Juro em queda, moda em alta: financeiras de varejistas projetam 2024 com mais vendas

Financiamento ao consumo deve ajudar Lojas Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo

Ana Paula Ribeiro

(Shutterstock)

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As varejistas de moda começam a enxergar cada vez mais pelo retrovisor os piores momentos dos últimos tempos, quando enfrentaram queda das vendas, pela pandemia, e, mais recentemente, alta dos juros.

Agora, o cenário é diferente – e os braços financeiros das varejistas já projetam mais vendas em 2024.

Isso deve ocorrer, sobretudo, pelo ciclo de queda dos juros e pelo controle dos níveis de inadimplência dos clientes.

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Dessa forma, os resultados dos serviços financeiros devem não só ser melhores para Lojas Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Guararapes (GUAR3), dona da Riachuelo, como também servirão para ajudar no aumento da frequência de compras, com tíquetes médios maiores.

Varejo vê pior ficando para trás

No ano passado, os serviços financeiros geraram uma receita de R$ 356,6 milhões para a C&A, um crescimento de 38,5%. Parte desse resultado está atrelado ao C&A Pay, que é o aplicativo em que os consumidores podem acessar um crédito digital para realizar compras e pagamentos nas lojas da varejista.

A participação desse meio de pagamento no total das vendas foi de 22%, ante 13% no ano anterior. Incluindo o cartão de crédito feito em parceria com a Bradescard, a fatia sobe para 26% (mas os ganhos do C&A Pay ficam apenas com a varejista, assim como o risco da operação).

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“Na C&A, o desempenho de vendas permanece forte em todas as formas de pagamento, mas notamos que a crescente carteira de crédito da empresa continuou a ajudar e a apoiar as vendas garantidas por financiamento ao consumidor, antes das vendas de cartão de crédito, garantidas por terceiros”, avaliaram, em relatório, os analistas do Santander.

Mas o crescimento do C&A Pay, que completou dois anos, também tem gerado despesas para que o colchão de provisões para lidar com inadimplência seja construído. O resultado final do segmento de serviços financeiros foi negativo em R$ 80,4 milhões, quase quatro vezes o registrado em 2022.

Melhora das perdas

As receitas financeiras da Riachuelo, que ocorrem por meio da Midway Financeira – com operação mais consolidada no mercado – geraram uma receita líquida de R$ 2,2 bilhões para a Guararapes, uma alta de 2,5% na comparação com 2022.

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Mas, diferente da C&A, a operação voltou a apresentar lucro, de R$ 22,6 milhões no ano passado, ante prejuízo de R$ 50,8 milhões no ano anterior.

De acordo com a companhia, a alta acontece pelo aumento da participação das vendas com juros, além das receitas com outros produtos, como seguros.

“Esse desempenho reflete, principalmente, o ajuste de precificação e maior penetração dos produtos com juros, além dos serviços que geram receita de comissões, como seguros e assistências”, de acordo com o relatório de resultados do quarto trimestre e consolidado de 2023.

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Além do crescimento da receita, a financeira também registrou uma melhora nas despesas com a recuperação de créditos.

No ano passado, as provisões para perdas tiveram um crescimento de 9,7%, mas no quarto trimestre, caíram 10,6%.

“Essa queda já reflete uma tendência mais saudável das novas safras e movimentos de redução de risco do portfólio, que norteou as ações de 2023.”

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Apesar da melhora nas provisões, a varejista ainda enfrenta uma inadimplência elevada, tanto na operação de cartão de crédito (18,4%) como na concessão de empréstimos pessoais (28,9%).

Realize

Já no caso da Lojas Renner, as receitas da financeira Realize totalizaram R$ 1,8 bilhão, uma alta de 15,8% no ano. A maior parte do resultado veio dos cartões com bandeira (que podem ser utilizados em outros estabelecimentos) e uma reversão de lucro para prejuízo de R$ 95,8 milhões no ano passado.

Paula Mazanék, responsável pela Realize, afirma que apesar dos resultados de 2023, a expectativa é de uma melhora para 2024, que inclui um ajuste no modelo de concessão de crédito, juros menores e o programa Desenrola, do governo federal, que permite renegociação de dívidas e aumenta a base de potenciais consumidores.

“O que a gente deslumbra é uma ampliação do crédito bastante qualificada, focado no privite label (sem parcerias com outras instituições), que é mais adequado para a atual conjuntura e também pode trazer um impacto para as vendas nas lojas, em especial nas praças mais dependentes de crédito”, afirmou a executiva durante a teleconferência de resultados do quarto trimestre.

Vinícius Pretto e Wellington Santana, analistas do Bank of America, avaliam que o segmento de crédito ao consumidor da Renner tem feito progressos, com um modelo mais assertivo e, ao mesmo tempo, há uma menor concorrência por parte de fintechs que atuam no financiamento ao consumidor. Isso deve contribuir para o aumento dos resultados da Realize.

“Estima-se que os usuários do cartão Renner tenham valores de transação 30 a 50% acima da média geral e com frequência de uso muito maior”, explicaram.

Ana Paula Ribeiro

Jornalista colaboradora do InfoMoney