Ibovespa sobe mais de 4% e supera os 106 mil pontos após IPCA: por que o dado de inflação animou tanto o mercado nesta terça

Além do dado de inflação abaixo do esperado, levando a expectativas de corte de juros mais cedo, notícias sobre arcabouço fiscal também impulsionam o índice

Lara Rizério Vitor Azevedo

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Depois de rondar os 100 mil pontos, é o momento do Ibovespa ganhar impulso e se afastar de vez desse patamar?

O Ibovespa saltou 4,29%, indo aos a 106.213 pontos, nesta terça-feira (11), impulsionado por um “combo” de fatores positivos que também levam a uma queda expressiva do dólar na sessão. Foi o maior ganho percentual do índice em um dia desde três de outubro de 2022, quando fechou em disparada de 5,54% na sessão seguinte ao primeiro turno das eleições no país.

Nesta manhã, a surpresa positiva com o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que veio abaixo do esperado, animou os investidores. Além disso, também contribuíram com a alta a indicação de que a equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, busca entregar a proposta final da nova regra fiscal ao Congresso nesta semana e a carta enviada pelo mesmo ministro ao Fundo Monetário Internacional (FMI), no qual se compromete com a responsabilidade de gastos. Sobre o arcabouço, vale ressaltar, contudo, as falas da ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, de que a proposta só deve ser enviada ao Congresso na próxima semana, após o envio do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2024 na sexta.

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O índice de inflação subiu 0,71% em março, depois de ter avançado 0,84% em fevereiro, mostraram os dados divulgados pelo IBGE nesta terça-feira. Em 12 meses, acumulou aumento de 4,65%, contra 5,60% antes, a variação foi a mais baixa e marcou a primeira vez que o índice ficou abaixo de 5% desde janeiro de 2021. Ambos os dados foram menores que as expectativas.

A inflação em desaceleração e a convergência das expectativas, além do noticiário sobre o arcabouço fiscal (dando luz sobre as contas públicas brasileiras), ajudam a impulsionar a Bolsa brasileira, uma vez que abririam espaço para perspectivas de um corte de juros mais cedo.

“O IPCA de março abaixo do esperado desencadeou uma onda de otimismo e reprecificação dos ativos de risco, com alta do Ibovespa e do real, enquanto os juros futuros caem. O IPCA apresentou queda nos núcleos e abriu uma brecha para a possibilidade de corte da Selic em junho, em momento em que também há otimismo com o andamento da proposta do novo arcabouço fiscal”, ressalta Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos.

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Cabe ressaltar que, em relatório do início do mês, a XP havia elevado a projeção para o Ibovespa no fim do ano de 125 mil pontos para 128 mil pontos, sendo que um dos pontos de maior ânimo era a estabilização das taxas de juros reais de longo prazo.

Assim, um alívio na taxa Selic, atualmente em 13,75%, é visto como essencial para uma melhora mais sustentável das ações brasileiras, principalmente daquelas sensíveis à economia interna, uma vez que diminui a atratividade da renda fixa e também melhora o ambiente de negócios, facilitando empréstimos e também dando impulso para a economia brasileira. Até o momento, a previsão entre economistas no Focus é de queda dos juros no segundo semestre.

Pedro Canto, analista da CM Capital, avalia que, somados, os dois fatores (inflação em desaceleração e arcabouço fiscal, gerando ancoragem de expectativas) são bem importantes. “Há inflação menor à vista, com provável queda de Selic. Custo de oportunidade cai, risco diminui e ativos de risco sobem”, afirma.

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Cabe ressaltar que, recentemente, Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central, apontou que as expectativas é que levam à queda da Selic, não o arcabouço fiscal diretamente. Assim, a desaceleração do IPCA é comemorada pelos investidores, em um contexto em que o governo tem pressionado o BC para cortar a taxa.

“Os dados do IPCA de hoje trouxeram surpresas positivas importantes para o cenário brasileiro. Além da surpresa no índice geral, vale destacar melhoras substanciais nas medidas de inflação subjacente, especialmente serviços e núcleos. A melhora também é vista para dados dessazonalizados”, avalia Luca Mercadante, economista da Rio Bravo.

