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A nova rodada de queda nas bolsas americanas nesta terça-feira (4) ganhou um reforço técnico para o pessimismo. Um dos indicadores mais respeitados de valuation do mercado, o P/L de Shiller, atingiu um patamar que historicamente antecede períodos de retorno baixo para ações.
O índice, também conhecido como CAPE (sigla para P/L ajustado ao ciclo), ultrapassou 40 pontos pela segunda vez desde que foi criado, de acordo com o Wall Street Journal. A primeira foi em 1999, pouco antes do estouro da bolha das empresas de tecnologia.
Em termos simples, o P/L de Shiller mostra quanto os investidores estão pagando por cada dólar de lucro das empresas, considerando uma média de 10 anos de resultados ajustada pela inflação. Quanto mais alto o número, mais caro o mercado está, e menores costumam ser os retornos nos anos seguintes.
Na prática, o indicador sugere que as ações americanas, especialmente as de crescimento, podem atravessar um período prolongado de rentabilidade modesta. O modelo da Research Affiliates, que usa o P/L de Shiller para projetar retornos futuros, prevê queda real de 1,1% ao ano para as grandes empresas de tecnologia dos EUA na próxima década. As ações de valor, ligadas a setores tradicionais, ainda teriam um ganho modesto, de 1,6% ao ano, em termos reais.
Os dados reforçam a percepção de que o ciclo de valorização liderado por big techs e inteligência artificial pode estar se aproximando de um ponto de saturação. O múltiplo de vendas do S&P 500 já é o maior da história, superando até o pico da bolha de 2000.
A leitura também ajuda a explicar o ambiente de correção visto nos últimos dias, ampliado por alertas de gestores como Michael Burry, que voltou a apostar contra Nvidia e Palantir, e por executivos de grandes bancos que enxergam espaço para quedas de até 20% nas bolsas.
Para o investidor comum, enquanto o mercado discute se o recuo é correção ou algo mais grave, o momento é mais um alerta de que os preços em NY ficaram tão esticados que fica cada vez mais difícil justificar um aporte agora.
Ainda assim, o P/L de Shiller não é um termômetro de curto prazo, pois pode permanecer elevado por anos. Mas, ao longo da história, serviu como um dos sinais mais consistentes de que a euforia tende a cobrar seu preço.