“Lula é favorito, mas mercado quer vê-lo ao centro”, diz diretor do Goldman Sachs

Há expectativa de que o petista detalhe suas propostas sob a ótica econômica e, em especial, sobre a questão fiscal, aponta Alberto Ramos.

Estadão Conteúdo

O ex-presidente e candidato Luiz Inário Lula da Silva (PT) vota em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, neste domingo (2), no primeiro turno das eleições de 2022 (Foto: DANILO M YOSHIOKA/FUTURA PRESS/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO)

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O Goldman Sachs, um dos gigantes de Wall Street, vê o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como favorito para vencer as eleições no Brasil, apesar da margem apertada ante o seu rival, o presidente Jair Bolsonaro (PL), no primeiro turno.

No entanto, há uma expectativa de que o petista se mova mais ao centro e detalhe suas propostas sob a ótica econômica e, em especial, sobre a questão fiscal, de acordo com o diretor de Pesquisa Macroeconômica para América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.

Leia também: Quais partidos declararam apoio a Lula e quais optaram por Bolsonaro no 2º turno

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“O Lula fez uma campanha muito do tipo ‘acredite em mim, você me conhece e eu não preciso dizer o que vou fazer’. Basicamente, a gente não sabe quem vai ser o próximo ministro da Fazenda. A gente sabe que o PT e o Lula não gostam do teto de gastos, mas ninguém se deu ao trabalho de formular o que seria o substituto”, diz o economista, em entrevista ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.

Acompanhe os principais trechos da entrevista:

Qual a sua avaliação do primeiro turno das eleições?

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Acho que o presidente Lula ainda é o favorito, dado que ficou muito próximo dos 50% e precisa converter apenas uns 20% dos votos que foram para outros candidatos, assumindo que não perde nenhum dos que votaram nele no primeiro turno e que, quem não votou, não votará também no segundo turno.

O que se espera agora dos candidatos em termos de posicionamento?

Bolsonaro excedeu o que as pesquisas mostravam, e isso pode energizar um pouco a base. Os governadores que foram eleitos no primeiro turno podem ter um papel significativo na campanha, principalmente em Minas e no Rio. E Bolsonaro também tem a favor o fato de que vamos continuar a ter uma sequência de números negativos de inflação. E ele ainda pode turbinar um pouco mais os benefícios sociais, como vimos com o anúncio do 13.º do Auxílio Brasil para mulheres.

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E no caso de Lula?

Há uma expectativa no mercado de que Lula tenha de se mover um pouco mais ao centro. Eu acho que ele já se moveu bastante ao centro, pelo fato de ter escolhido Alckmin como vice-presidente e por todo o posicionamento político e retórico, fazendo o apelo forte ao voto útil. Acho que não há muito mais o que extrair dessa estratégia, porque mais ao centro já vira quase direita. Mas Lula fez uma campanha muito do tipo ‘acredite em mim, você me conhece e eu não preciso dizer o que vou fazer’. Basicamente, a gente não sabe quem vai ser o próximo ministro da Fazenda. A gente sabe que o PT e o Lula não gostam do teto de gastos, mas ninguém se deu ao trabalho de formular o que seria o substituto. A gente não sabe que tipo de reforma tributária o PT vai perseguir, se vai ou não tentar aprovar uma reforma administrativa. Pode ser que, neste contexto de uma eleição mais competitiva, a campanha resolva dar um pouco mais de especificidade a algumas das propostas. Ou não. Eu não espero que vão anunciar quem será o ministro da Fazenda.

Há preocupação com o teto de gastos, independentemente do vencedor. Os dois candidatos ainda têm mais a sinalizar nessa área?

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Os estudos que vieram a público, elaborados pela Secretaria de Política Econômica – que são servidores, não são necessariamente membros do bolsonarismo e podem continuar num próximo governo Lula -, são de um teto que se parece muito com o de hoje, mas que sobe um pouco o gasto em termos reais. Do lado do PT, não tem nenhuma clareza. Eu me encontrei com gente do PT, e o que eu ouvi é que o teto tem de ser ‘flexível, simples, crível e contracíclico’ e que, além disso, deixe espaço para aumentar o investimento público, que tem sido muito baixo nos últimos anos, e para perseguir políticas redistributivas. Parece, nessa caracterização muito abstrata, um teto que limita pouco. É muito mais fácil dizer quais são as características de uma boa âncora do que formular qual é esse teto exatamente.

A composição do Congresso eleito muda as expectativas para a agenda de reformas e a política fiscal de um novo governo?

Acho que esse Congresso, com maior representação de centro-direita, pode resistir mais a determinados tipos de políticas como o aumento da carga tributária, imposto sobre riqueza, coisas desse gênero. Mas é um Congresso muito fluido, e os partidos não têm identidade ideológica e programática muito forte. Talvez, se Lula for eleito, vai encontrar um Congresso um pouco mais aguerrido.

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Um cenário de Lula eleito, com um Congresso mais conservador, seria bom?

Seria bom que quem viesse a ser eleito tivesse governabilidade. Eu acho que, seja Bolsonaro, seja Lula, eles vão ser capazes de compor uma base política no Congresso, mas nenhum deles vai ser capaz de ter uma base política que seja muito estável ou muito fiável. Acho que, tendo um Congresso que funciona como uma barreira de contenção a propostas mais extremas e radicais, eventualmente vindo de um governo do PT, é bom. É algo que o mercado veria com bons olhos.