Apesar da surpresa positiva, Mercadante ainda não acredita que um mês é capaz de mudar a postura do Copom. “Para que cortes de juros apareçam mais cedo do que o esperado, acreditamos que o BC tenha que ver um processo de alívio mais consistente da inflação. Um mês apenas não deve ser capaz de garantir a consolidação da desinflação. Seguimos, portanto, vendo a Selic a 13% ao final do ano”, afirma.

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Para a Levante Ideias de Investimentos, a análise dos números do IPCA será “trabalhosa”, com os investidores em busca de alguma tendência.

Os analistas da casa destacam, citando análise do IBGE, que a inflação só não desacelerou mais devido ao retorno da cobrança de impostos federais no início do mês, estabelecido pela Medida Provisória 1157/2023. O PIS/COFINS sobre os combustíveis voltou a ser cobrado a partir de 1º de março.

Porém, “se não considerarmos os combustíveis, os demais grupos mostram que a inflação não está exatamente bem-comportada”, avaliam.

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Depois do grupo Transportes, segundo o IBGE, vieram os grupos Saúde e Cuidados Pessoais, com alta de 0,82%, e Habitação, com avanço de 0,57%. Esses dois itens, que são importantes na cesta de preços, desaceleraram em relação a fevereiro, contribuindo, respectivamente, com 0,11 e 0,09 pontos percentuais no índice. Os demais ficaram entre o 0,05 por cento de Alimentação e Bebidas e o 0,50 por cento de Comunicação. O único grupo cujos preços caíram foi Artigos de Residência, com um recuo de 0,27% após ter subido 0,11% em fevereiro.

“A interpretação da inflação vai exigir um ‘esforço filosófico’ dos investidores. Os pessimistas dirão que a desaceleração não é suficiente para justificar uma mudança nas expectativas para o comportamento futuro da taxa de juros. Os otimistas dirão que a baixa é suficiente para alterar o cenário. Na prática, essas dúvidas só serão sanadas nos próximos dias, com os comentários dos diretores do Banco Central e a aproximação da próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcado para os dias 2 e 3 de maio”, avalia a Levante. Porém, reforça que a primeira reação dos investidores ao IPCA abaixo do consenso foi positiva, ainda mais levando em conta o cenário de volatilidade para os ativos de risco.

Leandro Petrokas, Diretor de Research e sócio da Quantzed, casa de análise e empresa de tecnologia e educação para investidores, aponta que, além do IPCA, as bolsas internacionais estão majoritariamente em alta hoje. “Também temos investidores otimistas com o aperfeiçoamento do texto sobre o arcabouço fiscal e empresas do setor de commodities estão impulsionando Ibovespa para cima com altas de empresas ligadas ao petróleo e minério”, reforça.

Ações da Vale (VALE3) subiram mais de 5%, enquanto Petrobras (PETR3;PETR4) teve alta de 4,3% para as ações ON e de cerca de 4,5% para as PNs. Contudo, os grandes destaques ficaram para as aéreas Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4), que também se beneficiam com a queda do dólar, além das varejistas e construtoras, que ganham com a visão de queda dos juros.

Magazine Luiza (MGLU3) avançou quase 13% e MRV (MRVE3), cerca de 9%, enquanto as educacionais Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3) dispararam mais de 10%. Apenas as ações da Minerva (BEEF3) caíram mais de 1%, enquanto as units da Taesa ([ativo=TAEE1]) fecharam em leve queda de 0,03%, sendo as duas únicas baixas do Ibovespa.

Dados da B3 também mostram estrangeiros voltando para a Bolsa brasileira, com saldo positivo em R$ 655,5 milhões em abril até a última quinta-feira, após as vendas superarem as compras em fevereiro e março. Em janeiro, houve entrada líquida de R$ 12,55 bilhões.

No exterior, Wall Street não teve uma direção definida entre seus principais índices, com investidores à espera de um dado de inflação ao consumidor nos Estados Unidos na quarta-feira, que pode determinar os próximos movimentos de política monetária do Federal Reserve. O Dow Jones subiu 0,29%, o S&P 500 ficou neutro e o Nasdaq caiu 0,43%.

(com informações da Reuters)

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.