Mercado dá como certa alta de juros nos EUA e Brasil; mas com qual intensidade as taxas devem subir?

Apesar da da inflação galopante, Bancos Centrais devem manter cautela para não avançar em território contracionista, diante de cenário global turbulento

Mitchel Diniz

(Getty Images)

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Em meio a um cenário de guerra na Ucrânia e de avanço no número de casos de Covid-19 na China, os Bancos Centrais do Brasil e Estados Unidos deixam os mercados ainda mais movimentados. As reuniões do Comitê de Política Monetária do BC (Copom) e o Comitê de Mercado Aberto do Federal Reserve (Fomc, na sigla em inglês) acontecem simultaneamente e as decisões sobre as taxas de juros vão sair amanhã (15), na primeira super quarta-feira do ano: serão quatro, ao todo, em 2022.

Para os analistas da Levante Ideia de Investimentos, as decisões dos dois BCs devem ser parecidas, com ambos elevando juros para tentar controlar uma inflação persistente. “Mais do que as mudanças nos juros, o que realmente interessa aos investidores é saber como os banqueiros centrais estão observando as dezenas de variáveis capazes de influenciar o ritmo da atividade econômica e, em decorrência disso, a inflação e a taxa de juros”, diz o relatório da Levante.

Os analistas da casa apontam que os índices de inflação estão muito acima  das metas dos BC’s, tanto no Brasil, quanto nos Estados Unidos. Mas assim como há bons motivos para apertar a política monetária, também há razões para esperar mais um pouco e analisar o cenário.

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“A alta dos preços do petróleo, que vem sendo um dos principais motivos da aceleração da inflação, perdeu fôlego nos últimos dias”, destaca a Levante, que também chama atenção para o crescimento de infectados pela subvariante BA.2 do coronavírus, com números crescentes na Europa e medidas duras de restrição na China.

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“Daí a expectativa com que os investidores aguardam os comunicados dos banqueiros centrais. Apenas por meio desses textos será possível saber até onde o vírus da incerteza contaminou as decisões de curto prazo da política monetária”, diz o relatório da Levante.

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Fomc: primeira alta de juros em três anos

Para o Fomc, o consenso geral é de que a alta dos preços não é apenas transitória e o mercado já prevê uma inflação alta no longo prazo. O índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos chegou a 7,9% em fevereiro, maior nível em 40 anos e a expectativa é que o indicador chegue a 9% agora em março.

O presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, sinalizou no começo deste mês que deve prosseguir com alta de juros prevista para março. O consenso do mercado é que a taxa, hoje entre zero e 0,25%, seria elevada em 0,25 ponto percentual. Mas, após esse primeiro ajuste, o Banco Central Americano estaria pronto para subir a taxa mais vezes, caso a inflação não responda de maneira adequada.

Além da decisão de política monetária, o Safra destaca que também é importante acompanhar as novas projeções divulgadas pela instituição para inflação e juros, assim como as sinalizações a respeito da redução do seu balanço de ativos. Após o anúncio da decisão do colegiado, os investidores acompanham o discurso de Powell.

“Ainda que essa seja a primeira reunião após a eclosão da guerra, as falas do presidente do Fed também já esboçaram um plano de ação para combater as novas pressões inflacionárias vindas do conflito, abrindo a possibilidade para altas de 50 pontos-base a frente, caso a inflação não de sinais de arrefecimento”, afirma Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.

Copom deve manter cautela, apesar de piora da inflação

O Itaú acredita que as previsões de inflação do Copom para o cenário de referência devem passar de 5,4% para 6,2% em 2021 e de 3,2% para 3,3% em 2023. Em linha com o consenso do mercado, o banco acredita que autoridade monetária vai elevar a Selic em 1 ponto percentual, para 11,75%.

“O cenário atual, com a guerra na Ucrânia e impactos inflacionários vindos do aumento do preço internacional das commodities, condiz com a decisão, mas levará as autoridades a elevar a taxa Selic para níveis ainda mais contracionistas nas próximas reuniões”, diz a análise do Itaú.

Antes da guerra na Ucrânia, o Itaú projetava alta de 1 ponto em março, de 0,5 ponto em maio e 0,25 ponto em junho. Agora, com a perspectiva de um ciclo de aperto mais intenso, a previsão do banco é de alta de 0,75 ponto percentual em maio e 0,50 na reunião de junho, com a Selic chegando aos 13% ao ano, permanecendo nesse nível até o final do ano.

“Dado o estágio do ciclo de aperto monetário, porém, o ritmo de alta de juros pelo Copom deve ser mais lento do que o visto até o último mês de fevereiro”, escreveram os analistas do banco.  Eles esperam que, no comunicado sobre a decisão, o Copom dê destaque às incertezas do cenário global e às pressões adicionais dos preços das commodities na inflação deste ano.

“Também esperamos que o Copom indique que, com a taxa Selic em nível significativamente contracionista, o ritmo de alta de juros para os próximos encontros seja reduzido novamente. Contudo, o Comitê deve manter flexibilidade em sobre essa moderação, com um balanço de risco ainda assimétrico”, diz o Itaú.

O JP Morgan vai pela mesma linha. “Sob circunstâncias normais, o aumento da inflação prontamente faria com que o BC assumisse uma postura mais agressiva. Porém, o BC não só já apertou [a política monetária], com uma elevação de 825 pontos-base em 12 meses, colocando a taxa em território restritivo, como o a extensão do impacto e o tempo desse choque global na inflação são altamente incertos”, escreveram os analistas do banco.

Portas abertas para as próximas reuniões

Caio Megale, economista-chefe da XP, diz que a análise dos dados desde a reunião de fevereiro do Copom, aponta para uma pior perspectiva de inflação, com alta de preço das commodities, inflação corrente elevada e atividade econômica levemente melhor que o esperado.

“Nossas simulações replicando o modelo do Copom sugerem elevação da projeção para o IPCA de 2022 de 5,2% para 6,4%, e de 2023 de 3,2% para 3.4%”, analisa Megale. A XP também espera por um aumento de 1 ponto percentual da Selic e afirma que o Copom deveria deixar portas abertas para a próxima reunião, em vez de sinalizar outra alta de mesma magnitude, considerando a incerteza gerada pela guerra na Ucrânia e o aperto monetário já implementado.

“A média dos núcleos do IPCA de fevereiro ficou em 1%, ou impressionantes 12% em termos anualizados, mesmo patamar de janeiro. Não há sinal de que o aperto monetário implementado pelo BC desde março do ano passado esteja desacelerando a inflação”, diz o relatário.

O mais importante nesta divulgação, entretanto, deve ser o comunicado. Ainda que a Autoridade Monetária não deva se comprometer com magnitudes, a comunicação deve dar o tom de reação às novas pressões altistas. Nesse cenário de incertezas, continuamos mantendo nossas projeções de uma taxa de juros de final de ciclo e 12,25%, avalia Mercadante, da Rio Bravo.

João Beck, economista e sócio da BRA, diz que dificilmente haverá redução de juros este ano, como o mercado vinha prevendo. “Sob as novas circunstâncias de aumento de alimentos e energia, acreditamos numa extensão de pelo menos um semestre para as taxas começarem a cair. As expectativas se adiaram para o meio do ano de 2023”, afirma Beck.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados