar dos desafios macroeconômicos enfrentados ao longo do ano, entendemos que os números reportados não alteram as tendências em andamento”, afirmam Guttman e Nobre. Assim, a XP manteve perspectiva positiva para os “bancões”, com preferência por Itaú.

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Para a XP, o banco apresenta performance operacional mais eficiente do que os seus pares e tem maior exposição a linhas de crédito que estão crescendo mais rápido. Ao mesmo tempo, o banco tem gerenciado de forma efetiva os empréstimos inadimplentes. A XP também avalia que a ação está descontada, com relação preço sobre lucro (P/L) de 6,8 vezes para 2023, abaixo da sua média histórica.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados