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Resultados em linha com o esperado pelo mercado, mas com questões além dos números do terceiro trimestre de 2023 (3T23) sendo destaque.
Assim são lidos os números do Magazine Luiza (MGLU3), que reportou seu balanço na véspera preenchido por ocorrências pontuais relacionadas a ajustes contábeis decorrentes da conclusão da investigação interna realizada pela empresa, com base em denúncia anônima de irregularidades em práticas comerciais com fornecedores feita em março de 2023.
Após a divulgação do episódio, as ações tiveram um dia de volatilidade na Bolsa brasileira. Na mínima do dia, os papéis chegaram a cair 10,4%, a R$ 1,55. Contudo, as ações viraram para leves ganhos na reta final do pregão e fecharam em leve alta de 1,73%, a R$ 1,76, em um dia bastante positivo para o Ibovespa com alívio da curva de juros por aqui após inflação abaixo do esperado nos EUA, evento que acaba por impactar positivamente o setor de varejo.
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Vale destacar o baixo valor de face dos ativos, fazendo com que variações de centavos na ação levem a significativas variações percentuais.
Além disso, executivos da varejista também descartaram em teleconferência nesta terça um eventual aumento de capital, possibilidade que vinha circulando entre agentes financeiros desde a semana passada.
A investigação citada acima foi realizada pelo Comitê de Auditoria e Compliance (CARC) junto à TozziniFreire Advogados e PwC, após a denúncia chegou à conclusão de que ela não tinha fundamento.
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Ainda assim, durante a investigação, foram encontradas imprecisões nos registros relacionados ao reconhecimento contábil de bonificações em transações comerciais específicas. Segundo a empresa, o problema estava na utilização de Notas de Débito, documentos da empresa assinados pelos fornecedores para contabilizar receitas de bonificações. Esses registros não estavam em conformidade com as obrigações de desempenho estabelecidas pelas normas contábeis.
Em resposta, o Conselho de Administração ordenou a correção dos registros contábeis, resultando em uma redução no patrimônio líquido da empresa no valor de R$ 830 milhões em 30 de junho de 2023 – sem afetar o fluxo de caixa e líquido de impostos.
Além disso, frente em um recente julgamento do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que estabeleceu que não há incidência de PIS/COFINS sobre bonificações recebidas de fornecedores, a empresa reconheceu neste 3T23 créditos tributários no valor total de R$ 688,7 milhões – sendo R$ 533,1 milhões de principal e R$ 155,6 milhões de atualização monetária.
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Considerando todas as correções e ajustes, o impacto total no patrimônio líquido da empresa foi de R$ 322 milhões.
De acordo com os analistas do Citi, os olhos do mercado ficaram voltados em entender melhor essa investigação interna e os potenciais riscos (se houver algum) que podem ocorrer a partir de novos procedimentos.
A XP também reforça a visão de que a maior parte da atenção se direcionou para o fato relevante publicado juntamente com o resultado, levando a uma redução no patrimônio líquido da empresa e um aumento de R$ 1,3 bilhão na conta de fornecedores. “Este anúncio pode deixar os investidores mais preocupados com novos riscos potenciais de contabilidade e governança”, apontou.
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Em essência, explicaram os analistas da casa, a companhia reconheceu receitas de bonificação (que reduziram custos e contas de fornecedores), anteriormente ao cumprimento da respectiva meta de desempenho, fazendo com que o lucro bruto e o lucro líquido fossem maiores.
Houve um ajuste acumulado e espera-se que este ajuste seja parcialmente compensado por um reconhecimento de crédito fiscal de R$ 524 milhões feito no trimestre, sendo que a empresa observou que não deve haver efeito caixa enquanto processos adicionais são implementados para evitar que isso aconteça novamente.
Em análise antes da abertura do mercado, o Goldman Sachs por sua vez apontou que, embora esperassem que os investidores reagissem com uma maior percepção de risco à medida que digeriam a notícia, devia-se notar que as imprecisões não são tão materiais quanto outras observadas no setor no passado recente (sendo o mais emblemático o caso Americanas AMER3), são de natureza diferente e não têm impacto no fluxo de caixa.
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Os investidores ainda monitoraram mais cedo a notícia do jornal Valor Econômico de que a família fundadora do Magazine Luiza está conversando com bancos e investidores sobre uma potencial capitalização da companhia. Conforme três fontes ouvidas pela publicação, a companhia avaliaria chamar um aumento de capital privado da ordem de R$ 2 bilhões, no qual os Trajano entrariam com cerca de metade desse volume. A família detém 56% do Magalu.
Já em teleconferência, o diretor financeiro do grupo de varejo, Roberto Bellissimo Rodrigues, negou a notícia. Segundo ele, a estrutura de capital da empresa é sólida e líquida e a companhia não tem discussão ou necessidade de uma operação de aumento de capital.
“São rumores do mercado, não tem relação com a companhia”, disse Rodrigues. “Temos estrutura de capital hoje bastante sólida e líquida e não existe necessidade ou discussão sobre aumento de capital”, acrescentou o executivo.
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Rodrigues justificou sua fala com o quadro de liquidez do Magazine Luiza ao final do terceiro trimestre, de cerca de R$ 8 bilhões, e a perspectiva de aceleração da geração de caixa operacional e de redução de despesas financeiras, “melhorando significativamente nossa alavancagem nos próximos trimestres”.
Os resultados da varejista
Olhando para os dados do 3T23 da companhia em si, a XP ressalta que o Magalu reportou resultados mistos no 3T23, com pressão no faturamento e uma margem bruta recorde, embora a Margem Ebitda tenha permanecido estável.
