JPMorgan: os três itens para o Brasil “sonhar” após onda de boas notícias no final de 2023

Grau de investimento, "efeito janeiro" com fluxo para o país e Brasil subindo mais no ranking de economias globais são destaques

Lara Rizério

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Bolsa renovando máximas dia após dia, rating elevado, economia no top 10 global. O fim de ano tem sido de notícias positivas para o Brasil no campo econômico, fazendo com que as estimativas positivas de muitos grandes bancos para o fim deste ano tenham se confirmado.

O JPMorgan, em relatório da equipe de estratégia liderada por Emy Shayo, destacou o avanço de 20,15% do Ibovespa no acumulado do ano em reais (ou 30,5% em dólares, acima do S&P), ficando apenas 2,3% abaixo da sua projeção para o ano, de 135 mil pontos.

“A nossa tese é simples: juros mais baixos, valuations baratos e ‘desalavancagem’ no campo da política, temas sobre os quais escrevemos durante todo o ano”, avaliam os estrategistas, que projetam o índice a 142 mil pontos no próximo ano.

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Contudo, após repetir essa tese, Emy Shayo e equipe apontam que “agora começam a sonhar outros sonhos” que podem impulsionar o mercado de ações.

São eles: grau de investimento, “efeito janeiro” e mais crescimento, listados a seguir:

  1. De volta ao investment grade?

A S&P elevou o Brasil de BB- para BB- na última terça-feira, fazendo com que voltasse à tona as discussões sobre a volta do grau de investimento.

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Contudo, cabe destacar que a decisão da S&P apenas iguala o rating do Brasil à nota atribuída pela Fitch e pela Moody’s e portanto, dois níveis abaixo do conhecido “investment grade” (IG), ou o selo de “bom pagador”.

Para os estrategistas do banco, os dois principais obstáculos que veem para alcançar esse patamar são o nível de endividamento e o baixo crescimento.

Neste último caso, apontam, o Brasil tem crescido mais do que o esperado, mas resta saber se é algo cíclico ou estrutural. “A espinha dorsal da melhoria do S&P foi que a reforma tributária irá aumentar o crescimento. Quanto à dívida, o Brasil é o maior devedor nos mercados emergentes, logo atrás do Egito, ainda sem sinais de estabilização. O Tesouro afirmou que o IG é um objetivo até o final do mandato do presidente Lula. Mas para isso serão necessários mais progressos na frente fiscal”, avalia.

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O banco ainda analisou os países que perderam o grau de investimento e que recuperaram em algum momento mais tarde. Para este exercício usou apenas ratings da S&P.

“Encontramos 10 países em que isto aconteceu e, em média, demoraram 7,4 anos a recuperar o selo de bom pagador. Considerando que a S&P rebaixou o Brasil de grau de investimento em setembro de 2015, 8,3 anos se passaram para o Brasil”, reforçam.

Confira no quadro abaixo quais países perderam o grau de investimento (Lost IG), quando recuperaram (Recovered IG) e quanto tempo se passou desde então:

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2. “Efeito Janeiro”

O termo é famoso nos EUA, com a ideia de que os mercados normalmente sobem em janeiro. A ideia é que os investidores vendam posições perdedoras no final do ano para compensar os custos tributários e também que, mediante a distribuição de bônus, comprem ações no início do ano.

Os estrategistas verificaram se esse efeito de janeiro pode ser aplicado ao Brasil e, como se desconfiava, é principalmente um mito. Nos últimos 24 anos, houve 14 janeiros negativos, ou 58,3% das observações. O S&P 500 está apenas ligeiramente melhor, tendo apresentado resultados negativos em 54,2% das observações (13 janeiros negativos).

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“Contudo, a observação mais interessante que descobrimos é que os fluxos estrangeiros tendem a ser positivos em janeiro. Isto é verdade em dois terços das vezes nos últimos 24 anos. Desde 2017, os fluxos foram negativos apenas em janeiro de 2020, quando os mercados começavam a reagir à pandemia de Covid que já começava a se espalhar na China. Os fluxos não apenas são positivos em janeiro, mas também tendem a ser maiores que nos demais meses do ano”, apontam.

Assim, considerando que o mercado brasileiro é em grande parte impulsionado por estrangeiros, os estrategistas veem que esse movimento pode ser importante.

“Ainda assim, é preciso destacar que os fluxos têm se comportado extremamente bem nos últimos meses, com novembro contando com fluxo positivo de R$ 21 bilhões e dezembro em R$ 9,5 bilhões (até o dia 15). No acumulado do ano, o fluxo é de R$ 37,5 bilhões, ainda um valor insignificante em comparação aos R$ 102 bilhões observados em 2022”, afirmam.

3. Brasil de volta ao top 10 das economias mundiais

O FMI divulgou suas projeções finais para o PIB de 2023 e, com isso, o Brasil volta a figurar entre as 10 maiores economias do mundo, depois de ficar para trás em 2022. Com um PIB de US$ 2,1 trilhões esperado para 2023 (com base no crescimento real do PIB de 3,1% ), o Brasil seria a nona maior economia do mundo por essa medida, ultrapassando o Canadá “por um fio de cabelo”.

Para os estrategistas, mais interessante do que a classificação no ranking é que o PIB nominal do Brasil em dólares deverá ganhar 68% nos próximos cinco anos, ficando atrás apenas do da Índia (+88%) sob essa métrica. “Se esse cenário se concretizar, o Brasil seria então a oitava maior economia do mundo”, avalia o JPMorgan.

O banco também cita as projeções do FMI para o PIB nominal em trilhões de dólares, passando de US$ 1,65 trilhão em 2021 para US$ 2,77 trilhões em 2028, como destacado no gráfico abaixo:

Projeções do FMI para o PIB do Brasil até 2028 (em trilhões de US$):

Os estrategistas do JPMorgan ressaltam que as projeções acima são baseadas em uma taxa de crescimento real relativamente modesta: de acordo com o FMI, o PIB real do Brasil será inferior a 2% até 2027.

“Considerando que o PIB do Brasil tem surpreendido muito positivamente nos últimos três anos, vemos autorização para ‘sonhar’ que ele possa atingir o patamar de US$ 3 trilhões no final da década”, afirma.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.