Invasão da Ucrânia causa três grandes impactos em commodities minerais no Brasil, diz diretor do Ibram

Julio Nery diz que efeito mais crítico é possível desabastecimento de fertilizante como potássio; já alta de preço beneficia exportador de minério e níquel

Alexandre Rocha

Minério de ferro (Getty Images)

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A invasão da Ucrânia e as sanções econômicas impostas à Rússia tiveram forte impacto nos preços das commodities minerais e geraram preocupações com a oferta de produtos em médio prazo.

“O impacto nos preços dos produtos minerais foi evidente, mas nas importações ou exportações ainda não. O mercado reage rapidamente nos preços, mas demora mais tempo em termos de quantidades”, afirmou nesta sexta-feira (11) Julio Nery, diretor de Sustentabilidade e Assuntos Regulatórios do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), em entrevista ao InfoMoney. A entidade reúne empresas de mineração.

No Brasil, segundo ele, são três os efeitos mais relevantes no momento: o receio de desabastecimento de potássio, pois um terço das importações do Brasil vêm da Rússia; o aumento dos preços do minério e das pelotas de ferro; e a forte valorização do níquel, metal usado na fabricação de baterias e aço inoxidável.

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O potássio é usado como fertilizante e o Brasil importa 90% de suas necessidades. O país tem estoque para três meses e outros fornecedores estão sendo procurados. Neste sábado (12), por exemplo, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, parte para o Canadá para negociar o produto. “Se a guerra acabar logo, o Brasil não deve sofrer consequências piores”, observou Nery.

De acordo com ele, o Brasil tem boas reservas de potássio, mas pouco exploradas. Mesmo que o licenciamento ambiental de projetos previstos saísse agora, seriam necessários vários anos para o início das operações. Ou seja, a substituição de importações pode ser uma solução, mas só em longo prazo.

Metais

No caso do ferro, Ucrânia e Rússia são grandes exportadoras de pelotas. O preço internacional do minério saiu de US$ 141,69 por tonelada em 24 de fevereiro, quando a invasão teve início, para US$ 160,96 na última terça-feira (08). Depois recuou, e agora está em US$ 156,95.

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Como o Brasil é o segundo maior produtor mundial de minério de ferro, depois da Austrália e à frente dos dois países eslavos, o aumento de preço beneficia os exportadores brasileiros. A Vale (VALE3) é a maior produtora de minério e pelotas de ferro do mundo, segundo a própria companhia.

No médio prazo, a interrupção parcial ou total das exportações russas e ucranianas tende a ampliar a demanda pelo produto brasileiro, caso não ocorra arrefecimento econômico na China, por exemplo.

Uma das maiores consequências da guerra no mercado internacional de commodities metálicas até agora ocorreu na cotação do níquel. A tonelada do metal dobrou de preço e superou US$ 100 mil a tonelada em 8 de março por um breve período (para depois recuar para cerca de US$ 80 mil), quando a Bolsa de Metais de Londres, na Inglaterra, suspendeu as negociações e cancelou os contratos do dia.

A Rússia é a terceira maior produtora mundial de níquel, enquanto o Brasil é apenas o décimo, de acordo com Nery, mas o País é autossuficiente e exporta o produto. “Para o Brasil, o impacto é positivo em termos de preço”, comentou o diretor do Ibram.

Ele acrescenta que o metal é extraído das minas de Onça Puma, no Pará, pela Vale, e de Barro Alto, em Goiás, pela Anglo American. A Vale é uma das maiores produtoras mundiais de níquel.

Outro metal que subiu de preço foi o ouro. A onça troy (31,1 gramas) saiu de US$ 1.889,28 em 27 de fevereiro para mais de US$ 2 mil em 08 de março, mas agora recuou para US$ 1.982,56. “Quando há guerra não tem jeito, o ouro sobe”, destacou Nery. A commodity serve como porto seguro financeiro em tempos de crise. “Para o Brasil é bom, pois somos exportadores líquidos”, ressaltou.

Petróleo

No lado negativo, o avanço das cotações do petróleo amplia os custos da indústria da mineração. O barril de petróleo Brent, negociado em Londres, saiu de US$ 97,93 em 25 de fevereiro para US$ 127,98 em 8 de março e, na tarde desta sexta, negociava a US$ 111 o barril.

Nery acrescenta que a sustentação dos preços nos patamares atuais, novos aumentos e eventuais recuos vão depender da duração da guerra e dos embargos contra a Rússia.

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Alexandre Rocha

Jornalista colaborador do InfoMoney