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Ibovespa fecha em queda de 2,25%, seguindo EUA e com cautela doméstica por PEC; dólar sobe 1,30%

Dados que mostram economia americana ainda forte reforçam temores de que Federal Reserve pode manter aperto por mais tempo

Vitor Azevedo

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O Ibovespa fechou em queda de 2,25% nesta segunda-feira (5), aos 109.401 pontos, dia marcado por um baixo volume de negociações, de R$ 22,80 bilhões, por conta do jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo contra a Coreia do Sul.

Se os torcedores encerraram a tarde felizes com a vitória da seleção brasileira por 4 a 1, boa parte dos investidores não se sentiu da mesma forma – apesar de outro país do Ásia, a China, ter trazido boas notícias para as companhias brasileiras que exportam commodities.

O gigante asiático anunciou durante o final de semana uma série de relaxamentos quanto às suas políticas anti-Covid, o que ajudou a puxar o preço dos produtos não manufaturados para cima. O minério de ferro negociado na Bolsa de Dalian, por exemplo, avançou 2,45%, a US$ 114,42 a tonelada.

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Os papéis preferenciais série B da Usiminas (USIM5) foram uma das poucas altas do Ibovespa, com mais 1,07%. As ações ordinárias da Suzano (SUZB3) e unitárias da Klabin (KLBN11), do setor de celulose, avançaram 2,20% pelo mesmo motivo.

O petróleo também abriu o dia em alta, por conta da China e de sinalizações de corte de produção pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo e aliados (Opep+). Contudo, o noticiário econômico dos EUA durante o dia puxou o preço dessa commodity para baixo e o barril Brent fechou em queda de 2,99%, a US$ 83,02.

Investidores, após a publicação de dados econômicos dos Estados Unidos, reforçaram o temor de que autoridades monetárias da maior economia do mundo podem permanecer em uma direção mais cautelosa quanto à inflação local.

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“O viés vendedor do Ibovespa nesta segunda é devido, em grande parte, à abertura da curva de juros. Isso se deu pelo tom negativo em Nova York, após o ISM de novembro vir acima do esperado, reforçando que a economia americana está mais aquecida do que o esperado, o que pode contribuir para que o Federal Reserve mantenha um tom hawkish, ou seja, de aperto monetário, em suas próximas reuniões”, explica Cássio Bambirra, líder de renda variável da One Investimentos.

O índice em questão, de gerentes de compras medido pelo Institute for Supply Management (ISM), teve leitura de 56,6 no penúltimo mês do ano, contra consenso de 53,3.

“O mercado continuou o movimento da última sexta-feira, quando Payroll veio acima do esperado. Esses índices, mostrando uma economia americana aquecida, podem fazer que o Federal Reserve seja mais duro. Isso impacta não só a Bolsa americana, mas como também a nossa”, diz Anderson Meneses, CEO & Fundador da Alkin Research.

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A curva de juros americana fechou, por isso, em alta considerável. Os títulos do tesouro com vencimento em dez anos fecharam negociados a uma taxa de 3,59%, com alta de 8,7 pontos-base, e os para dois anos a 4,402%, com mais 12,2 pontos. Os índices de ações Dow Jones, S&P 500 e Nasdaq caíram, respectivamente, 1,40%, 1,79% e 1,93%.

No Brasil, a curva de juros foi no mesmo sentido. Os DIs para 2024 ganharam 16 pontos-base, a 13,98%, e os para 2025, 18,5 pontos, a 12,72%. Os contratos para 2027 foram a 12,72%, com mais 23,5 pontos, e os para 2029 a 12,72%, ganhando 25 pontos. Os DIs para 2031, por fim, ficaram em 12,70%, com mais 24 pontos.

Além da pressão externa, o Ibovespa e a curva de juros brasileira responderam também ao noticiário político local, com lideranças políticas sinalizando que o Congresso pode ter chegado a um consenso quanto à PEC de Transição, chamada também de “PEC do Estouro”.

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“Internamente os temores se ampliaram após noticiário sobre a PEC da Transição informando maior chance de aprovação do texto com validade de dois anos, fora do teto próximo dos R$ 200 bilhões”, contextualiza Alexsandro Nishimura, economista e sócio da BRA BS. “Houve pressão também pelas revisões de expectativas para inflação brasileira e para a Selic [taxa básica de juros] no próximo ano, com investidores ainda em busca de sinalizações do Comitê de Política Monetária [Copom], que se reúne amanhã e quarta”.

O relator-geral do Orçamento de 2023, Marcelo Castro (MDB-PI), afirmou nesta segunda que lideranças do Senado e da Câmara acertaram pela manhã que o texto da PEC terá vigência por dois anos, mas manterá o valor original proposto, que poderá abrir uma exceção no teto de gastos de até R$ 198 bilhões. A proposta original previa um prazo de 4 anos para essa exceção. No mercado, porém, havia expectativa também de redução no montante.

O dólar, por conta do temor com a economia americana, ganhou força mundialmente. O DXY, que mede a força da divisa frente a outras de países desenvolvidos, subiu 0,75%, aos 105,33 pontos. Frente ao real, no entanto, a alta foi mais acentuada, de 1,30%, por conta do cenário interno e a moeda fechou negociada a R$ 5,282 na compra e a R$ 5,283 na venda.

Entre as principais quedas do Ibovespa, sofrendo por conta da alta dos juros, ficaram companhias ligadas ao mercado interno. As ações ordinárias da Positivo (POSI3) perderam 11,50%, as da Qualicorp (QUAL3), 9,74%, e as da Totvs (TOTS3), 8,01%.