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Indicador atinge “nível de bolha” e projeta década fraca em Wall Street; entenda

Índice criado por Robert Shiller, usado para medir bolhas, supera 40 pontos pela segunda vez na história

Paulo Barros

Homem caminha na Wall St. do lado de fora da Bolsa de Nova York - 07/04/2025 (Foto: REUTERS/Brendan McDermid)
Homem caminha na Wall St. do lado de fora da Bolsa de Nova York - 07/04/2025 (Foto: REUTERS/Brendan McDermid)

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A nova rodada de queda nas bolsas americanas nesta terça-feira (4) ganhou um reforço técnico para o pessimismo. Um dos indicadores mais respeitados de valuation do mercado, o P/L de Shiller, atingiu um patamar que historicamente antecede períodos de retorno baixo para ações.

O índice, também conhecido como CAPE (sigla para P/L ajustado ao ciclo), ultrapassou 40 pontos pela segunda vez desde que foi criado, de acordo com o Wall Street Journal. A primeira foi em 1999, pouco antes do estouro da bolha das empresas de tecnologia.

Em termos simples, o P/L de Shiller mostra quanto os investidores estão pagando por cada dólar de lucro das empresas, considerando uma média de 10 anos de resultados ajustada pela inflação. Quanto mais alto o número, mais caro o mercado está, e menores costumam ser os retornos nos anos seguintes.

Na prática, o indicador sugere que as ações americanas, especialmente as de crescimento, podem atravessar um período prolongado de rentabilidade modesta. O modelo da Research Affiliates, que usa o P/L de Shiller para projetar retornos futuros, prevê queda real de 1,1% ao ano para as grandes empresas de tecnologia dos EUA na próxima década. As ações de valor, ligadas a setores tradicionais, ainda teriam um ganho modesto, de 1,6% ao ano, em termos reais.

Os dados reforçam a percepção de que o ciclo de valorização liderado por big techs e inteligência artificial pode estar se aproximando de um ponto de saturação. O múltiplo de vendas do S&P 500 já é o maior da história, superando até o pico da bolha de 2000.

A leitura também ajuda a explicar o ambiente de correção visto nos últimos dias, ampliado por alertas de gestores como Michael Burry, que voltou a apostar contra Nvidia e Palantir, e por executivos de grandes bancos que enxergam espaço para quedas de até 20% nas bolsas.

Para o investidor comum, enquanto o mercado discute se o recuo é correção ou algo mais grave, o momento é mais um alerta de que os preços em NY ficaram tão esticados que fica cada vez mais difícil justificar um aporte agora.

Ainda assim, o P/L de Shiller não é um termômetro de curto prazo, pois pode permanecer elevado por anos. Mas, ao longo da história, serviu como um dos sinais mais consistentes de que a euforia tende a cobrar seu preço.

Paulo Barros

Jornalista, editor de Hard News no InfoMoney. Escreve principalmente sobre economia e investimentos, além de internacional (correspondente baseado em Lisboa)