Marisa (AMAR3): resultado do 4º tri, com salto do prejuízo, mostra que situação desafiadora continua; papéis caem 6%

Analistas do BBI veem bom progresso na lucratividade, mas apontam que os serviços financeiros permaneceram um grande obstáculo

Equipe InfoMoney

Loja da Marisa (Foto: Divulgação)

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A Marisa  (AMAR3) divulgou na última sexta-feira (31) os resultados do quarto trimestre de 2022 (4T22) não auditados e fortemente ajustados, que ainda refletem a situação geral desafiadora da empresa, conforme destacou o Bradesco BBI em relatório.

Nesta segunda-feira (3) pós-resultados, os ativos AMAR3 fecharam com baixa de 6,25%, a R$ 0,60, em um dia também de desvalorização geral para o setor de varejo, em meio ao aumento da preocupação com a inflação global. Cabe destacar ainda o baixo valor de face dos ativos, que faz com que variações de centavos acarretem em grandes variações percentuais.

A varejista apresentou um prejuízo líquido de R$ 188,6 milhões no quarto trimestre de 2022, um salto ante o prejuízo de R$ 24,5 milhões registrado no mesmo período de 2023 (alta de 669,8%). Enquanto o lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) do varejo foi de R$ 19,6 milhões, com queda de 12,3% ante um ano antes, o Ebitda do Mbank ficou negativo em R$ 115,2 milhões e reverteu resultado positivo de R$ 22,4 milhões no quarto trimestre de 2021.

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A companhia aproveitou para anunciar uma injeção de R$ 90 milhões dos acionistas controladores para viabilizar o reenquadramento da MPagamentos (braço financeiro da empresa) nos índices regulatórios e prudenciais. Será um ajuste dos montantes separados para lidar com inadimplência. Caso necessário, a companhia promoverá ainda até agosto deste ano um aporte adicional de R$ 26 milhões na MPagamentos.

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Os resultados ficaram acima do estimado pelo Bradesco BBI para as operações de varejo, embora os serviços financeiros tenham ficado abaixo de suas expectativas. Os balanços auditados são esperados antes da próxima assembleia de acionistas, em 30 de abril.

A contração da receita líquida de 1,6% na comparação anual, para R$ 830,4 milhões, ficou amplamente em linha com suas expectativas em relação ao Varejo (3% acima do estimado) compensando o resultado de serviços financeiros (9% abaixo do estimado). No segmento de varejo, a receita líquida caiu 0,6% no quarto trimestre, para R$ 698,2 milhões, enquanto avançou 11% no acumulado de 2022, para R$ 2,23 bilhões.

A margem bruta de varejo cresceu 4,60 pontos percentuais (p.p.), ou 1,10 p.p. acima do esperado pela casa, o que se traduziu em um Ebitda de varejo ajustado 98% maior, de R$ 63 milhões.

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Por outro lado, os serviços financeiros registraram uma maior deterioração, com um Ebitda negativo de R$ 47 milhões, resultando numa contração de 71% em base anual no Ebitda consolidado (60% abaixo do esperado).

O prejuízo reportado de R$ 189 milhões foi pior do que as expectativas da casa (o BBI estimava perdas de R$ 33 milhões), devido ao Ebitda consolidado menor do que o esperado e vários ajustes, como: (i) R$ 58 milhões na transferência de ativos de crédito para o Itaú, devido ao fim de sua parceria de serviços financeiros; (ii) uma reclassificação de R$ 29 milhões de despesas operacionais para investimentos; e (iii) outros.

A posição de dívida líquida ajustada ficou praticamente estável no trimestre, em R$ 560 milhões (de R$ 566 milhões no 3T22).

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“Vemos os resultados da Marisa no 4T22 mostrando que a situação geral continua difícil: enquanto as operações de varejo mostraram um bom progresso na lucratividade, os serviços financeiros permaneceram um grande obstáculo. Além disso, acreditamos que os investidores se concentrarão no perfil da dívida da Marisa uma vez que, as dívidas que vão vencer em 12 meses subiram para 54% da dívida bruta (de 40% no 3T22) e com a maior parte do restante dos vencimentos ocorrendo nos 12 meses subsequentes”, apontam os analistas do BBI.

A venda de créditos fiscais de R$ 100 milhões (cerca de 11% da dívida bruta total) oferece alguma segurança, embora a geração de caixa morna durante o pico de vendas sazonais levante preocupações sobre o perfil de geração de caixa futura da Marisa, que está sendo revisto em seu processo de reestruturação corporativa.

Além disso, o compromisso dos acionistas de capitalizar os serviços financeiros da Marisa (em R$ 90 milhões) seria um fator para trazer mais segurança para a abertura do pregão desta segunda, embora os analistas não descartassem uma reação negativa, dada a incerteza ainda elevada sobre a geração de caixa para os próximos trimestres.

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O Bradesco BBI tem recomendação neutra para as ações AMAR3, com preço-alvo de R$ 2, ainda um potencial de valorização de 212% em relação ao fechamento de R$ 0,64 da última sexta-feira.

A Levante destacou que a Marisa reportou novamente números ruins no trimestre, embora, de certo modo já esperados pelo mercado, especialmente depois da varejista ter anunciado reestruturação do seu braço financeiro (Mbank).

“Ressaltamos que os problemas da Marisa já ocorrem a um bom tempo, visto que nos últimos anos a varejista passou por vários processos de reestruturação que levaram a diversas mudanças no quadro da diretoria executiva, similares ao que a empresa está passando atualmente. A empresa anunciou recentemente a renúncia de Adalberto Pereira da presidência da companhia e a saída de Marcelo Casarin do conselho de administração, anunciando João Pinheiro Batista como novo CEO e
diretor de relações com investidores”, apontam os analistas.

Segundo avalia a Levante, as mudanças recorrentes na diretoria da empresa enfatizam os sérios problemas da Marisa. A companhia viu suas ações derreterem mais de 30% após o anúncio da reestruturação e das demissões de executivos, pouco tempo depois da Americanas anunciar o rombo bilionário – de modo que o ativo é negociado hoje na casa dos centavos.

“Conforme já vínhamos reforçando nos trimestres anteriores, continuamos enxergando um cenário bastante crítico para a companhia no curto e médio prazo. Tal panorama deve ficar ainda mais agravado pela inflação ainda rodando em patamares altos, renda da população bastante comprometida com itens discricionários, altos níveis de inadimplência e encarecimento do crédito, além do forte aumento da competição no segmento”, apontam.