Dólar vai a R$ 5 e fecha no menor patamar desde junho de 2022: moeda deve seguir em baixa?

Após combo positivo na sessão com maior otimismo externo e IPCA abaixo do esperado, dados de inflação nos EUA de amanhã serão monitorados de perto

Equipe InfoMoney

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O dólar fechou em forte baixa e foi a R$ 5, após chegar a operar abaixo de R$ 5 pela primeira vez em dois meses durante a sessão desta terça-feira (11). Os investidores digeriram os dados de março do IPCA, enquanto aguardam uma importante leitura de inflação norte-americana a ser publicada na quarta, que pode oferecer pistas sobre a trajetória de política monetária do Federal Reserve. Redução de temores fiscais locais e cenário externo favorável a ativos de risco também formaram o combo positivo que favoreceu a moeda brasileira.

O dólar comercial fechou a sessão com recuo de 1,15%, a R$ 5,007 na compra e R$ 5,008 na venda, após uma mínima de R$ 4,990 nas primeiras negociações. Este é o menor valor de fechamento desde 10 de junho de 2022. A divisa já acumula baixa de 1,21% em abril e de 5,14% no acumulado de 2023.

O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) subiu 0,71% em março, abaixo do esperado, após alta de 0,84% no mês anterior, informou o IBGE nesta terça-feira.

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“Daqui para a frente, deveremos ver uma desaceleração acentuada no IPCA de bens industriais, enquanto o indicador de serviços permanecerá caindo em passos lentos. Para 2023, nossa projeção é que o indicador oficial de inflação do país termine o ano em 6%. Para 2024 nossa expectativa é que o IPCA desacelere lentamente e atinja 5%”, aponta Claudia Moreno, economista do C6 Bank.

Leonardo Santana, analista da Top Gain Research, destaca o dia de otimismo no mercado, com os investidores precificando um corte de juros pelo Banco Central após o IPCA. Isso aumenta a atratividade das ações e leva os investidores a buscarem pechinchas na Bolsa, o que pressiona o dólar para baixo com a entrada de capital.

Já segundo Luciano Rostagno, estrategista-chefe do banco Mizuho, esse movimento se deve a “notícias positivas vindas do novo arcabouço fiscal”, somadas a um “forte fluxo de entrada de recursos” pela conta comercial de dólares do país em meio à perspectiva de safras recordes.

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Na segunda-feira, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo já fechou pendências que faltavam ser definidas no novo arcabouço fiscal, e que técnicos vão redigir a proposta final da âncora com base nas decisões políticas tomadas. A regra, que impede que os gastos federais cresçam mais do que a arrecadação, foi, no geral, bem recebida pelos mercados financeiros.

Carry trade segue forte

Nas últimas sessões, analistas de mercado já haviam destacado a maior força das moedas emergentes em relação ao dólar, o que incluía a divisa brasileira. Isso por uma visão de que o Federal Reserve também deve diminuir o aperto monetário nos EUA – com isso, mesmo com a visão de corte de juros no Brasil mais rápida, operações visando ganhos com as taxas ainda altas por aqui ganham força.

Conforme destacou matéria da Bloomberg da véspera, sinais de que a economia dos Estados Unidos se desacelera e de que as taxas de juros globais estão perto do pico preparam terreno para investidores retomarem os chamados carry trades em emergentes – quando traders se financiam com moedas de baixo retorno no mundo rico para comprar aquelas de mercados que oferecem rendimentos mais altos, o que acarreta a sua valorização.

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Isso indica o fortalecimento das moedas de países como o Brasil, em que a taxa de câmbio já estava se aproximando da barreira psicológica de R$ 5 nos últimos dias. O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que economias em desenvolvimento, particularmente na Ásia, serão um destaque positivo mesmo com a desaceleração dos EUA: os ingredientes certos para a estratégia funcionar parecem finalmente estar de volta pela primeira vez em anos.

“Contra-intuitivamente, a onda de volatilidade do mercado financeiro de março pode ser apenas o ingresso para reacender os carry trades dos mercados emergentes”, disse Eimear Daly, estrategista de mercados emergentes do NatWest Markets, em Londres.

Um indicador da Bloomberg que acompanha o empréstimo de dólares e fundos alocados em cesta de moedas emergentes mostra retorno de quase 5% este ano, retomada após três anos de perdas para o nível mais alto desde 2021. Os retornos saltaram à frente de um índice de mercados desenvolvidos no mês passado, já que os temores de uma crise bancária – iniciada nos EUA – reforçaram as apostas de que o Federal Reserve está próximo do fim de seu ciclo de aperto monetário.

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Neste cenário, moedas de emergentes ganham atratividade, dentre elas as do México, Índia, República Tcheca e Polônia, além do Brasil. “A maioria dos países emergentes elevou as taxas significativamente, muitos começando antes do Fed e subindo mais, então muitos rendimentos de mercados emergentes são atraentes”, disse Rajeev De Mello, gestor global de portfólio macro da GAMA Asset Management, em Genebra.

“Nosso cenário-base é de uma recessão moderada nos EUA e um dólar limitado, o que deve apoiar o carry trade dos mercados emergentes”, disse Jon Harrison, diretor-gerente de estratégia macro para mercados emergentes da TS Lombard, em Londres. Os principais alvos para carry trades de mercados emergentes parecem ser o real e o peso mexicano, já que serão apoiados por bancos centrais proativos e taxas de juros reais relativamente altas, explicou.

Olhando para os próximos eventos importantes para o dólar, José Faria Jr., diretor técnico da Wagner Investimentos, destaca que na próxima quarta haverá eventos fundamentais de política monetária nos EUA, como o dado do CPI (inflação ao consumidor).

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“Se a inflação lá vier mais baixa [do que o esperado], podemos ver o dólar perder força no mundo. Entendemos que comprar dólares entre R$ 5,00 e R$ 5,10 é recomendável. Contudo, caso a cotação rompa e caia em direção a R$ 4,80, naturalmente que esta compra não terá sido boa, mas somente saberemos no futuro e, por outro lado, teremos a oportunidade de travar novas compras a preços mais baixos”, avalia o especialista.

O Citi disse em relatório desta terça-feira que é provável que os mercados globais operem em “modo de realização de lucros” antes dos dados de inflação dos EUA, mas reafirmou seu otimismo em relação a moedas latino americanas de alto retorno – o que inclui o real.

(com Reuters, Estadão Conteúdo e Bloomberg)