Por que as falas de Haddad não convenceram o mercado e geraram aversão ao risco para os ativos brasileiros

Ibovespa se descola do exterior e tem queda, enquanto dólar e juros sobem com preocupações fiscais voltando ao radar

Equipe InfoMoney

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O dólar passou a subir nesta segunda-feira (30) após comentários do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a perspectiva fiscal do país, enquanto o Ibovespa caía e os juros futuros tinham ganhos consistentes. Às 14h05 (horário de Brasília), o benchmark da Bolsa brasileira caía 0,54%, a 112.693 pontos, enquanto o dólar comercial avançava 0,7%, a R$ 5,048 na compra e na venda, após chegar a operar abaixo dos R$ 5 mais cedo.

Com isso, o movimento do mercado brasileiro é contrário às bolsas americanas, que estão em alta no pregão, embora com alguns índices com menos força.

Haddad disse nesta segunda-feira em coletiva de imprensa que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao afirmar na semana passada que será difícil atingir a meta de déficit fiscal zero no próximo ano, não está “sabotando o país”, mas apenas constatando problemas que precisam ser “reformados e saneados”.

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O ministro disse que fará “o que for preciso” para alcançar o equilíbrio fiscal, afirmando que anunciará medidas adicionais quando elas forem validadas por Lula – mas não respondeu a sucessivas perguntas sobre se a meta de déficit zero para 2024 será mantida, o que aumentou a aversão ao risco para os ativos brasileiros.

Haddad anunciou ainda que Lula decidiu indicar o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Paulo Picchetti e o servidor de carreira Rodrigo Alves Teixeira para ocuparem cargos de diretores do Banco Central a partir de 2024.

Hoje, as palavras do ministro da Fazenda não convenceram o mercado. “A entrevista do ministro pode ser dividida em duas partes: uma que agradou, ao anunciar os nomes dos novos diretores do Banco Central, dado que são nomes técnicos. Já a segunda parte, sobre a meta fiscal, é um assunto que veio para ficar, para o qual já havia incerteza, que foi ampliada”, avaliou o economista-chefe do BV, Roberto Padovani, ao Broadcast.

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Na sexta-feira, em conversa com jornalistas, Lula disse que a meta fiscal de 2024 não precisa ser zero e que o objetivo dificilmente será alcançado, já que o governo não pretende cortar investimentos para atingi-lo.

“A fala de Lula repercutiu mal com o mercado, que estava dando o benefício da dúvida para o governo, após meses de Haddad prometendo que a meta era crível e que se esforçaria para atingir o déficit nulo.
Usando as estimativas do boletim Focus, mesmo com o governo prometendo uma meta de déficit nulo em 2024, os analistas projetavam um déficit próximo a 1% do PIB. Com a visão do presidente de que um déficit de 0,25% ou 0,50% não é nada demais, o consenso deve passar para um déficit maior, em torno de 1,5%, em 2024. Mais do que isso, ficou uma impressão de ‘descrédito’ de Haddad, implicando que em uma situação de disputa entre as áreas política e econômica do governo, Lula se alinha mais à ala política, que deseja mais gastos para ancorar o crescimento”, aponta Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.

Com a fala de Lula na sexta-feira, o mercado passou a precificar um déficit primário maior em 2024, com uma meta cada vez menos crível. “Renascem os temores sobre o comprometimento do governo com o arcabouço fiscal, sendo essa, talvez, a parte mais crítica: se no 1º ano do arcabouço, o governo não vai realizar os sacrifícios para o cumprimento da meta, é baixa a probabilidade de que nos anos seguintes, especialmente em 2026 (ano-eleitoral), de que o arcabouço seja seguido”, avalia o economista. Na sequência, nesta segunda, Haddad não ajudou a tranquilizar o mercado.

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Para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, as falas de Haddad são negativas para trazer investimento para o país de estrangeiro, é ruim para o próprio investidor doméstico se sentir confortável a contrair dívidas do governo de empresas em períodos mais longos diante dessa incerteza que é apresentada, ou seja, de uma negação dos problemas muito grande.

“(A aversão a risco do) mercado acabou disparando… Segundo Haddad, o que está sendo dito foi que a reação de Lula foi aos problemas que estão havendo na arrecadação”, disse Márcio Riauba, gerente da mesa de operações da StoneX.

“Com isso a curva de juros futuros segue em alta, diante ainda de uma semana em que provavelmente a aversão a risco global deve imperar.”

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O contrato de juros futuros com vencimento em janeiro de 2024 tinha leve queda, a 12,076% ante 12,09% do fechamento anterior. Contudo, o de 2025 ia para 11,13% (ante o fechamento anterior de 10,99%), o para 2027 avançava para 11,20% (ante 10,97% de sexta) e o de 2029 ia para 11,60% (ante fechamento anterior de 11,37%).

(com Reuters e Estadão Conteúdo)