O volume bruto de mercadorias (GMV, na sigla em inglês) cresceu 5% na base de comparação anual, impulsionando novamente pelo 3P, ou marketplace (+25%), ao passo que o 1P (-4%) e o varejo físico (+2%) continuam pressionados por um cenário macroeconômico desafiador, levando a uma receita líquida em queda de 2,6% ano a ano.
A margem bruta, por sua vez, foi um destaque positivo, com um aumento de 2,9 pontos percentuais (p.p.) na base anual, impulsionado pelo 3P, passo que a margem de publicidade também aumentou (+1 p.p), uma vez que a empresa conseguiu repassar o DIFAL nos preços.
Apesar disso, o ganho não se verificou na margem Ebitda Ajustada, que ficou estável (+0,10 p.p ano a ano), dado que a empresa continuou a investir na aquisição de clientes / marketing.
O prejuízo líquido ajustado foi de R$ 170 milhões, enquanto a geração de caixa foi positiva em R$191 milhões.
A Genial, por sua vez, apontou que o resultado se consolidou bem acima de suas expectativas, com o marketplace impulsionando a margem bruta da companhia (30,4% consolidado versus 28,8% estimado pela casa).
“Sem dúvidas, em termos trimestrais, este foi um resultado forte para a companhia. Em nossas análises sempre pontuamos o fato de que Magalu girava com uma margem muito inferior em relação ao seu principal concorrente, Casas Bahia (BHIA3) – que em ‘tempos áureos’ mantinha uma rentabilidade acima de 30,0%”, apontam os analistas da casa.
Já nos últimos trimestres, enquanto o concorrente vem enfrentando uma pesada reestruturação, com saldão de estoques e forte queda de rentabilidade, Magazine Luiza capturou crescimento no marketplace.
Por outro lado, a Genial destaca que a reapresentação de resultados por conta dos “erros contábeis” também embaralhou algumas cartas para Magazine Luiza.
“Notamos que o Capital de Giro foi um desses grandes impactados, saindo de 1,5% para 4,9% da Receita Bruta nos últimos 12 meses. Acreditamos que esse aumento está conectado a questão de “inconsistência de lançamento contábil”, sendo o montante de Fornecedores (incluindo Convênio) a principal afetada na reapresentação”, avalia.
Os analistas da Genial ainda atualizaram as perspectivas para Magazine Luiza nos próximos dois anos, rebaixando a recomendação de compra para manutenção e cortando o preço-alvo em doze meses de R$ 4,50 para R$ 2,10 – upside de 21,0% em relação ao fechamento dessa segunda-feira.
“Embora acreditemos no potencial de crescimento da empresa, entendemos que o Magalu possivelmente enfrentará pressões de curto prazo devido à alta alavancagem (R$ 3 bilhões em dívidas a vencer no curto prazo) somada às possíveis repercussões de inconsistências contábeis divulgadas no comunicado relevante. Até ela endereçar essas duas questões, manteremos a recomendação neutra para a companhia”, apontou.
Para a Eleven, o Magazine Luiza reportou resultados mistos com desaceleração nas vendas, apesar de boa evolução na margem bruta, enquanto o fato relevante com correções contábeis foi o principal ponto de atenção. “Diante do resultado e do fato, estamos revisando nossa recomendação”, destacou a Eleven.
Já na visão do Goldman Sachs, os resultados do 3T23 ficaram amplamente em linha com as expectativas, tanto nos níveis de receita quanto no Ebitda ajustado. A fraca procura contínua pelas categorias principais da varejista, combinada com o foco da gestão na rentabilidade, resultou num crescimento anual “morno” nas lojas físicas e um declínio no 1P, parcialmente compensado por um crescimento mais notável no marketplace, reforçou.
“A maior participação de 3P no mix, bem como o repasse de preços, beneficiaram a margem bruta, embora observemos que isso foi quase totalmente compensado por um maior índice de custos de vendas, gerais e administrativos (maiores gastos para impulsionar o crescimento em 3P e os efeitos da desalavancagem operacional)”, destacou ainda.
A companhia ainda destacou no release de resultados que a margem Ebitda de outubro ficou entre 6% e 7% (versus 5,7% no 3T23), mas o Goldman reforça que o período de vendas mais importante ainda está por vir, dada a relevância de novembro (Black Friday) e dezembro (vendas de final de ano) para o trimestre como um todo.
De qualquer forma, conforme ressaltou o Bradesco BBI, a visão seria de uma reação inicial negativa no pregão, pois não apenas os resultados do 3T23 ainda não indicam um ponto de inflexão nas tendências operacionais/econômicas, mas também pelos ajustes patrimoniais negativos de R$ 830 milhões que , neste primeiro momento, podem potencialmente pesar na percepção qualitativa dos investidores.
“Por outro lado, saudamos a transparência do processo, iniciado em março de 2023, demonstrando o compromisso da gestão e do Conselho em manter os bons padrões de governança corporativa”, avalia.
“Deixando essa questão de lado, esperamos que o Magalu siga em um ritmo gradual para melhorar sua margem Ebitda, enquanto uma taxa de juros em queda deverá ajudar gradualmente a diminuir as perdas. Daqui para frente, todos os olhares estão voltados para a temporada de descontos da Black Friday, mais relevante para itens de alto ticket como eletroeletrônicos e eletrodomésticos, momento chave do ano para geração de caixa”, avalia o BBI.
O banco destacou manter, por enquanto, sua recomendação neutra para Magalu (com preço-alvo para 2024 de R$ 4,50 por ação) diante de um ambiente ainda desafiador.
(com Reuters)