IPCA de fevereiro aumenta expectativa por Copom, com inflação “ruim” mesmo antes de guerra na Ucrânia e alta dos combustíveis

Para os analistas, o índice de preços deve pressionar o Banco Central a adotar postura mais austera a partir da próxima reunião do Copom

Mitchel Diniz

(AndreyPopov/Getty Images)

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A alta de 1,01% na inflação de fevereiro, maior para o mês desde 2015, não só veio acima do esperado, como também trouxe uma perspectiva de agravamento do avanço de preços, com revisões nos próximos meses para cima, ainda que as altas registrem desaceleração frente o segundo mês do ano.

Além da intensidade com a qual acelerou em fevereiro, a última leitura do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ainda não abarca dois eventos importantes: o conflito na Ucrânia, que tem encarecido as matérias-primas e foi desencadeado no fim do mês passado, e o reajuste dos combustíveis, que entrou em vigor nesta sexta-feira.

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“É uma inflação que, por si só, já preocuparia e provocaria revisões para cima, incentivando um debate sobre o ritmo de alta de juros do Banco Central”, afirma Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC vai se reunir nos próximos dias 15 e 16 de março e deve subir novamente a taxa de juros. Vale lembrar que, na reunião passada, a autoridade monetária chegou a sinalizar com o início de uma desaceleração no ciclo de aperto monetário. Segundo consenso Refinitiv, a projeção é de alta de 1 ponto percentual na Selic, para 11,75%.

Para Cruz, o IPCA de fevereiro coloca pressão para que a autoridade monetária mude o discurso e indique uma postura mais dura para os próximos passos. “Vai ter que passar mensagens mais hawkish, para segurar perspectivas futuras de inflação”, afirma.

Na visão de Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, a inflação de fevereiro não deve alterar expectativa para o Copom da próxima a semana – ela também projeta elevação da Selic em 1 ponto semana que vem. “Eles ainda estão identificando o melhor momento para movimentos mais elevados e traçando uma melhor estratégia para a política monetária”, afirma. A economista, no entanto, admite que o dado não é positivo para o Banco Central nem para o mercado, e sinaliza que, ao longo dos próximos meses, o Brasil vai enfrentar uma inflação bastante elevada.

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O Bank of America (BofA) praticamente dobrou sua projeção para o IPCA de março, de 0,46% para 0,81%. O relatório de David Beker, estrategista do banco, destaca a pressão da categoria de alimentos e bebidas, que avançou para 1,28% entre janeiro e fevereiro, e, principalmente, do segmento de educação, no qual os preços subiram para 5,61%. O desempenho da categoria confirma o que muitos economistas temiam: mais cedo ou mais tarde, o setor de serviços, que represou preços ao longo da pandemia, cobraria sua conta.

“É difícil pensar que as instituições de ensino vão revisar preços para baixo. Se chegou a um novo patamar de preços, é dali para cima”, afirma Gustavo Cruz.

A economista da CM Capital também chama a atenção para o fato de que os preços dos alimentos, que costumam mesmo subir entre o final do ano e o começo do seguinte, já deveriam mostrar arrefecimento inflacionário. “E a perspectiva que temos daqui para frente não é positiva, pois os movimentos internacionais sugerem uma alta de preço”, afirma.

Carla Argenta se refere ao conflito entre Rússia e Ucrânia, que, segundo a própria ONU, deve aumentar em 20% o preço dos alimentos no mundo. Fora o impacto nos combustíveis, que mexe com a categoria de transportes, a de maior peso do IPCA. Em fevereiro, o grupo avançou 0,46% (ante variação de 0,11% em janeiro), o que já foi considerado muito, pois houve uma queda no item de passagens aéreas e o ajuste recente da Petrobras aconteceu depois do cálculo do índice.

“A gasolina, que registrou deflação em fevereiro, deve subir quase 3% em março, após o reajuste de preços anunciado pela Petrobras ontem. E os automóveis, embora tenham registrado um aumento menor do que projetamos, devem continuar em alta no ano, assim como os demais bens duráveis, pois o aumento dos custos superará a desoneração trazida pela queda do IPI e demanda doméstica”, escreveu Tatiana Nogueira, economista da XP.

Na análise, Tatiana afirma que a XP também deve revisar as projeções de curto prazo.  Para 2022, a casa prevê inflação de 6,2%.

Para o Goldman Sachs, a inflação deve ser manter acima de dois dígitos ao longo de todo o semestre de 2022. O banco acredita em um choque duradouro nos preços das commodities. “O cenário desafiador de inflação atual e prospectiva e o pivô hawkish do FOMC [o Copom do Banco Central dos Estados Unidos] exigem uma calibração conservadora da política monetária”, concluem os analistas do banco.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados